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Hoje eu ganhei…

Sabe aqueles dias em que você acorda e tem a certeza de que tudo vai dar certo? Pois é, hoje foi assim que acordei, apesar de ser um dia como qualquer outro. Levantei, tomei café e fui para minhas atividades. Abri os e-mails com as mensagens de trabalho e outras tantas sobre o Corona Vírus, seus alertas e piadas. Saí de casa por volta das 11h, uma vez que tinha um compromisso. Encontrei o senhor que trabalha no prédio ao lado com quem converso muitas vezes. Ele me disse:

O senhor já se levantou? Vai dar um passeio?

Pela enésima vez me fez as mesmas perguntas revelando a mesma ideia, “O doentinho cadeirante também precisa sair um pouco para espairecer…”. Confirmei, entretanto me propus a não explicar mais uma vez que eu levanto todos os dias antes das 7h, que boa parte do meu trabalho faço de casa e que eu vou sair porque tenho um compromisso. Não valeria a pena, porque no modelo mental daquele senhor, um usuário de cadeira de rodas não tem condições de fazer nada. Deve pensar, “Imagina se ele trabalha…”.

Hoje eu estava saindo vacinado contra todo e qualquer tipo de situação que pudesse me tirar do sério. Com meu péssimo senso de localização, saí na direção contrária da rua para onde eu iria. Daria uma volta maior do que a necessária. Por isso, fiquei ansioso, porque estava correndo o risco de chegar atrasado. Impensável na minha concepção! Finalmente cheguei ao local. Estava chovendo. Estacionei o carro e comecei a montar a minha cadeira de rodas. Nisso chega correndo um senhor, oferecendo-se para me ajudar e já foi metendo a mão na minha cadeira que ainda estava sem as rodas.

Disse-lhe:

– Olha, pode deixar que eu mesmo monto a cadeira, porque as peças estão na ordem certa. É fácil para mim….

Ele me olhou, com a cadeira na mão, e retrucou,

– Não, não… Pode deixar que eu arrumo. A cadeira está estragada? Onde estão as rodas?

Ele virava a cadeira de lá para cá sem saber o que fazer. Fiquei irritado, mas pensei, “Calma, calma…Hoje não!” e falei para o senhor;

– Não tá estragada, tá tudo certo. O senhor pode deixar a cadeira aí onde ela estava que ainda falta colocar as rodas nela. É rapidinho….

Ele ficou olhando para a parte da cadeira que tinha nas mãos sem entender muita coisa. Disse-lhe que com a cadeira ele não poderia me ajudar, mas com o guarda-chuva sim. Em seguida ele pôs a cadeira de volta em seu lugar e eu pude terminar de montá-la. Por outro lado, ele me protegeu da chuva.

Por isso, hoje eu ganhei. Por quê? Porque eu escolhi fazer do meu dia um dia para dar tudo certo. Não disse aquilo que tive vontade de dizer ao ser confrontado com uma situação adversa. Muitas vezes, nessas situações, a primeira palavra, expressão ou avaliação que nos vem à mente deveria ser a última a ser dita. Naquele momento, ao não falar eu exerci o meu autocontrole, um dos pilares da Inteligência Emocional, por isso eu ganhei. Não quer dizer suprimir as emoções, mas saber o que fazer com elas para preservar e estimular as relações interpessoais, outro dos pilares da Inteligência Emocional.  Por isso eu ganhei de novo. Tudo que merece ser dito pode ser dito, mas depende de como é dito. Além do mais, ganhei a ajuda com o guarda-chuva ao permitir que aquele senhor exercesse a sua bondade.

Situações semelhantes ocorrem no ambiente organizacional, em que de uma forma ou de outra todos podem ajudar, desde que sejam respeitados e ouvidos. Senão, por que estariam na organização? Por fim, ganhei um amigo, ´porque aquele senhor e eu fomos ao mesmo lugar onde esperamos por um bom tempo e conversamos amistosamente.

Moacir Rauber

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