– Não, não dá. Essa tecnologia toda, internet pra lá e pra cá. Eu não uso e não quero saber. Outro dia vieram com um tal de “tablete” pra mim. Eu falei que não quero! Quero dar a aula e pronto… E continuou discorrendo sobre a sua revolta com o atual mundo da tecnologia.
Ouvia a conversa sem interferir, entretanto me perguntava, E pode ser um professor? Questionava-me, porque, em minha opinião, alguém que quer ensinar também deve estar disposto a aprender, exerça a profissão que exercer.
O surgimento de novos aplicativos tecnológicos para usos em áreas tão diferentes como a saúde, a comunicação, a educação e o lazer é uma realidade objetiva que não está mais ao alcance de um ou outro indivíduo negar. Não está mais no controle do professor que fez o seu desabafo, do aluno, do empreendedor, do meu ou do seu dizer que não existe ou discordar. A tecnologia vai continuar no ritmo de desenvolvimento determinado pelas pessoas que a usam e que são a grande maioria. O que está no controle de cada um é como vai se relacionar com ela. Muitos ainda dizem, É, as pessoas não têm noção. Exageram. Fazem fotos no velório para postar… É verdade. Mas bom senso não é questão da tecnologia. A falta de noção sempre existiu e vai continuar existindo, dependendo exclusivamente das pessoas. Por isso, entender, conhecer, saber, diferenciar, escolher e disciplinar o uso da tecnologia depende de cada um, assim como manter a mente aberta para a aprendizagem.
A resistência à aprendizagem nada tem a ver com o surgimento da tecnologia, isso é um movimento de oposição de indivíduos que querem que tudo se mantenha como está. Para muitos, aprender dá trabalho e estes ficarão perdidos transformando-se rapidamente em analfabetos funcionais. Melhor qualidade de vida terão aqueles que acreditarem que aprender é um prazer, entre eles professores, alunos e empreendedores.
No meu ponto de vista, aqueles que pretendem atuar como instrutores, professores, consultores ou outras profissões que trabalham com a formação de pessoas, assim como aqueles que se identificam como empreendedores deveriam ser os primeiros no processo de disponibilidade para a aprendizagem. Não quer dizer sair por aí se enchendo de penduricalhos tecnológicos, mas sim saber do potencial e do uso da tecnologia para poder se beneficiar dela, abrindo-se para a sua intuitividade. Com isso se pode melhorar o mundo. Não roube de si nem dos outros a possibilidade de viver melhor pelo uso da tecnologia.
Você quer ensinar? Sim. Então o “sim” deveria ser uma obrigação quando confrontado com a pergunta: você está disposto a aprender? Eric Hoffer, falecido em 1983, já dizia, “Em tempos de mudança, os aprendizes sobreviverão, enquanto aqueles que acham que sabem muito estarão preparados para um mundo que já não existe.”Pensando nisso, um aprendiz pode ser professor, mas um professor, obrigatoriamente, deve ser um aprendiz, seja na profissão que for. Não roube de si o direito de aprender sempre, porque um aprendiz pode ser o que quiser…
Abordagem subjacente no livro Ladrão de si mesmo
Moacir Rauber