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REMAR EM OUTRAS ÁGUAS…

Da esquerda para a direita: Antônio Schuster, Wagner Rauber, Oguener Tissot (In memorian) e Moacir Rauber

Remando em outras águas…

A equipe estava composta por quatro pessoas e a proposta era remar 220km em seis dias na Lagoa dos Patos-RS. Tudo estava meticulosamente planejado, como o percurso, o tempo, a alimentação, as paradas e os recursos necessários. Somente faltou combinar com o “imponderável” (Seu Antônio). Ao final do primeiro dia, todo o planejado havia ido por água abaixo. O horário para finalizar a jornada deveria ser às 18h e já passavam das 22h sem concluir. A remada deveria ser desafiante sem ser dolorosa, porém agora estavam todos próximos da exaustão. Na escuridão da noite na lagoa o cansaço pedia passagem, levando-nos quase ao desespero. As águas internas se agitavam na ansiedade, no medo e no desassossego de cada um. Entretanto, um entre nós, que era técnico de remo olímpico, manteve o espírito elevado com a sua capacidade de extrair o melhor de cada atleta. As águas internas dos companheiros podiam estar agitadas, mas ele refletia a calma, o equilíbrio e a serenidade. Quando ele sentia que o clima ficava pesado com o silêncio reinando entre os integrantes da equipe, falava algo que nos animava. Num momento, ele disse:

– Falta menos!!!

Com isso, voltávamos a remar com a confiança de cumprir com a meta do dia.

Quem era o técnico de remo olímpico de que falo? Meu amigo Oguener Tissot que, lamentavelmente, foi remar em outras águas no acidente ocorrido no dia 20-10-24 na serra do Paraná. O que é o remo olímpico? É uma modalidade de velocidade que usa embarcações estreitas e leves em que cada atleta rema de costas. O atleta vê de onde veio, porém não sabe para onde está indo, analogamente à vida. No remo, realiza-se um movimento perfeito em que se trabalham todos os grupamentos musculares do corpo simetricamente, sendo mais efetivo em águas calmas.

O meu amigo técnico havia desenvolvido a capacidade de ensinar os seus alunos e atletas praticantes de remo, aclarando-os sobre as regras, os princípios e os valores da modalidade. Assim, ele sabia conduzir e preparar fisicamente cada um dos integrantes de sua escola, entre jovens, adultos e pessoas da terceira idade. Ele organizava, acompanhava e supervisionava todas as atividades propostas para os treinamentos, independentemente do objetivo. Para alguns o objetivo eram as competições, para outros o lazer e para outros mais podia ser o condicionamento físico. Sobretudo, o meu amigo ensinava os valores da lealdade e da amizade, muito mais do que a busca por resultados num campeonato local, estadual, nacional ou internacional de remo. E considere-se que ele foi a pessoa que mais atletas competitivos promoveu na história recente do esporte no Brasil. Porém, o mais importante que ele fazia era resgatar o melhor de cada um a partir de dentro de si mesmo. As águas do rio, da lagoa ou do mar podiam estar agitadas, mas ele conseguia transmitir a calma, a serenidade e o equilíbrio a partir de sua força emocional. Ele havia se especializado em acalmar as águas emocionais de seus atletas e comandados.

Voltando ao nosso desafio de remar os 220km na Lagoa dos Patos, nós o cumprimos mudando o planejado em conformidade com a realidade. Ressalte-se que naquele momento de exaustão, cansaço e quase desespero relatado no início, o meu amigo era um atleta como todos nós. Por isso, certamente ele também estava cansado. Entretanto, ele conseguia encontrar forças para se manter calmo, sereno e equilibrado para incentivar aos demais como o técnico que foi. Porém, muito mais do que isso, ele era um amigo especializado na lealdade, na confiança, na paz e na serenidade com que viveu a sua vida. Sim, ele foi chamado para remar em outras águas onde vai seguir sua jornada de levar a calma, o equilíbrio e a serenidade que sempre promoveu na sua curta jornada aqui na terra.

Fique em Paz, meu Amigo!

Moacir Rauber

Instagram: @mjrauber

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In Memorian: Oguener Tissot

E SE FOSSEM AS TUAS ÚLTIMAS PALAVRAS?

Fonte: IA BING

E se fossem as últimas palavras 2?

