Tenho uma amiga que é fora da caixa. Ela lê muito, fala sobre diversos assuntos, participa da vida social intensamente, luta para ter o que deseja e, principalmente, diverte-se com aquilo que tem. Lembro-me do dia em que fui visitá-la em sua casa pela primeira vez, isso há quinze anos. Estacionei em frente da casa, desembarquei e fui recebido pelo seu marido, também meu amigo. Conversamos e logo perguntei pela minha amiga. Ele disse:
– Ela está lá nos fundos. Na piscina… e deu uma risadinha meio irônica.
Não entendi muito bem na hora. Cruzamos pela garagem em direção aos fundos da casa. Era meia tarde e o sol brilhava intensamente, prejudicando a visão. Entretanto, pude ver um terreno baldio, uma pequena edícula na lateral e no meio do terreno algo parecido com um buraco cheio de água e um guarda sol. Pensei que talvez a piscina estivesse noutro lugar, mais distante, porém de repente vejo a minha amiga sair da edícula e se jogar dentro daquele buraco respingando água para todos os lados. Entre as gargalhadas ela me cumprimentou e disse:
– Você ainda não conhecia a minha piscina, não é?
E lá veio mais uma risada.
Foi assim que eu encontrei a minha amiga num dia de verão de 40 graus naquela caixa d´água de mil litros batizada de piscina.
A piscina era o desejo dela. A caixa de água era a sua realidade. Infeliz por isso? Não, nem um pouco. Criatividade e bom humor? Sim, a criatividade para transformar uma realidade não ideal na realidade em que se pode desfrutar daquilo que se tem com bom humor.
Muitos, provavelmente, ficariam tristes ou se lamentariam porque não tinham a piscina ideal para poder se refrescar no verão. O foco da maioria das pessoas sempre está voltado para tudo aquilo que elas não têm. Parece que somente poderiam ser felizes caso tivessem o ideal daquilo que desejam. Por isso, lamentam-se, “Se eu tivesse uma piscina eu seria feliz”; “Se eu tivesse um carro novo eu seria feliz”; “Se eu tivesse um emprego melhor eu seria feliz”; “Se eu tivesse uma namorada eu seria feliz”; e assim seguem as lamentações pelo que não tem sendo infelizes com aquilo que tem. E você, está bem com aquilo que tem?
Alguns poderiam dizer que sentar numa caixa d´água e acreditar que se está numa piscina é uma fuga da realidade. Particularmente entendo que não. Acredito que foi o início do processo de construção de uma realidade, porque hoje a minha amiga tem uma piscina real na frente da sua casa. Na mente dela, todos os dias ao chamar aquela caixa d´água de piscina ela fazia algum movimento para que o desejo se transformasse em realidade. Ela se refrescava na caixa e lembrava do que podia fazer para mudar essa realidade. Depois ela fazia. Era a projeção de um sonho com movimento. Eis a diferença.
Desse modo,
“É fundamental desfrutar daquilo que se tem e lutar por aquilo que se quer”.
O seu carro não é o ideal para você? Cuide daquele que você tem, usufrua dos benefícios que ele traz e mova-se em direção a conseguir o veículo pretendido. O seu trabalho não é o desejado? Dedique-se a sua função como se ela fosse o melhor trabalho do mundo que certamente você estará se movendo na direção de conseguir o melhor trabalho do mundo. Não tem uma namorada? Aproveite o que a vida lhe oferece, seja feliz com as relações que você tem e a namorada virá também.
Ser feliz com aquilo que se tem não é se acomodar com aquilo que se tem.
Trata-se de desfrutar da realidade atual e trabalhar com dedicação e leveza em direção à realidade desejada.
Um caixa d´água ou uma piscina? Depende da perspectiva. A minha amiga é fora da caixa porque ela consegue ver uma piscina numa caixa. E a felicidade? Ela está dentro de cada um.
Moacir Rauber
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