Onde estão os ladrões?

Uma das grandes chatices do supermercado é enfrentar a fila ao final das compras, embora não seja assim para todo o mundo. Alguns brasileiros levam vantagem e não estou falando das pessoas com deficiência e dos idosos que têm atendimento prioritário. Estou falando dos espertos.

Naquele dia que antecedia o feriado o movimento estava acima da média e as filas nos caixas eram enormes. O meu amigo encostou o seu carrinho cheio de compras numa das filas. À sua frente viu um garoto que tinha lá seus dez anos. No seu carrinho tinha somente alguns produtos. Pareceu-lhe estranho, mas um pouco depois ele entendeu. De repente apareceu um homem com outro carrinho e descarregou todos os seus produtos dentro do carrinho do menino.

O mesmo homem ainda disse:

– Filho, fica aí mais um pouco. Vou pegar a carne e já volto. Acho que dá tempo.

O filho sorriu feliz porque estava ajudando o seu pai, que, provavelmente, naquela idade ainda era o seu herói.

O meu amigo ao contar a história mostrava a sua indignação, que logo contou com a minha. Ele ficou revoltado com a situação, entretanto se omitiu de conversar com o sujeito a sua frente. Falávamos justamente sobre a corrupção endêmica em nosso país e como era possível que tudo fosse feito de maneira escancarada sem que tivéssemos uma perspectiva de mudança no curto, médio ou longo prazo. Uma parte da resposta pode ser representada no comportamento da história acima relatada. Qual o modelo que aquele menino vai replicar? Lembro-me de ter afirmado que sem que haja a consciência de que se comete um roubo não há roubo. Na avaliação daquele pai não há nada de errado em usar o filho para guardar o seu lugar na fila para que eles levem vantagem sobre os outros para poder sair mais rapidamente do mercado. Está tudo certo para o pai e mais certo ainda para o filho que vai replicar esse modelo de comportamento.

Quando nós escolhemos adotar esse tipo de comportamento não há nada a reclamar de gestores que desviam milhões dos cofres públicos. Acredito que também eles usem um mecanismo interno similar para justificar as falcatruas e desvios de recursos públicos. Eles, os gestores, sabem que estão fazendo algo que não é certo ao oferecer e receber propinas, assim como aquele pai também sabe que não está sendo correto ao orientar o seu filho para tomar o lugar de outro na fila. Basta conversar com um gestor público envolvido em qualquer falcatrua sobre as falcatruas cometidas por outros para ver a sua indignação. Bastaria observar a reação daquele pai se alguém fizesse o mesmo que ele fez bem na sua frente. Em ambos os casos tenho a certeza que se veria a indignação, porém falta tomar a consciência que isso é roubo também quando eu o faço. Normalmente somente apontamos o dedo para a falha dos outros, enquanto as nossas falhas nos parecem justificáveis.

Por isso, pergunto: onde estão os ladrões? Eles estão em todos os lugares em que as pessoas não respeitam as regras estabelecidas como sociedade. Podemos mudá-las? Devemos mudar as regras, modificar os comportamentos e evoluir como seres humanos, mas isso deve ser feito em conformidade com o princípio de respeitar ao outro e a si mesmo. Porque o ladrão também estava na fila quando o meu amigo se omitiu de conversar com aquele pai a sua frente. A omissão também é um roubo.

Fica o convite para o Workshop de Autoconhecimento Reencontro com o AFETO: o despertar da unidade. Eu AFETO o mundo. O mundo me AFETA. Com AFETO o mundo será melhor. Clique aqui!

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.