Participei de um evento que tinha como foco a positividade, a empatia e a transformação. Foram dois dias em que os temas foram abordados repetidamente por todos os palestrantes. Ao final do evento a empatia se sobressaiu e talvez tenha marcado mais profundamente as pessoas. Estávamos no ônibus que nos levaria para o hotel e todos estavam encantados com o que fora discutido durante os dois dias. Um dizia que se sentira tocado pelos palestrantes. Outro concordava e afirmava que agora entendia o que era a empatia na prática. De repente um dos integrantes, que até então estava quieto em seu canto, disse:
– Sei lá. Não sei. Até agora não entendo essa tal de empatia. Ou eu não tenho ela ou eu terei que fazer um esforço monstruoso para desenvolver ela…
Um breve silêncio. Alguns riram. Outros se mexeram nos assentos. Deviam pensar, Como não entendeu? Eu também ri, mas da verdade que havia naquelas palavras.
Entenda-se empatia como a capacidade de se colocar no lugar do outro para que as nossas atitudes sejam mais justas e generosas ao buscar olhar o mundo a partir de outras perspectivas. Desse modo, consegue-se caminhar na direção de se construir um mundo melhor. Essa é a teoria. Inclusive, um dos palestrantes argumentou que a empatia é uma qualidade inata do ser humano, uma vez que a expressamos desde bebezinhos. A pessoa que não havia entendido ou concordado completamente com a aplicação da empatia continuou a argumentar que nem sempre conseguia ser empática com as pessoas próximas a ela. Disse que lhe era difícil ser empática com a pessoa com quem morava que lhe pedira para levar para casa sorvete e pão. Quem come sorvete com pão? Indagava-se. Todos riram abertamente. Eu também.
Talvez a empatia que nós temos como uma qualidade natural tenha se perdido com o passar dos anos e um endurecimento comportamental como resultado das nossas interações sociais. Agora sentimos a necessidade de desenvolvê-la. Recriar algo que já nos foi natural. Ou talvez ela não seja tão natural assim. A ciência diz que sim. O comportamento humano nem sempre conforma a ciência. A ciência, muitas vezes descobre aquilo que a natureza e o ser humano já sabiam.
Desse modo, adotar uma postura empática frente as pessoas com as quais nós convivemos pode ser um desafio maior do que nos parece. Nos últimos anos, trabalhou-se tanto com a valorização de si mesmo que as pessoas passaram a somente se importar consigo mesmo. As pessoas têm se tornado egoístas e egocêntricas, seguindo na direção contrária da empatia. Muitos esqueceram-se de que nós somente nos realizamos na presença do outro. Por isso, o exercício da empatia de se colocar no lugar do outro é tão importante. Não quer dizer que sempre se deve atuar de acordo com o ponto de vista do outro, mas que com o exercício da empatia se pode adotar uma postura que seja boa para você e para o outro. Por isso, pergunto: é possível sempre se colocar no lugar do outro? Sim, é possível. É benéfico sempre adotar o ponto de vista alheio? Não, nem sempre é benéfico. Por vezes, é necessário se colocar no lugar do outro para saber que não necessariamente é preciso adotar o ponto de vista do outro. É a atitude de se importar consigo e também com o outro. Portanto, ter a consciência daquilo que a empatia significa vai nos permitir tomar a melhor decisão.
Enfim, será que o nosso amigo vai levar pão e sorvete para casa para exercitar a empatia? Não sei. Entendo que não necessariamente é preciso ser empático para ser bom e justo. Pode-se ser um bom cidadão cumprindo as regras de convivência sem necessariamente ser empático. Por outro lado, não necessariamente se é bom ao ser empático, porque pode ser um exercício de manipulação. E essa tal de empatia, você tem? Qual é o seu real interesse?