Quem está se metendo na sua vida?

Quem está se metendo na sua vida?

Estava na casa do meu amigo que falava com seu filho por telefone. Ouvia a parte do diálogo do pai, meu amigo, que disse:

– Não, meu filho, não acho que valha a pena você mandar fazer tudo isso antes de vender o carro. Se a pessoa quiser ela vai comprar do mesmo jeito…

Não falei nada, mas deduzi algumas coisas. Do outro lado deve ter havido alguma argumentação para fundamentar uma ideia para a qual ele pedia a opinião. Mais uma vez do lado de cá ouvi:

– Fazer por fazer não adianta. Fazer o que precisa ser feito não vale a pena. Mostra pra pessoa e fala o que aconteceu. É muito mais fácil.

A conversa seguiu nesse rumo por mais uns instantes, até que desligaram. O pai, que é meu amigo, olhou-me e disse:

– Se não quer a minha opinião por que me pede? E ainda por cima ficou irritado…

É uma situação comum. Nos ambientes em que estamos nós observamos fatos por meio dos nossos sentidos e os interpretamos de acordo com as nossas crenças e valores. Observo pessoas que pedem uma opinião e interpreto que, muitas vezes, não a querem verdadeiramente, porque já se decidiram sobre o tema. Neste caso, creio que apenas queiram ter a confirmação de que a decisão tomada é boa. Ao receber uma opinião diferente sobre a escolha feita, por vezes, incomodam-se com a pessoa a quem pediram a opinião. Em outros casos, as pessoas que pediram uma opinião passam a reclamar que todos querem dar palpites em suas vidas. Mesmo assim, não deixam de pedir a opinião de pai, de mãe, de amigos, do cachorro e do papagaio até para decidir qual a cor do tênis que vão comprar. No momento em que você pediu a opinião a alguém sobre qualquer assunto, entendo que você está autorizando o outro a se pronunciar sobre o tema. No instante em que você formulou e dirigiu a pergunta para alguém você lhe deu o direito de opinar sobre o que foi perguntado. Eis a importância de fazer uma pergunta genuína com o interesse de escutar uma perspectiva diferente. Ambos podem estar diante do mesmo fato, porém com interpretações diferentes. Positivo ou negativo? Depende. Ao se tratar de uma questão pessoal, a pergunta dirigida autriza o outro,  explicitamente, a se meter na sua vida. Depois não reclame.  Se não quiser que se metam na sua vida, não autorize. Não peça a opinião.

Você poderia dizer, É, mas eu não autorizei ninguém a dar palpites na minha vida e mesmo assim eles dão… E isso te incomoda? Em caso afirmativo, você pode não ter dado a autorização explicitamente, mas de forma implícita você a deu, simplesmente pelo fato de que isso o atinge. Não autorizar também significa pouco se importar com aquilo que vão falar de você. Por isso, se você pedir uma opinião, considere-a. Se não quiser uma opinião, não peça. Se você já tem um decisão, caso julgue necessário, informe. Ao adotar essa postura você vai ver que …

…os outros não podem se meter na sua vida.

A menos que você os autorize!

Moacir Rauber

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