A regata terminou. Um dos atletas que tinha condições de chegar em primeiro lugar chegou em último, o que o deixou visivelmente incomodado. Logo que todos os atletas saíram dos barcos, o rapaz que chegou em último lugar se aproximou daquele que chegou em primeiro. Esperava-se que ele o cumprimentasse pela vitória, porém o que se ouviu foi o seguinte:
– Você não mereceu. Eu deveria ter chegado em primeiro. Não é justo. O meu se soltou… E continuou a esbravejar, justificando-se.
A situação entre os atletas foi constrangedora. O vencedor da regata ficou chateado com a forma como o seu colega de clube o tratou. Os presentes contornaram a situação até que os ânimos se acalmaram. O reclamão é um jovem que tem uma personalidade forte, entretanto, essa personalidade, por vezes, o leva a se comportar de maneira inconveniente. Eu o encontro no clube e muitas vezes nós conversamos. Comigo ele tem uma conversa fácil e sempre é agradável. Numa de nossas conversas eu o indaguei:
– O que aconteceu na última regata? É verdade o que comentaram comigo?
Ele ficou encabulado, antes de responder:
– Sei lá. Ele não merecia aquela medalha. Ela deveria ter sido minha.
– Mas o que aconteceu?
– Eu larguei bem, mas de repente o finca-pé do meu barco se soltou. Depois não consegui mais remar com força.
– É? Desculpe-me perguntar, mas o que o cara que ganhou a prova tem a ver com isso?
Ele deu de ombros. Fiz outra pergunta:
– Suponhamos que você tivesse ganhado a prova, o que você esperava que ele fizesse?
– Acho que gostaria que ele me desse os parabéns…
– E o que você fez com ele?
A partir desta pergunta o meu jovem amigo começou a entender que a reação dele fora sem razão, sem propósito e na direção errada. A reação fora sem razão porque sempre que alguém conquista algo dentro das regras estabelecidas ele tem os seus méritos. E o meu amigo sabia que quem venceu a prova teve os seus méritos, porque ele treinou para isso. A reação do meu amigo também fora sem propósito, porque ao agredir verbalmente o seu colega ele não contribuiu em nada. A sua agressão não serviu para melhorar o outro nem para melhorar a si mesmo. A reação do meu amigo, no final das contas, também fora na direção errada. Mais uma vez, como muitas pessoas, a crítica fora dirigida para aquilo que não estava no seu controle. O ganhador simplesmente cumpriu o papel a que se havia proposto, estando completamente fora do controle do meu amigo interferir naquilo que o ganhador fizera ou deixara de fazer. Ao entender que cada um somente pode atuar sobre aquilo que está ao seu alcance as pessoas deixarão de reagir para agir. A reação dará lugar para a ação que se revelará em atitudes de alto desempenho com bons propósitos.
Com o entendimento de atuar sobre o que está ao alcance de cada um, as pessoas passarão a olhar para dentro de si em primeiro lugar. Com isso poderão avaliar o que fizeram ou deixaram de fazer que influenciasse diretamente para que o resultado fosse diferente daquele que elas acreditavam ser possível. Essa avaliação permitirá que ele faça de novo, diferente e melhor. Por isso, o meu amigo deveria ter dado os parabéns para o vencedor que alcançou o seu objetivo fazendo a sua parte dentro das regras. Esta seria uma atitude com razão de ser. O meu amigo também deveria ter feito uma autocrítica para saber o que ele poderia ter feito para que tivesse alcançado os resultados que ele acreditava ser possível. Esta seria uma atitude com propósito de ser. Por fim, ele deveria ter olhado para dentro de si para avaliar o que está ao seu alcance aprender com os outros e com ele mesmo. Esta seria uma atitude na direção certa.
Olhar para dentro de si mesmo para começar a realizar as atividades ordinárias que estão ao alcance é que permitirá que sejamos extraordinários. Campeões por merecimento!