Na última semana recebi a visita de um amigo meu de Florianópolis, o Marquinhos, também cadeirante. Até Pelotas são mais de 700km, que ele fez sozinho em seu carro. Por aqui fizemos vários passeios na cidade e na região. Em uma de nossas saídas fomos até a Praia do Cassino. O dia estava lindo, céu azul e a praia praticamente deserta. Um ou outro pescador na areia quebrava a monotonia do infindável vaivém das ondas. Andamos de carro na areia dura da praia para observar os molhes e depois percorrer quilômetros até o antigo navio encalhado. Linda a paisagem!
Mas estranhamente o que marcou a visita foi uma experiência inusitada, principalmente para quem é da área de gestão, além da comédia que a antecedeu. Não foi nada relacionado com grandes oportunidades de negócios que todo forasteiro vê em terras alheias, como um hotel diferenciado ou um restaurante exótico para uma praia tão linda. Mas teve a ver com um restaurante. Inicialmente, foi difícil encontrar um que estivesse aberto, pois era baixa temporada. Logo, quando encontramos um foi um burburinho só. Manobrei para estacionar o carro bem próximo ao meio-fio, facilitando a saída do Marquinhos para a cadeira de rodas. Em seguida, comecei a montar a minha cadeira. Neste momento alguns curiosos já se aproximaram para ver o que estava acontecendo. Certamente, mentalmente, devem ter criticado o meu amigo por ele não descer do carro para me ajudar. Depois, fui até a traseira do carro e retirei dali a cadeira do meu amigo. O número de curiosos aumentou, podendo se ouvir a voz surda dos comentários murmurados entre os espectadores. Ele saiu do carro e fomos até a porta do restaurante. Algumas perguntas, conversa e muita curiosidade por parte do grupo de curiosos. Um deles se acercou e perguntou ao Marquinhos: “Foi acidente?”, recebendo a concordância como resposta. Na sequência fez uma dedução lógica muito engraçada: “Vocês se acidentaram juntos?” obtendo mais uma vez a concordância do Marquinhos que acrescentou: “Ele estava dirigindo!”, apontando em minha direção. O seu interlocutor exclamou: “Mas é um cara-de-pau!”, numa clara demonstração de irritação com a situação. Como não sabia sobre o que conversavam dirigi-me a porta do restaurante, onde havia um degrau. Prontamente recebemos a ajuda do proprietário, assistidos pelo grupo, que se desfez assim que entramos.
O serviço do restaurante era de buffet livre. Nós nos servimos e nos dirigimos para uma mesa. A garçonete, que devia ser filha do dono, aproximou-se de nossa mesa, perguntando se queríamos beber algo. Dissemos que sim e o Marquinhos perguntou-lhe que tipo de cerveja ela tinha. Nós escolhemos uma e ficamos esperando. Percebemos que a garçonete se movimentava de um lado ao outro atrás do balcão. Saiu, passou por nós com uma garrafa de cerveja na mão. Foi até o proprietário. Retornou com a garrafa ainda na mão e uma expressão de choro no rosto. Ouvimos o barulho de gavetas e de talheres. Passaram-se mais alguns minutos e a garçonete se aproximou da mesa dizendo: Desculpe-me, eu não encontro o abridor de garrafas. Não consigo abrir a cerveja…” Nós nos entreolhamos e rimos. Depois eu disse: “Então traga-nos um refrigerante. Em lata, por favor!”.
E a sua empresa mantém o abridor de garrafas sempre à mão?