Outro dia participei de um evento que reunia pais e filhos. Eram mais ou menos umas quatrocentas pessoas. Em algumas atividades nas quais solicitava a presença de um voluntário as crianças logo estavam dispostas a participar. É a espontaneidade em seu estado natural. Além disso, houve um momento que foi muito especial. Pedi a participação de um voluntário. Não tive tempo para identificar quem chegou primeiro, porque muito rapidamente dois meninos de mais ou menos oito anos estava junto a mim. Fiz a atividade com ambos e ao finalizar estava diante de um impasse:
– O que vamos fazer? Vocês estão em dois e eu somente tenho um presente para entregar. É um livro. Não dá para dividir…
Silêncio na plateia. Silêncio entre os dois meninos. Entretanto, logo um deles propôs:
– Quem sabe um fica com o livro primeiro para ler. Depois entrega para o outro ler ele também.
Novo silêncio. Pareceu-nos a todos uma boa e justa alternativa. Estávamos felizes com a solução.
– E depois a gente doa ele… Complementou o segundo que sabia que do outro lado da rua onde estávamos havia uma biblioteca pública.
Foi simplesmente fantástico. Fiquei boquiaberto com a solução, assim como todos os presentes. Na sequência, os aplausos vindos da plateia foram espontâneos e naturais porque os adultos reconheceram o momento presenciado. Se a espontaneidade já havia marcado presença em seu estado natural com a participação das crianças, também a sabedoria se manifestou de forma espontânea e natural com as atitudes delas. Fiquei a me perguntar: em que momento da vida nós perdemos a espontaneidade e deixamos de nos tornar sábios naturalmente?
Não sei a resposta, mas tenho me questionado sobre a pergunta. O tema do evento era justamente a importância de nos relacionarmos num ambiente de respeito, de aprendizagem e de confiança. Falou-se sobre a importância do respeito para consigo mesmo e também para com o outro. Reconhecer-se como a pessoa mais importante para si mesmo, não é um exercício egoísta. Egoísmo é quando as pessoas somente se preocupam e se ocupam consigo mesmas. A pretensão era exatamente a de destacar a importância do altruísmo e da empatia ao reconhecer a própria importância para poder se preocupar e se ocupar do outro. Falou-se da aprendizagem como sendo uma escolha individual. Escolhemos se aprender é uma tarefa ou um lazer, assim como escolhemos aquilo que queremos aprender. Por outro lado, ensinar não é uma escolha, porque ensinamos sempre com aquilo que fazemos ou deixamos de fazer. E também se falou de confiança como um ato de preservar os bons valores que nos regem como sociedade. Aquele momento proporcionado pelos dois meninos nos mostrou sobre a existência do respeito, sobre o processo de aprendizagem e sobre o exercício da confiança entre ambos.
Naquele evento, nós, os adultos, falamos que é importante um mundo em que o respeito, a aprendizagem e a confiança sejam os valores que norteiem as nossas ações. Elas, as crianças, mostraram como se faz um mundo em que o respeito, a aprendizagem e a confiança sejam uma realidade. Elas expressaram os valores de forma natural e espontânea. Portanto, se nem sempre a sabedoria e a espontaneidade vêm com o passar dos anos, cabe a nós reavaliarmos como aprendê-las. O que será que as crianças podem nos ensinar ainda mais? Sim, porque naquele evento, os adultos que foram para ensinar saíram como aprendizes das crianças. E a sabedoria vem com idade? Somente se nós continuarmos dispostos a aprender apesar da idade.
Feliz Dia das Crianças!
Moacir Rauber
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