Onde está o quadrado?


Assistir ao filme “Os Estagiários” com imagens do ambiente de trabalho no Google nos permite várias associações, principalmente sobre a área comportamental. Trata-se de uma comédia em que dois quarentões da área de vendas ficam desempregados e se candidatam para integrar o programa de estagiários do Google, sendo surpreendentemente chamados. Com pouco conhecimento na área de tecnologia os dois são incluídos numa equipe de excluídos para a disputa das vagas efetivas na organização. Uma legião de candidatos. Poucas vagas. Tarefas em ritmo de competição deveriam ser cumpridas. A equipe com melhor desempenho ficaria com as vagas. Eles quase são alijados do processo ao sofrer na pele uma espécie de bullying  por parte dos jovens nerds que participam do processo. Felizmente, os quarentões conseguem se manter no grupo. Isso ocorre ao demonstrarem inteligência emocional suficiente para que algumas lições de colaboração e cooperação sejam apreendidas pelos mais jovens, sobrepondo-se ao simples domínio da técnica decorrente direta do QI.

A empresa Google é considerada por muitos como o melhor lugar para se trabalhar. Trata-se de uma das maiores empresas globais do setor tecnológico, que há 20 anos sequer existia. Ela é responsável, em grande parte, por redesenhar como nós nos relacionamos com a internet. A empresa também alterou a experiência no ambiente de trabalho, criando uma cultura organizacional diferente. Trabalha-se num ambiente corporativo descolado com liberdade para se vestir da forma como quiser, brincar ou praticar esportes. Pode-se inclusive comer sempre que se quiser sem nunca pagar diretamente por isso. Temos a impressão de que se está diante de algo totalmente diferente. A empresa, aparentemente, representa aquilo que se propõe quando se fala em pensar fora do quadrado, uma quase unanimidade nos programas de formação profissional e nas exigências para uma nova colocação no mercado de trabalho. Naquele ambiente estimula-se a criatividade, a inovação e a tecnologia, sendo elas palavras de ordem na busca pelo colaborador mais competente. Desse modo, o candidato que chega ao final de um processo seletivo tão disputado leva o contratante a acreditar que o sujeito sentado a sua frente seja alguém que pensa diferente. Eis o novo quadrado.

Pergunto: se todos estão buscando ser diferentes e pensar fora do quadrado então não seria realmente diferente aquele que assim não é?

É uma contradição. Exigir que todos pensem fora do quadrado concorre com frases como “a verdade absoluta não existe”, que se coloca como uma verdade absoluta. “Não deixe o seu relacionamento cair na rotina”, que termina por ser a rotina de não se ter rotina. Por isso, a mudança em tempos de mudança pode ser não fazer nada. Da mesma forma, pensar como sempre se pensava em tempos em que todos querem pensar diferente pode ser a diferença. Porque se todos estão preocupados em ser diferentes aquele que simplesmente agir como ele realmente é já será diferente o suficiente para não estar no quadrado.

Viajei?


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