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AS MÁSCARAS QUE USO…

As máscaras que uso…

Ao escutar a frase “A distância mais longa entre a cabeça e o coração” de Thomas Merton tive a sensação de que ela fora escrita para mim. Na sequência a conferencista falou das limitações que temos, destacando a visibilidade das deficiências físicas. No meu caso, sou usuário de cadeira de rodas, uma deficiência que não posso ocultar, entretanto, percebi que essa não é a única das deficiências. Quais seriam as outras deficiências não visíveis?

Algumas perguntas nos acompanham em todos os tempos: de onde vim? Para onde vou, se é que vou? Quem sou? O que me faz feliz? Esta última é destaque, principalmente porque se vive num momento em que, supostamente, cada um pode ser aquilo que quiser. A infinidade de alternativas faz com que muitos não saibam quem são e terminam por usar máscaras para encobrir os seus medos e a sua fragilidade. Onde estão as máscaras?

Um intelectual fala da felicidade com o olhar da ciência, assim como fala de sua origem a partir do big bang. O intelectual pode ser representado por teóricos, palestrantes, psicólogos, filósofos ou outros que desempenham um papel que usa somente a razão para explicar o mundo em que vivemos. A máscara da intelectualidade pode ocultar uma deficiência. Existe igualmente a máscara do profissional qualificado que se oculta em profissões como engenheiros, advogados, médicos, entre outras, com a crença de que não necessita de ninguém para seguir em frente. Há ainda as máscaras dos empreendedores que acreditam que podem comprar o mundo. Porém, ao serem indagados para onde vão, intelectuais, profissionais e empreendedores se movem nervosos em suas cadeiras e revelam um pouco de sua humanidade, o medo. Cada máscara é uma prótese e por trás delas se ocultam as suas deficiências.

A frase citada sobre a longa distância entre a cabeça e o coração me trouxe a consciência que carrego deficiências não visíveis aos olhos. Em algum tempo, com a máscara do empreendedor, buscava fazer de cada relação um negócio lucrativo, financeiramente. A deficiência se revelava nas relações por interesse e no medo de não ser aceito no meio em que circulava. Em outro tempo, usei a máscara do profissional competitivo que tinha como busca incessante a autonomia de viver de maneira independente. A deficiência estava na competição com o outro (impossível) e no medo do abandono. Enfim, a fase mais recente, e ainda presente, é a máscara da intelectualidade em que se acredita que todas as respostas vêm da razão. Nesse momento, escutar a frase de Thomas Merton em que se toma consciência de que aquilo que não seja feito pelo coração não traz felicidade me arrancou uma máscara. Usando a cabeça tive que reconhecer a profundidade dessa frase, porque é essencial que o conhecimento criado pela intelectualidade; a competência exibida pelos profissionais qualificados; e os recursos produzidos pelos donos de empresas saiam da cabeça e cheguem ao coração para afetar de maneira a transformar o mundo num lugar melhor. Só assim para encontrar com a felicidade. Por isso, entendo que quem se aproxima da espiritualidade consegue encurtar essa distância.

Enfim, parece-me que a cabeça está mais próxima da ciência que se preocupa com a morte. A morte se conecta com angústia que gera medo. O medo separa, a separação é violência. Do outro lado, o coração se aproxima da espiritualidade que se ocupa da vida. A vida é consolo que gera paz. A paz une, a união acolhe. Enfim, como sempre as pessoas buscam a felicidade. Cabe destacar que é fácil observar que a felicidade está mais próxima daquelas que estão na trilha do coração. Entendo que a ciência, a cabeça, tem o papel de esclarecer fenômenos, criar tecnologias que contribuam nas relações das pessoas e gerar conhecimentos que melhorem a qualidade de vida. Porém, fica evidente que é a espiritualidade, o coração, que está o caminho mais próximo da felicidade. A cabeça pensa, é razão. O coração sente, é emoção. Caem as máscaras!

Onde pode estar a felicidade?

Moacir Rauber

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