Arquivo da tag: workaholic

VOCÊ TRABALHA DEMAIS?

Fonte: IA BING

Você trabalha demais?

Ela era médica e fazia dupla jornada, para não dizer tripla. Trabalhava num hospital público e fazia plantões numa clínica privada. Orgulhava-se de não faltar ao trabalho. Além disso, participava de diversas iniciativas voluntárias de maneira comprometida, como as visitas semanais a uma casa de anciãos e as oficinas sobre saúde que dava na casa de acolhimento de menores. Era uma agenda superlotada. Entretanto, nas conversas mais íntimas com os familiares, reclamava do excesso de trabalho a que se sujeitava, dizendo:

– Não tenho tempo para os meus filhos e marido. Nem vejo a vida passar. Preciso mudar algo…

Apesar da reclamação, a rotina se repetia a cada semana. Para um ouvinte mais atento, talvez a reclamação não fosse tão autêntica, uma vez que revelava a busca por reconhecimento pelo que fazia, além de exibir traços de competitividade para galgar os degraus profissionais que a moviam. Uma das conclusões poderia ser: ela era viciada em trabalho. Desse modo, assim como os demais viciados, ela tinha prazer naquilo que fazia, porque os amigos se impressionavam. Ou melhor, os conhecidos, porque amigos já nos os tinha porque não tinha tempo. Ainda que reclamasse, ela propalava aos quatro ventos a sua capacidade de trabalhar, initerruptamente, por uma quantidade absurda de horas, por um número impressionante de dias consecutivos ou por vários anos sem necessitar de férias. O único assunto dela era trabalho. No fundo, orgulhava-se disso. Alguém convive ou conhece alguém assim?

Analisando o comportamento da médica da perspectiva da Inteligência Positiva (Shirzad Chamine) há um sabotador bastante evidente no controle da vida dessa pessoa: o hiper-realizador. Igualmente aos demais sabotadores, o hiper-realizador está sob o comando do juiz que critica o ambiente externo, aos outros e a si mesmo. Dessa maneira, o hiper-realizador, alinhado com o juiz, estimula pensamentos de sempre fazer e ser o melhor, evitando demonstrar as emoções. Na vida, o hiper-realizador se concentra em construir a sua imagem como resultado das suas realizações, porque se ele não o faz ninguém o fará. Para o hiper-realizador, segundo Chamine (2013), na vida é essencial produzir muito para obter os resultados que impactam o ambiente, sendo a felicidade um momento fugaz que se encontra na celebração de uma vitória. São pensamentos subliminares desse sabotador que levam as pessoas ao desgaste físico e mental, sendo candidatos a uma quebra emocional. No final, o hiper-realizador se cansa de tanto realizar e se comparar com aqueles que não realizam, por isso é violento com os outros, consigo mesmo e com aqueles que gostariam da sua presença, como, por exemplo, os filhos e o marido. O que fazer para mudar isso? Obviamente, é essencial tomar consciência de que se a agenda está superlotada, se não tenho tempo para as pessoas que me importam e não estou vendo a vida passar, o único que pode mudar algo sou eu. Desse modo, uma pausa para identificar o sabotador faz a diferença. A partir daí se traz os elementos da Comunicação Não-Violenta (Rosenberg, 2003): é fato que o mundo depende de minhas realizações? O discernimento para exercer o papel social com cuidado para com os outros e autocuidado é crucial para identificar o hiper-realizador como sabotador, porque o mundo até hoje não parou para ninguém. Quais os sentimentos que me acompanham? A força para se permitir sentir faz com que se possa mudar a interpretação dos fatos. Quais são as reais necessidades por trás das minhas escolhas? A lucidez para identificar a diferença entre desejos e necessidades permite a escolha dos sentimentos a serem nutridos e os compromissos a serem assumidos. Como me expresso de maneira a cuidar e me cuidar? A sabedoria para ser assertivo sem ser arrogante e ser humilde sem ser submisso está na capacidade de pausar para avaliar a situação vivida. Portanto, usar as ferramentas vindas do conhecimento para se reconectar com aquilo que nos importa é ser sábio.

