Na hora da raiva…

Na hora da raiva…

Escutar o desabafo de uma enfermeira revela como não controlar as emoções pode afetar a própria saúde física e mental. Ela dizia que estava finalizando o seu árduo dia de trabalho e teria um atendimento ainda por fazer. Diagnóstico? Covid. Sintomas? Nenhum. Ainda assim, ela deu uma aula sobre a transmissão e os cuidados para evitá-la, destacando a importância do isolamento. A enfermeira alertava sobre os riscos para si e para os outros na atual situação de falta de leitos para internamento. Por fim, a pessoa agradeceu e saiu. A enfermeira encerrou o trabalho e fez todo o procedimento de higienização com o máximo de cuidado para evitar qualquer possibilidade de contagiar-se ou de contagiar a outros. Agora ela iria para a sua vida familiar. Assim, ela passou pelo supermercado e qual não foi a sua surpresa ao se deparar com a pessoa que ela recém havia atendido, diagnosticada com COVID? A pessoa estava no quiosque do supermercado tomando um sorvete, conversando com o atendente e com as pessoas a sua volta. Foi então que a enfermeira não se conteve. Explodiu:

– Irresponsável!!! Criminoso!!! Não acabei de lhe falar para ficar em casa? Quem você pensa que é?…

Confusão armada. Outras pessoas intervieram para acalmar a enfermeira, enquanto se afastavam do portador do vírus. Provavelmente eu faria o mesmo, porém a enfermeira se colocou em risco físico ao perder o controle de suas emoções. A raiva venceu. A ira a dominou. O resultado? Ela se exaltou, a cólera governou, a indignação a arrebatou e, certamente, o seu corpo e a sua alma sentiram os efeitos negativos desse comportamento. A enfermeira terminou por se prejudicar e por não adotar a melhor estratégia para resolver a situação. A gestão das emoções é um dos grandes desafios individuais e organizacionais, porque elas são naturais e nos acometem em diferentes situações. Não se pode saber qual o momento que seremos confrontados com algo que vai nos provocar raiva. Entretanto, cabe a cada um de nós saber gerir a raiva ou a ira para não nos deixarmos dominar por elas. Ira ou raiva, sentimentos de ódio, fúria, cólera ou indignação dirigido a uma pessoa ou a uma situação, tendem a produzir resultados trágicos quando não controlamos as ações resultantes deles. Ressalte-se que a solução não está no seu extremo, onde se posiciona a passividade. Passivo é aquele sujeito que já não se indigna, não se incomoda e não se mobiliza por nada. É alguém que não age e nem reage frente aos maiores descalabros que estão ao seu alcance resolver. O que fazer frente as situações extremas? Respirar fundo para temporizar. Oxigenar o cérebro para avaliar sem julgar. Ser tolerante e agir com a firmeza de quem ainda se indigna com as situações absurdas. Frente as situações extremas, quase sempre, a melhor saída está no equilíbrio.

Ao se deparar com um paciente infectado em público a enfermeira explodiu de raiva e de indignação. Estou seguro de que manter o equilíbrio diante de uma situação tão revoltante é um desafio emocional extremo. Não sei qual seria a minha reação. Entretanto, a enfermeira reagiu dominada pela emoção e colocou em risco a sua própria vida. Talvez, o mais apropriado seria ter denunciado a pessoa por comportamento criminoso, além de alertá-la outra vez. Desse modo, ela não exporia o outro e muito menos a si mesma. Entre a ira e a passividade está a tolerância com ação firme que revela o cuidado e o autocuidado. E na hora da raiva? Respira fundo e conta até dez…

Moacir Rauber

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