Em outubro conversei com um amigo que estava muito atarefado. Dizia-me ele:
– Não vejo a hora de que chegue o final de ano para tirar umas férias. O ano está sendo muito, muito movimentado. Só espero aguentar até lá sem sofrer um infarto… e deu uma risada para disfarçar a real preocupação.
Não aguentou. Ele infartou antes. Para o bem do meu amigo ele teve mais uma chance. O infarto foi grave, porém não deixou sequelas visíveis. Certamente ele passará por todo um programa de reeducação alimentar, física e readequação de períodos de trabalho.
A situação me chamou a atenção porque ele tanto queria chegar bem até o final de ano para curtir as férias que esqueceu de fazer as pausas necessárias para se manter em movimento. Por isso, agora ele está de férias forçadas, porque não encontrou o equilíbrio entre pausa e movimento.
O movimento é importante, porém é a pausa que lhe dá sentido.
Como assim? Muito simples. Aqueles que nunca param sequer percebem que estão em movimento, porque é a pausa que nos dá a sua percepção. A agitação dos dias atuais nos produz a sensação de que parar é impossível. Um compromisso se sucede ao outro, porém, sem pausa não há assimilação. Um curso terminado é sinal que de que outro será iniciado, da mesma forma, sem pausa não há consolidação do que foi estudado. Uma informação recebida é tão fugaz que sequer é internalizada que outra já está sendo enviada, entretanto, sem pausa não há transformação da informação em conhecimento. Uma nova tecnologia recém foi introduzida para em seguida ser substituída e assim os dias seguem numa velocidade que sequer se consegue perceber que o recém iniciado novo ano novamente está chegando ao final. Como parar num movimento tão intenso? O que fazer em meio a um ritmo tão alucinante para dar uma pausa? Não há uma resposta, mas se pode fazer uma analogia com algumas atividades humanas. Há que se encontrar um ritmo.
O ritmo é um processo que permite que se tenha bom desempenho nas mais diferentes áreas, como nos esportes, na música e na vida.
O atleta de alto rendimento sabe que para iniciar e terminar a sua prova ele terá que encontrar um ritmo adequado que permita que ele cumpra o percurso da prova dentro dos limites físicos, psicológicos e técnicos de que ele dispõe. Caso o atleta tenha uma prova de mil metros para percorrer ele não pode gastar toda a sua energia nos cem primeiros metros, porque ele não chegará ao final. O ritmo vai dar a ele a possibilidade de distribuir a energia em todo o percurso. Na música o ritmo á ainda mais fundamental. Basta qualquer um dos componentes sair do ritmo para atravessar o samba. E na vida o ritmo é essencial. Nós temos a informação de quando nascemos, mas não sabemos até quando vamos viver. Entretanto, aquelas pessoas que não conseguem encontrar um ritmo adequado têm grandes possibilidades de antecipar a partida. Por isso, a importância de se encontrar um ritmo que nos permita viver bem, marcado por pausa e movimento. Pergunta-se: é importante se mover nas competições, na música e na vida? Sim, é claro que sim, mas…
…a pausa é fundamental para que o ritmo seja encontrado para que o atleta termine a prova, para que o músico execute bem a música e para que cada um de nós estenda a sua vida até o limite.
Para muitos, o final de ano é sinal de uma pausa, porém é importante determinar o ritmo que vai permitir que se chegue e que se perceba o final do próximo ano. Por isso a pergunta: qual será o seu ritmo para 2019?
Moacir Rauber
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