Enfim, orgulhar-se de trabalhar em excesso é reconhecer a própria incompetência para a vida. Afinal, quem faz as escolhas? Por isso trabalhe melhor, não mais nem demais!

Moacir Rauber

Instagram: @mjrauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.com.br

Você é um viciado em trabalho?

Você é um viciado em trabalho?

Final de ano chegando num ano que começou de uma forma e vai terminar de uma maneira inimaginável. Entretanto, vejo algo que não mudou. Alguns comentários recorrentes sobre o excesso de trabalho a que muitas pessoas se sujeitam. Observando os diálogos em alguns grupos de profissionais dos quais participo, leio conversas assim:

Nem me fale. Não sei o que fazer primeiro. Estou atolado de tanto trabalho.

– Eu sei o que é isso. O dia deveria ter 48h para dar conta de todos os compromissos até o final do ano. Não vejo a hora de que ele acabe… como se o responsável pelo excesso de trabalho fosse o ano.

Poderia ser o que muitos chamam de vício de trabalho, workaholic. Também poderia ser o hábito da reclamação. No caso de ser um workaholic, assim como os demais viciados, a pessoa tem prazer naquilo que faz. Diferentemente de outros vícios, o viciado em trabalho conta com a aprovação daqueles que estão em seu entorno. Os superiores parecem felizes. A conta corrente agradece. Os amigos se impressionam. O próprio viciado propala aos quatro ventos as suas capacidades de trabalhar ininterruptamente por não sei quantas horas, quantos dias, meses ou anos sem necessitar de férias ou convívio social sem que seja em função do trabalho. O único assunto é trabalho. Orgulha-se disso, o que torna mais difícil para se curar do vício. Para curar-se de um vício, normalmente, precisa-se tomar consciência de que ele é negativo. Para vícios ligados a consumo de entorpecentes ou álcool o próprio convívio social pode nos levar a que nos apercebamos da sua negatividade. Alguém se orgulharia em dizer, “eu sou alcoólotra” ou “eu sou viciado em cocaína”? Provavelmente não. Porém, para se livrar do vício é fundamental que a pessoa tenha a coragem de olhar para si mesmo, reconhecer e responsabilizar-se pela necessidade de mudar. É fácil? Não acredito que seja, mas é um caminho para conter um vício modificando hábitos. Para o vício de trabalho parece não haver a força do convívio que nos leve a tomar consciência de sua negatividade, uma vez que há orgulho nisso. De todas as formas, o primeiro passo seria reconhecer que o excesso de trabalho é prejudicial. Enfim, é essencial entender que há algo que não está bem ao se exceder no trabalho. Existem outras dificuldades, entre elas a de procurar um profissional para auxiliá-lo. Para obter os serviços de um profissional que o ajudaria a livrar-se do vício, o viciado em trabalho precisará pagá-lo. Para pagá-lo terá que trabalhar ainda mais. E o ciclo recomeça num verdadeiro círculo vicioso. É fundamental mudar a narrativa para modificar comportamentos ao se responsabilizar pelas escolhas sem se culpar. Pergunte-se: do que você vai abrir mão? Mais: sujeitar-se a trabalhar em excesso é uma escolha? Reclamar da rotina exagerada de trabalho é uma opção? Como usar as horas do seu dia é uma decisão? Sim, todas elas são escolhas, porém é inevitável que o tempo passe. Por isso, entendo que trabalhar em excesso não é um vício e sim uma escolha.

O que você vai fazer com as suas 24h diárias? Trabalhar, reclamar ou usufruir? São escolhas. Desejo que cada um decida trabalhar melhor, não mais ou demais; que opte por reclamar menos para agradecer mais e elogiar com autenticidade; por fim, que cada pessoa entenda a importância de valorizar o privilégio da vida ao escolher usufruir do tempo na presença das pessoas que lhe dão sentido. É fácil? Para mim não, mas é uma escolha.

Moacir Rauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

Home: www.olhemaisumavez.com.br