É preciso emagrecer o Estado brasileiro?

É muito comum ouvir os especialistas falando sobre a necessidade de reformas no Brasil, usando a metáfora de que é preciso emagrecer o Estado. É uma verdade e uma necessidade urgente sob pena de quebrar o país. Entretanto, em parte acho estranha a exigência dos ditos especialistas.  O estranhamento sobre as reformas surge porque os cientistas políticos, os sociólogos e os economistas, sempre denominados como especialistas em suas áreas, até então estavam calados. Eles não apontavam, ou se percebiam não falavam nada, que o Estado estava engordando sob a tutela de outros governos. A gordura do Estado e de suas estatais não aconteceu por obra do divino e tampouco de uma hora para a outra. Onde estavam os tais especialistas enquanto o país engordava desmedidamente? Por que ninguém cobrou de outros governos que contratassem menos para se manter em forma? Como ninguém viu as estripulias feitas pelos amigos e companheiros nos mandos e desmandos das estatais? Por que os especialistas, que agora pedem a reforma da previdência, não alertaram e não cobraram que o sistema previdenciário fosse concebido de forma diferente, porque da forma como está organizado ele é inviável? Sim, é preciso um trabalho árduo e duro para emagrecer o Estado brasileiro que há décadas vem engordando sob os olhares atônitos da população, mas passivos.

O país precisa ser reformado a partir de seus cidadãos. Mais do que nunca precisamos de cidadãos que se comprometam a expressar e exibir valores de conduta que produzam uma sociedade honesta, íntegra, leal, justa e com ordem e progresso. Destaque para os cidadãos funcionários públicos, políticos ou de carreira. Não que os demais cidadãos não precisem ser honestos, mas uma vez que estes cidadãos sejam não há como dinheiro público fluir indevidamente para qualquer cidadão. Ter um Banco do Brasil com comando societário nas mãos do Estado brasileiro deveria ser motivo de orgulho para os brasileiros. Para isso, bastaria que os cidadãos que conduzem a organização, políticos e diretores, seguissem diretrizes que os levassem a cumprir o papel para o qual foi criado: financiamento justo. Manter o controle societário da Petrobrás não deveria ser a fonte da maior investigação de corrupção do mundo. Para isso, seria o suficiente que os cidadãos que a dirigem fossem honestos, uma vez que eles representam o Estado brasileiro na empresa. A Caixa Econômica? Os Correios? Da mesma forma deveriam ser um patrimônio dos cidadãos brasileiros que poderiam se beneficiar dos seus serviços. Porém, a realidade é diferente. Os serviços, muitas vezes, não são bons e ainda geram mais déficit para a sociedade já tão sobrecarregada de problemas em função da ineficiência, da incompetência e da desonestidade de alguns dos cidadãos que dirigem tais organizações. Muitos são cidadãos políticos desonestos. Outros são simplesmente cidadãos desonestos. Todos aqueles que tiveram um desvio de conduta contribuíram para que o Estado brasileiro engordasse de tal maneira que está pesado demais para a sociedade carregá-lo. Por isso pergunto: onde estavam os especialistas que agora exigem o emagrecimento do Estado brasileiro enquanto alguns o engordavam?

A reforma é importante que aconteça, porém acredito que tão importante quanto a reforma é fundamental responsabilizar aqueles que engordaram o Estado brasileiro. Não se trata apenas de corrigir o rumo, mas de responsabilizar quem nos tirou do rumo. Cidadãos Políticos e Diretores de estatais que contrataram sem necessidade? Cidadãos Políticos e funcionários públicos que realizaram licitações fraudulentas, empréstimos fajutos ou outras atividades que geraram prejuízos ao Estado brasileiro? Que sejam responsabilizados civil e criminalmente. Entendo que além de emagrecer o Estado brasileiro temos que responsabilizar aqueles que O engordaram sem necessidade.

E os especialistas são especialistas do que mesmo se eles somente conseguem ver o óbvio? Fazem apenas o trabalho de juiz de jogo jogado. Talvez, muitos deles, devessem se dedicar tão somente ao carnaval.

Moacir Rauber

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