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EU MEREÇO! SERÁ?

Eu mereço!!! Será?

Mais uma semana que termina seguindo a rotina. O marido passa o tempo na fazenda, trabalhando, pois é o provedor da família. Do seu trabalho dependem os três filhos e a esposa, seu núcleo familiar primário. Ele também ajuda os pais da esposa que passam por dificuldades, além de contribuir com trabalho e recursos na comunidade a qual pertencem. É a escola que demanda recursos. É a igreja que demanda tempo. Desse modo, o cansaço é grande. Muitas vezes, quando chega em casa, a única vontade que tem é a de se deitar no sofá e ver um pouco de televisão. Entretanto, nem tudo é tão simples. A esposa e os filhos querem a sua a participação nas atividades sociais que programaram durante a semana. Assim, qualquer menção por parte do cônjuge mantenedor de não querer participar ou de não querer promover uma reunião social, transforma-se em motivo de briga. Toda a argumentação é respaldada pelo fato de que haviam ficado a semana toda em casa, justificado pelo bordão: Eu mereço!

O fato chega a ser cômico, uma vez que o cônjuge que diz  “eu mereço” se autopremia com o esforço alheio. É um exemplo domiciliar com o marido e a esposa. Poderia ser o contrário, assim como se pode constatar o fenômeno nos mais diferentes ambientes. As pessoas  se autopremiam, antes mesmo do merecimento. Pode-se observar colaboradores que não colaboram tanto assim, mas se julgam merecedores de benefícios; existem donos de empresas que se beneficiam do esforço alheio, sem a devida contrapartida; há professores que não ensinam e tampouco aprendem, mas que querem o reconhecimento; se encontram pessoas que não contribuíram, mas que se aposentam; e tem jovens e adolescentes que não se autosutentam, mas se arrogam o direito de receberem uma premiação pelo esforço que ainda não fizeram. Essas são situações de pessoas que se autopremiam pelo esforço alheio. Exercer o autocuidado é uma necessidade humana que leva a que as pessoas se deem mimos e aproveitem a vida com certas regalias. Creio esse ser um norte dos indivíduos que os move em busca de melhorar a própria vida, podendo igualmente melhorar a dos demais. Entrementes, antes de proclamar “Eu mereço!” a pessoa deve saber: merece? De onde virá o prêmio? As custas de quem virá o benefício que se está auto atribuindo? Assim, usar elementos da comunicação Não-Violenta e da Inteligência positiva pode contribuir para se cuidar cuidando do outro. Logo, observo pessoas se auto premiando sem contudo se questionar por que merecem aquilo que se atribuem. Muitos se afundam em dívidas, mas não abrem mão do prêmio. É o sabotador esquivo atuando. Outros se premiam mesmo que seja as custas de ofensas, agressões e prejuízos a terceiros. É o sabotador controlado agindo. Eu também, às vezes, creio que mereço certas benesses. Porém, sempre cabe perguntar: as custas de quem? Essa pergunta ajuda a que se observe os fatos e se identifique se é uma ação sábia ou sabotadora. Por isso, uma organização, seja social ou empresairal, onde todos produzem se torna mais justa. Quando todos são, interdependentementes, responsáveis pelo esforço para se alcançar determinados resultados, também o fato de fruir dos benefícios torna-se mais legítimo. Fazer uma pausa para observar com auteticidade quais as necessidades e os sentimentos envolvidos, bem como resgatar a sabedoria com a empatia para avaliar as diferentes alternativas, diminui a violência e aumentee a positividade.

“Eu mereço!” e o outro merece. É uma reflexão resultado da prática da observação, que aponta um fenômeno que pode ser muito bom ao identificar que as pessoas estão se preocupando  consigo mesmas, dando-se o direito da autopremiação. Observe, sinta, veja as necessidades e peça com a sabedoria de quem sabe o que quer sem descuidar do outro que merece. Presenteie-se! Muito justo, desde que você mereça…

Moacir Rauber

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Onde você está agindo?

