Habilidade é algo que se desenvolve…

O futebol sempre foi o meu esporte favorito. Tem alguma magia nele que não encontro nos outros esportes. É um esporte coletivo, estratégico, inteligente e justo. Por que justo? Mesmo não sendo um esporte inclusivo, o futebol é um dos poucos esportes em que você pode se destacar tendo um metro e sessenta ou dois metros de altura. Outros esportes, também com grande apelo na mídia como o basquete e o voleibol, não têm essa possibilidade. Hoje ainda gosto de assistir a um bom jogo de futebol. Analisar as opções inteligentes feitas pelos jogadores, muitas vezes, não inteligentes. As jogadas não inteligentes feitas por jogadores considerados inteligentes. Como explicar? Para mim é mágico. 

Antes de estar numa cadeira de rodas, gostava muito mais de jogar do que de assistir futebol e desde muito pequeno já me destacava pela habilidade com a bola. No seminário aprimorei muito as minhas habilidades, uma vez que praticávamos o esporte todos os dias e, em alguns deles, tínhamos um treinador. Dele ficou uma lição: habilidade é algo que se desenvolve. Como assim? Lembro-me de um dia em que o treinador reuniu os vinte e dois jogadores no meio do campo para a preleção antes do treino. Jogadores? Um bando de meninos entre onze e dezesseis anos, todos ávidos para começar a correr atrás da bola. Aquelas histórias, conselhos e jogadas que o treinador pretendia nos passar eram consideradas coisas chatas. Mas naquele dia foi diferente. Ele fez algumas perguntas: 

– Quem aqui chuta com o pé direito? Quase todos ergueram a mão. 

– Quem aqui chuta com o pé esquerdo? Aqueles poucos que não haviam erguido a mão antes, a ergueram agora. 

– Quem aqui chuta bem com os dois pés? Ninguém se manifestou. 

O treinador nos olhou e disse, Aquele que souber chutar com os dois pés tem muito mais chances de ser bom jogador… continuou destacando as vantagens de se ter a habilidade nos dois pés e concluiu, Hoje somente vão valer os passes e os gols dados com o pé que vocês têm menos habilidade. Foi uma chiadeira geral. Começamos e terminamos o jogo sem gols. Foi um jogo horrível. Todos criticavam o treinador. Mas naquele dia aprendi uma lição, habilidade é algo que se desenvolve. Desde então comecei a praticar com os dois pés. As primeiras semanas os meus colegas brigavam comigo porque eu estava jogando muito mal. Não era como antes. Mas eu insisti. Passaram-se semanas, meses e alguns anos depois eu havia desenvolvido a habilidade para arrematar com os dois pés. 

Hoje não chuto mais, mas ficou a lição!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.