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QUAIS OS VALORES DAS TUAS ESCOLHAS?

Retiro de Silêncio Casa Santo André – out/25

QUAIS OS VALORES DAS TUAS ESCOLHAS?

A irmã tem 81 anos e faz seus retiros de oito dias todos os anos com atividades de reflexão sobre as escolhas feitas e as escolhas a serem feitas. O condutor do retiro havia destacado a importância de que para tudo na vida “há um tempo para cada coisa debaixo do sol, tempo de plantar, de colher, de nascer, de viver e de morrer…” (Ecl, 3,1). Por isso, há um tempo para dormir, trabalhar, estudar, divertir-se, praticar esportes, rezar e em todo tempo se fazem escolhas. Numa das atividades a freira caminhava por uma parte do jardim, onde encontrou uma jovem e, juntas, observaram um urubu bicando uma planta. A jovem se espantou com aquela ave fazendo algo não comum para a sua espécie e comentou:

– O que esse bicho feio está fazendo?

A anciã a olhou com carinho antes de dizer:

– Não sei se ele é feio ou bonito, mas se ele está na natureza é porque tem a sua função…

A natureza funciona em harmonia, sintonia e ausência de julgamentos. Assim, a crueldade e a bondade; a honestidade e a desonestidade; e a beleza e a feiura não são conceitos naturais, são humanos. Entretanto, o fato de não serem naturais não nos isenta de aprender e exibir comportamentos que estejam em harmonia e sintonia com a bondade, a honestidade e a beleza, ainda que com a presença de julgamentos que nos marca como seres humanos, por isso, pergunto: é certo ou errado julgar?

Entendo ser uma pergunta complicada, porém é importante que a tenhamos presente, uma vez que julgar, para o bem ou para o mal, é constante e natural para o ser humano. Particularmente penso que o julgamento como discernimento, apreciação, entendimento, escolha ou convicção podem ser melhores e mais justos quando fundado em valores reconhecidos como bons. Não se trata de apontar para o outro, a questão se volta para a capacidade de discernir bem de cada um. Ainda que se viva uma tendência a eliminar os limites entre o bem e o mal, o bom e o mau ou o certo e o errado, acredito que é essencial estar nutrido de valores como a bondade, a honestidade e a beleza, para construir uma sociedade mais justa. Apreciação, entendimento e convicção minhas.

Como desenvolver esses valores num mundo tão distraído pelos ruídos e pela busca do prazer imediato? Creio que olhar para a nossa trajetória humana, identificar pessoas que admiramos para observar o que elas fizeram para então buscar imitá-las é um caminho. Muitos de nós olharemos para nossos pais e avós e vamos encontrar alguns valores comuns, como a fé e a perseverança. Qual era a fé que professavam? Como demonstraram a perseverança? Responder as perguntas permite que desenvolvamos valores que nos levarão a diferenciar o bem do mal, o bom do mau e o certo do errado a partir de convicções vindas de um discernimento que nos posiciona na bondade e não na crueldade; na honestidade e não na desonestidade; e na beleza e não na feiura, traduzindo-se em harmonia e sincronia com a natureza. Afinal, não estamos aparte dela.

A partir de um olhar estético com a carga instintiva que nos acompanha, poucas pessoas dirão que o urubu é uma ave bela. Entretanto, ao agregar conhecimento e discernimento sobre a sua função, podemos entender que ele cumpre um papel essencial no equilíbrio da natureza. Desse modo, para a natureza humana os julgamentos com origem no conhecimento acumulado fundado em valores como a fé e a justiça se traduzem em ações bondosas, nos comportamentos honestos e na apreciação da beleza, independentemente de ser um urubu.

A irmã tinha a clareza da beleza presente em todas as coisas, assim como exibia a bondade e a honestidade de escolhas íntegras feitas ao longo da vida que se traduziam em harmonia e sintonia com a natureza. Qual era o seu critério de escolha, de juízo e de convicção?

O amor! E eu já tenho alguém para admirar.

Moacir Rauber

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Inspirado na Irmã Elivete

SOU ADOLESCENTE…

Fonte: IA BING

Sou adolescente…

Eram 21h e estávamos em casa fazendo um trabalho manual na mesa da sala. De repente ouvimos um estrondo violento, parecia que um carro tivesse entrado pelo portão da casa. O susto foi grande. Em seguida saímos e vimos o portão abalroado. Minha esposa olhou cuidadosamente para a rua e viu um grupo de jovens caminhando para o lado do hotel que há na rua. De carro saímos atrás dos rapazes e indagamos se haviam sido eles que haviam golpeado o portão. Disseram que não e de maneira irônica disseram que os culpados correram para o outro lado. Sabíamos que não era verdade. Perguntamos se estavam hospedados no hotel logo à frente e negaram. Outra vez sabíamos que mentiam, porque acontecia na cidade um campeonato de futebol das categorias de base e algumas equipes estavam hospedadas naquele hotel. Por isso, entramos no estacionamento do hotel e minha esposa foi até a recepção, pedindo para falar com os técnicos das equipes. Nesse meio tempo, os meninos passaram direto em frente ao hotel, dando a impressão de que não estavam hospedados ali, porque eles viram que nós havíamos entrado no hotel. Conversamos com os técnicos sobre o ocorrido e um deles disse que os seus atletas estavam todos nos quartos. Disse que os jovens, provavelmente, estavam mais adiante esperando até que saíssemos para entrar no hotel sem serem responsabilizados pelo vandalismo. Os técnicos saíram e encontraram o grupo de garotos parados na calçada uns cinquenta metros mais à frente. Retornaram e logo o responsável foi identificado. O técnico o chamou na minha presença e o jovem pediu desculpas. Um pedido que gerou a sensação de que o fazia simplesmente para não ser castigado e arrematou dizendo:

– O senhor tem que entender que sou um adolescente. Agi no impulso da emoção…

Fiquei indignado. Que cara de pau… pensei. Como é que usa a condição de ser adolescente para fugir da responsabilidade? O que estamos ensinando para os jovens sobre reconhecer uma falta? Como damos aos adolescentes a prerrogativa de votar se não os responsabilizamos por suas condutas?  As perguntas seguiram ecoando na minha mente muito tempo depois de haver encerrado a conversa com o garoto e o técnico.