A regata terminou. Um dos atletas que tinha condições de chegar em primeiro lugar chegou em último, o que o deixou visivelmente incomodado. Logo que todos os atletas saíram dos barcos, o rapaz que chegou em último lugar se aproximou daquele que chegou em primeiro. Esperava-se que ele o cumprimentasse pela vitória, porém o que se ouviu foi o seguinte:

Você não mereceu. Eu deveria ter chegado em primeiro. Não é justo. O meu se soltou… E continuou a esbravejar, justificando-se.

A situação entre os atletas foi constrangedora. O vencedor da regata ficou chateado com a forma como o seu colega de clube o tratou. Os presentes contornaram a situação até que os ânimos se acalmaram. O reclamão é um jovem que tem uma personalidade forte, entretanto, essa personalidade, por vezes, o leva a se comportar de maneira inconveniente. Eu o encontro no clube e muitas vezes nós conversamos. Comigo ele tem uma conversa fácil e sempre é agradável. Numa de nossas conversas eu o indaguei:

– O que aconteceu na última regata? É verdade o que comentaram comigo?

Ele ficou encabulado, antes de responder:

– Sei lá. Ele não merecia aquela medalha. Ela deveria ter sido minha.

– Mas o que aconteceu?

– Eu larguei bem, mas de repente o finca-pé do meu barco se soltou. Depois não consegui mais remar com força.

– É? Desculpe-me perguntar, mas o que o cara que ganhou a prova tem a ver com isso?

Ele deu de ombros. Fiz outra pergunta:

– Suponhamos que você tivesse ganhado a prova, o que você esperava que ele fizesse?

– Acho que gostaria que ele me desse os parabéns…

– E o que você fez com ele?

A partir desta pergunta o meu jovem amigo começou a entender que a reação dele fora sem razão, sem propósito e na direção errada. A reação fora sem razão porque sempre que alguém conquista algo dentro das regras estabelecidas ele tem os seus méritos. E o meu amigo sabia que quem venceu a prova teve os seus méritos, porque ele treinou para isso. A reação do meu amigo também fora sem propósito, porque ao agredir verbalmente o seu colega ele não contribuiu em nada. A sua agressão não serviu para melhorar o outro nem para melhorar a si mesmo. A reação do meu amigo, no final das contas, também fora na direção errada. Mais uma vez, como muitas pessoas, a crítica fora dirigida para aquilo que não estava no seu controle. O ganhador simplesmente cumpriu o papel a que se havia proposto, estando completamente fora do controle do meu amigo interferir naquilo que o ganhador fizera ou deixara de fazer. Ao entender que cada um somente pode atuar sobre aquilo que está ao seu alcance as pessoas deixarão de reagir para agir. A reação dará lugar para a ação que se revelará em atitudes de alto desempenho com bons propósitos.

Com o entendimento de atuar sobre o que está ao alcance de cada um, as pessoas passarão a olhar para dentro de si em primeiro lugar. Com isso poderão avaliar o que fizeram ou deixaram de fazer que influenciasse diretamente para que o resultado fosse diferente daquele que elas acreditavam ser possível. Essa avaliação permitirá que ele faça de novo, diferente e melhor. Por isso, o meu amigo deveria ter dado os parabéns para o vencedor que alcançou o seu objetivo fazendo a sua parte dentro das regras. Esta seria uma atitude com razão de ser. O meu amigo também deveria ter feito uma autocrítica para saber o que ele poderia ter feito para que tivesse alcançado os resultados que ele acreditava ser possível. Esta seria uma atitude com propósito de ser. Por fim, ele deveria ter olhado para dentro de si para avaliar o que está ao seu alcance aprender com os outros e com ele mesmo. Esta seria uma atitude na direção certa.

Olhar para dentro de si mesmo para começar a realizar as atividades ordinárias que estão ao alcance é que permitirá que sejamos extraordinários. Campeões por merecimento!