Moacir Rauber
A criação de uma ONG – Organização Não-Governamental precisa de um grupo de pessoas para a sua formação e ter como objetivo o desenvolvimento de atividades de interesse público. Uma iniciativa louvável, que foi vista pelo Estado como um possível solucionador de problemas coletivos pela própria coletividade. Assim, surgiram inúmeras ONGs nas mais diversas áreas propondo-se a resolver demandas da sociedade, desde os problemas de uma comunidade, passando por questões ambientais, direitos das minorias, combate a fome, até problemas de garantias dos direitos humanos. Tudo muito justo e muito bonito!
Nessa mesma linha de raciocínio muitas pessoas têm iniciativas individuais, aplicando parte dos seus proventos diretamente em questões nas quais eles acreditam poder contribuir. Alguns abatem parte dessa contribuição do Imposto de Renda, mas outros, literalmente, doam daquilo que ganham. Este último é o melhor exemplo de um Indivíduo Não-Governamental preocupado em resolver os problemas que afetam outras pessoas diretamente, mas que podem atingi-lo por outras vias.
Entretanto, o ser humano tem uma criatividade para além da imaginação comum. Muitas ONGs passaram a ser governamentais, pois dependem e somente existem com recursos oriundos da esfera pública. Até aí ainda muitas são aceitáveis. O problema se apresenta quando as ONGs somente o são no papel. Um sujeito com uma visão deturpada e oportunista convida outros para criarem uma ONG. Cumprem com toda a rotina burocrática, escrevem um projeto para resolver uma demanda social e se propõem a captar os recursos. Com a colaboração de algum contato conseguem aprová-lo, para em seguida receber os recursos. Aplicam uma parte ínfima dos recursos no objetivo a que se propuseram inicialmente e o restante é distribuído entre os integrantes como salários, horas técnicas, assessoria e é direcionado para empresas que eles próprios são os donos. Ao se referirem as ONGs que eles criaram e coordenam falam em alto e bom som, A minha ONG!”, referindo-se a ela como propriedade e não como a uma organização para quem eles prestariam serviços. As próprias matérias jornalísticas, seja na televisão ou outro meio, referem-se aos diretores das ONGs como, “O Senhor Fulano, dono da ONG tal…” e nem sequer se dão conta do quanto está desvirtuda a situação. Do absurdo que dizem e escrevem! Uma ONG não pode ter dono. Uma ONG deveria ser não governamental sempre, desde as pessoas e os recursos. Uma ONG deveria servir os interesses da coletividade e não de indivíduos que as transformaram em INGs, mas altamente governamentais. Isso porque vivem e enriquecem com recursos públicos que deveriam atender a uma demanda pública.
Você conhece alguma ONG que se transformou em ING e somente atende interesses individuais?