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Soberba ou Humildade: você está pronto para ser ajudado?

Ela estava desempregada, mas continuava a fazer seus trabalhos voluntários. Não reclamava, porém se questionava a razão de que a vida se mostrava tão dura. Um dia, após terminar o seu voluntariado no asilo, o padre que coordenava o local a chamou para conversar. Comentou de um curso que seria oferecido na paróquia e indagou se ela não gostaria de fazê-lo. Ela leu as informações e ficou interessada, porém não tinha dinheiro para fazer o curso. O padre se ofereceu para pagar o curso. Ela disse que não. O padre então lhe disse algo que a acompanha desde então:

– Minha filha, saber receber ajuda também é um ato de sabedoria. É uma benção. Ninguém é tão autossuficiente que não necessite da ajuda de outros, por isso, não aceitar ajuda pode ser a manifestação da soberba…

Ele ainda fez mais alguns comentários. Ela abaixou a cabeça e aceitou a oferta. A realização daquele curso mudou a sua vida, porque nunca mais ela ficou mais sem trabalho.

Soberba pode ser definida como sentimento de orgulho e de altivez que traz em si a arrogância e a presunção de estar num patamar superior aos demais que revela a prepotência. Alguém que não quer receber ajuda pode estar manifestando a prepotência de se crer numa posição superior de independência. É a soberba, porque somos interdependentes. Soberba é diferente da autonomia que, para mim, é uma luta.

Quero ter a autonomia de escolher aquilo que quero fazer, inclusive o ato de saber pedir ajuda.

No ambiente profissional isso é essencial, porque em todos os espaços sempre há alguém que sabe mais sobre um determinado assunto do que você. É fundamental não ser soberbo para aceitar. É preciso ter a humildade da autonomia para saber receber.

O que é humildade? A palavra representa a virtude de reconhecer as próprias limitações e os pontos de melhoria para poder agir a partir desta perspectiva e, ao aceitar, aprender. A humildade pode ser entendida como a naturalidade de reconhecer que não sabe para que se abram as portas das possibilidades da aprendizagem. Não é fraqueza não saber. Pode ser fraqueza acreditar que não se tem nada para aprender, quando a soberba o impede de dizer “não sei”. Essa também é uma luta pessoal minha, resultado de um rótulo que me acompanha desde criança, quando me diziam que eu era muito inteligente. Os pais, os amigos e os professores diziam. De repente, senti que deveria saber muito mais do que sabia pelo inteligente que os outros acreditavam que eu era.

Parei de perguntar. Parei de não saber. Terminei por parar de aprender. Era a soberba de acreditar que deveria saber que estava em mim.

Tive que desconstruir a minha soberba ao me dar conta de que para ampliar as expectativas precisava da humildade de saber receber ajuda de outros. É preciso ter a humildade da autonomia para saber aprender.

Portanto, entender os momentos em que se precisa de ajuda é um ato de humildade que permite ampliar as próprias perspectivas. Por isso, é essencial ser humilde sem ser submisso. É importante ser altivo sem ser arrogante. Para isso, não se precisa renunciar a autonomia pela humildade, assim como se pode mantê-la sem a prepotência. Enfim, diálogo inicial é simples, porém representativo poque ao receber a ajuda de que precisava mudou a sua vida e contribuiu para outras vidas. É a interdependência que acontece em todas as esferas de nossa convivência social. Nas amizades é muito bom dar e receber ajuda, porque são eles que nos dão e para quem damos alegrias e apoio em diferentes momentos. Nas relações familiares a ajuda é uma marca, porque quando não se tem mais ninguém é a família que conta. No ambiente profissional saber dar e receber é a marca do profissional competente e humanizado.

O profissional que sabe receber a contribuição dos outros compreende que nesse ato é o todo que sai engrandecido. Não é fraqueza. Também é imprescindível oferecer ajuda sem desrespeitar o trabalho e as competências do outro. Não é soberba. Em ambos os casos, é a humildade de se reconhecer interdependente.

Moacir Rauber

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