Moacir Rauber
A tendência da horizontalidade nas organizações havia chegado muito antes na essência do homem moderno. O modelo administrativo que tem sido mais implementado e sugerido para alcançar as melhorias de produtividade exigidas pela alta competitividade de todos os setores de produção e comercialização é o da horizontalidade, com a conseqüente diminuição dos níveis hierárquicos. Deste modo as empresas se tornam planas, rasas e com poucos escalões. Porém, para chegar as organizações essa ideia já havia tomado forma na própria concepção do homem moderno que também se desverticalizou, tornou-se plano, superficial, raso, pouco profundo.
Ao recuarmos no tempo, aproximadamente cem anos, a grande massa populacional dos países se concentrava nos campos, local de pouca tecnologia, no conceito moderno, mas de muito conhecimento. O homem, genericamente falando, era profundo e vertical, pois conhecia todo o processo de produção do qual dependia para subsistir no meio em que vivia. Poucos eram os insumos de que dependia sobre os quais ele não dominava a sua forma de produção. Com o incremento da tecnologia, do conceito moderno, esse mesmo homem começou a se horizontalizar, não dominando mais todas as partes do processo de produção. Deste modo, passou a comprar as partes que compunham o produto final de que precisava, dependendo então de outros produtores. Consequentemente, o homem rural, antes vertical, agora horizontal, perdeu competitividade e foi morar nas áreas metropolitanas. O ano de 2008 marca a história como sendo o primeiro ano em que a população urbana é maior do que a população rural.
Certamente, muitos desses novos moradores urbanos ainda lembram das histórias contadas por seus pais e avós que descrevem uma vida que já não é mais possível. Uma vida com valores e conhecimentos profundos, personificando um homem completo, muito, mas muito diferente do homem despedaçado e em frangalhos que hoje perambula pelas áreas urbanas. Um homem sem raízes e sem profundidade, completamente raso.
Este texto foi publicado originalmente em:
http://harmoniaeequilibrio.blogspot.com.br/2008/05/raso-ou-profundo.html