Acredito que é uma estratégia usada e difundida, ainda que inconscientemente, de que o mais importante é não ser flagrado pelo delito e, quando flagrado, culpar algo ou alguém. Desvirtuou-se o ditado “errar é humano, repetir o erro é tolice” transformando-o em “errar é humano, encontrar um culpado é fundamental”.

Parece brincadeira, mas vivemos um desvio ético e moral que está na base de grande parte das relações estabelecidas entre as pessoas, seja no âmbito pessoal ou organizacional. O discurso e a prática dos adultos de não delegar tarefas e responsabilidades para as crianças e adolescentes tem criado uma geração de pessoas que se tornam incapazes de serem os provedores das próprias vidas, impedindo-os de se transformarem como adultos. Ao não permitir que crianças e adolescentes assumam responsabilidades criamos jovens e adultos que irão necessitar de tutores para toda a vida, sejam eles os pais ou o estado. Por essa prática é que o adolescente fugiu da sua responsabilidade, transferindo-a para o fato de ser adolescente, uma condição temporária, que da maneira como vivemos, tende a ser permanente.

Frente ao pedido de desculpas do jovem respondi que a condição de ser adolescente não lhe dá salvo-conduto para ser violento, agredir ou ser mal educado. Reforcei que ele aproveitasse a fase para aprender com os acertos e os erros, tendo claro o que é certo ou errado para assumir as responsabilidades pelos próprios atos e apropriar-se da própria vida.

Por fim, ao justificar sua falta pela condição de adolescente ele me tomou por estúpido, porém não é necessário ser um gênio para saber a diferença entre tocar a campainha e dar um coice no portão. A menos que sigamos tratando as crianças e os adolescentes como imbecis e incapazes, estupidificando-nos como sociedade.

Moacir Rauber

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De onde vem a felicidade?

Era o aniversário de um amigo. Os presentes estavam na casa dos 40 e 50 anos. Todos já tinham passado por algum casamento frustrado, por algumas experiências dolorosas e lembravam de muitos dos equívocos cometidos. Assim como é normal na vida de qualquer um que tinha se arriscado a viver e buscar a felicidade. Porém, na vida o erro faz parte. As divagações e as histórias se sucediam. Foi nesse momento que um dos presentes comentou que havia cometido um erro quando tinha quinze anos.

Ela disse:

– Casei-me com quinze anos, depois que fiquei grávida… e contou a sua história.

Certamente o fato de ela ter se casado e ter tido uma filha aos quinze anos de idade pode ter sido considerado um erro por muitos e, talvez, por ela mesma. Eu não queria ter ouvido tudo o que ela ouviu dos outros, como os comentários e julgamentos, tendo sempre um dedo apontado na sua direção. Não queria ter tido todos os diálogos internos que ela teve consigo mesma. Entretanto, ela também falou do orgulho e do prazer de ter uma filha com mais de trinta anos de idade antes mesmo dos seus cinquenta anos. Uma filha que foi criada com carinho, com dedicação e com amor que valeu e vale cada momento difícil vivido por ela. Uma filha insubstituível! Para aquela mãe, assim como para a maioria das mães e dos pais, não há nada no mundo que possa substituir o que um filho representa.

Foi então que um amigo fez o comentário:

– É verdade. “Um erro também traz felicidade! (by Gica)”

Ficamos em silêncio. Um comentário aparentemente simples, mas que trazia em si uma profundidade tocante. O comentário se referia ao exemplo da nossa amiga, mas certamente o Gica falava a partir de si mesmo, assim como cada um sempre fala da própria perspectiva. Na memória, devem ter lhe ocorrido algumas escolhas que poderiam representar erros no passado, mas que hoje são fontes de dádivas, de bênçãos e de alegrias. Por isso, escolhas, aparentemente, equivocadas podem trazer felicidade. E essa percepção esteve na alma de todos os presentes, pelo silêncio que indicava o momento de reflexão. Acredito que cada um olhou para dentro de si, para trás e para o presente e pode identificar escolhas, decisões e juízos sobre eventos difíceis do passado que hoje são fontes de felicidade. Também eu naquele momento voltei para o meu passado e lembrei de inúmeras escolhas que fiz e que foram dolorosas, mas sem as quais eu não seria eu nos dias de hoje. Foram erros no passado e que hoje são fonte de inspiração, de motivação e de felicidade que formam a minha identidade.

Desse modo, acreditar que uma escolha ou uma opção feita, ainda que de maneira equivocada, também pode nos trazer felicidade, retira-nos um peso das costas. Afinal, as decisões que tomamos no momento em que as tomamos usam os dados e as informações que temos para que sejam feitas as melhores escolhas. Assim, a ideia de que sempre temos que tomar a decisão correta é que é um conceito equivocado. A única certeza que temos é a de que escolhemos o que escolhemos para que seja o mais adequado. Certo ou errado? Difícil de saber, mas se elas forem tomadas em conformidade com os valores que são importantes para cada um, um dia a felicidade virá. E no futuro, mesmo que não tenha sido a melhor escolha no passado, ainda assim poderemos ser felizes com isso.

A felicidade vem dos acertos ou dos erros? De onde ela vem tanto faz, porque ser feliz é a verdadeira escolha!

Moacir Rauber

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