A irmã mais velha e o irmão de oito anos estavam no trem rumo ao campo de concentração de Auschwitz. Estavam assustados e sozinhos, porque os pais haviam desaparecido e, provavelmente, não estavam mais vivos. O vagão estava abarrotado de gente e, ainda assim, o frio era tremendo. A irmã olhou para o seu irmão e viu que ele estava descalço. Ela se irritou:

– Como pode ser tão burro, será que você não consegue fazer nada direito? Onde estão os teus sapatos?

E seguiu criticando, culpando e acusando o irmão por ter perdido os sapatos.

Essa foi a história contada por Benjamin Zander na palestra “O poder da transformação da música clássica” (https://encurtador.com.br/OIA8H) sobre liderança, exemplificando que os maestros conduzem e dirigem os componentes da orquestra sem dizer nenhuma palavra. Com palavras e sem palavras se pode criticar, culpar e acusar, assim é possível incentivar e desanimar; estimular e desmotivar; afetar com ou sem afeto. Depende da intenção. Desse modo, entende-se que quando nos deparamos com uma situação, ela é um estímulo para os nossos pensamentos e emoções. A boa notícia é que os sentimentos, as intenções e as ações são resultados da nossa escolha.

Entretanto, a nossa conduta frente aos estímulos a que somos expostos, muitas vezes, nos leva a criticar a nós mesmos, aos outros ou a situação, com isso culpamo-nos, culpamos o outro ou a situação por meio da auto acusação, da acusação ao outro ou da situação. Nesse cenário, seguimos um caminho de violência interna que se revela na forma como nos comunicamos com palavras, gestos e comportamentos no ambiente externo. Por fim a pergunta: o que fazer frente a estímulos que nos levam a dizer palavras, a fazer gestos e a adotar comportamentos, por vezes, violentos? E se fossem as últimas palavras, gestos e comportamentos?

Frente a essas perguntas, a Inteligência Positiva (Shirzad Chamine) nos convida a conhecer os nossos sabotadores internos liderados pelo crítico, para resgatar o sábio que está dentro de nós. Para isso, inicialmente faça uma pausa para se conectar com a realidade e se indagar: o que é fato aqui? Uma simples parada muda tudo, porque ela nos permite tomar consciência da diferença entre o que é fato e aquilo que é a interpretação dele (Passo 1 da Comunicação Não-Violenta de Rosenberg). Esse momento, fará com que se possa observar sem julgar para entender a emoção e mudar os pensamentos para escolher os sentimentos. A pausa nos permite identificar as necessidades que podem ser expressadas de forma trágica e violenta, com palavras, gestos ou comportamentos ao criticar a si mesmo, o outro ou a situação. Qual era a situação da irmã com o seu irmãozinho no caminho do campo de concentração?

A situação vivida pelos irmãos exigia que cada um dos poucos recursos disponíveis fosse preservado, porque não haveriam outros. Por isso, a reprimenda da irmã revelava as emoções que se transformaram em sentimentos que ela não conseguiu evitar, como o medo pela necessidade de segurança não atendida. Assim, os sabotadores sequestraram a sabedoria da garota e ela se expressou com violência. Ao contar a história, o maestro Benjamin Zander relembrou que a irmã conseguiu sair com vida dos campos de concentração de Auschwitz, porém o irmãozinho não. E aquela bronca foram suas últimas palavras ao irmão o que fez com que ela tomasse a decisão, “Eu nunca mais vou falar algo que não poderiam ser minhas últimas palavras”. É possível? Provavelmente não, porém com os recursos oferecidos pela Inteligência Positiva e pela Comunicação Não-Violenta é uma busca a ser vivida.

Respeitando as diferenças, no nosso dia a dia como líder, liderado, professor ou aprendiz, cabe a nós escolher as palavras, os gestos e os comportamentos como se fossem os últimos, porque um dia eles serão. Pode ser clichê, mas é real.

Finalmente, as palavras, os gestos e os comportamentos afetam o mundo, fazê-lo com afeto é a escolha de cada um!

Da esquerda para a direita: Wagner Rauber, Moacir Rauber e Oguener Tissot – De Boa na Lagoa remando por 220km (Janeiro de 2013),

O texto foi escrito para ser publicado no sábado (19-10-24), mas por alguma razão simplesmente esqueci. Hoje, num dia muito triste, publico em homenagem ao meu amigo Oguener Tissot que deixou lindas palavras para todas as pessoas com as quais compartilhou parte de sua breve vida.

Vai em paz, meu amigo, um dia nos encontraremos!

Moacir Rauber

Moacir Rauber

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