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EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA

Expansão da consciência!

Em 1986 fiquei paraplégico e parecia que o mundo tinha acabado. As possibilidades pareciam reduzidas e acreditava que não poderia mais dançar, que não seria possível jogar futebol, que não teria mais uma vida amorosa e que a vida, talvez, não valesse mais a pena. A ideia de suicídio rondava a cabeça. Precisava expandir a consciência sobre as possibilidades, porque eu somente via as limitações. O que fazer? Enveredar pelo caminho do álcool e das drogas para fugir da realidade? Tomar um alucinógeno? Foi nesse momento que tive uma oportunidade de ouro: passar três meses no hospital. Como assim?

Num esforço de minha família e da clínica de fisioterapia me levaram para um hospital de reabilitação. Não se tratava de recuperação. A missão do hospital era ensinar a cada um dos pacientes a viver com as capacidades disponíveis. Ao chegar no hospital via outros jovens, que assim como eu, estavam paraplégicos ou tetraplégicos. A primeira reação foi a de rejeição, porque eu queria a recuperação. Na condição física de paraplégico, parecia que não conseguia fazer nada sozinho. A vida seria muito limitada. Será? A interação com os médicos, enfermeiros, colegas de reabilitação e os voluntários, devagarzinho, expandiu a consciência. Comecei a perceber que podia sair da cadeira para a cama sozinho. Era diferente do que fazia antes, mas era possível. Exigia mais esforço. Tomar banho sozinho, igualmente, era possível, embora precisasse mais espaço. Todos os novos movimentos precisavam da consciência plena. Num segundo momento, me convidaram para jogar basquete sobre rodas e praticar a natação. Vi que o esporte era uma possibilidade. Os voluntários mostravam as possibilidades, fazendo que o processo de expansão da consciência me mantinha em contato com a realidade ordinária das coisas e das pequenas conquistas. Dançar também estava ao meu alcance, assim passei a ter a sensação de que eu podia tudo! Voltava a olhar para o céu e agradecer o privilégio da vida. As limitações existem? Sim, é óbvio. Existem para mim e existem para você. Existem para quem usa cadeira e para quem vai de bicicleta. Existem para quem vai de carro ou de ônibus. Existem para quem vai de avião ou para quem vai de trem. Depende de como você olha para o ambiente que te rodeia. O que você quer ver? Trata-se de uma escolha que vai permitir que você veja as possibilidades ainda que com diferentes capacidades, sem comparações. Não é utopia, para expandir a consciência basta observar aquilo que se tem. O que você tem? Lembre-se: você é incomparável, você é humano, você é DIVINO!

Você quer expandir a consciência? Não é preciso recorrer a nenhuma droga ou alucinógeno, basta se manter em contato com a realidade que as possibilidades são inúmeras, independentemente de suas capacidades. Destaco um exercício infalível para a expansão da consciência: o trabalho voluntário em instituições de caridade. Contribua numa instituição que ajuda no combate a fome que a tua fome de expansão da consciência será atendida. Voluntarie-se num hospital psiquiátrico de pessoas sem família que a tua consciência sofrerá um processo de expansão irreversível com a gratidão pelos dons e capacidades que tem. Doe parte do seu tempo para uma instituição que atende idosos abandonados que as histórias contadas e escutadas te levarão para outra dimensão expandindo qualquer limitação que você pense ter. Não se compare, porque você é singular e plural; você é único e múltiplo. A expansão da consciência é uma opção individual. Use a sua imaginação de forma consciente. Faça um movimento deliberado. Tenha na imaginação e no movimento o AFETO. De carro? A pé? Em cadeira de rodas? Não importa. Para expandir a consciência saiba que você afeta o mundo e com AFETO o mundo é melhor.

Depois, caso queira, tome uma taça de vinho e durma com a consciência tranquila.

Moacir Rauber

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Política: a arte de fazer cortesia com o chapéu alheio

Ao terminar a mudança havia sobrado algumas coisas no apartamento. Conversei com uma amiga para dar um destino aos utensílios domésticos que ficariam para trás. Eram coisas. O mais importante levava comigo, a experiência de ter vivido naquele país e com aquelas pessoas. Porém, a coisas precisavam de um destino. Assim, a minha amiga ficou com a chave da casa e da garagem. Encostou o seu carro na vaga do apartamento e carregou o que era possível. Quando desceu pela segunda vez, observou que ao lado da vaga estava largada uma cadeira de rodas. Indagou-se, Hum, será que ele esqueceu de mencionar a cadeira? Eu sei que ele tinha duas… referindo-se a mim, usuário de cadeira de rodas. Resolveu levá-la para uma instituição que fazia trabalhos humanitários. Ela doou a cadeira de rodas, sentindo-se muito bem com a oportunidade de ajudar outras pessoas. Agora somente faltavam mais algumas pequenas coisas que ela pegaria na sua última viagem até o apartamento. Lá chegando ela percebeu que havia um senhor com um ar desolado em frente ao apartamento. Ela perguntou:

– Posso ajudá-lo?

– Não sei o que aconteceu. Alguém levou a cadeira de rodas da minha esposa que estava na garagem. Isso nunca aconteceu antes. Sem a cadeira ela não vai poder entrar em casa… Respondeu o senhor sem saber o que fazer.

A minha amiga ruborizou-se. Gaguejou. Não sabia o que dizer. Deu uma desculpa e saiu atrás da cadeira de rodas para poder devolvê-la. Deixou-a no lugar de onde a havia retirado justamente a tempo de que a verdadeira dona da cadeira de rodas pudesse usá-la. Ao contar-me a história a minha amiga e eu rimos muito. Ela foi do céu ao inferno em pouco tempo. Sentiu-se maravilhosamente bem ao fazer a boa ação de doar a cadeira de rodas. Porém, na sequência sentiu-se muito mal ao descobrir que a cadeira de rodas que ela havia doado não era aquela que ela havia imaginado. Ela havia feito uma cortesia com o chapéu alheio. Entretanto, ao tomar consciência, pode se redimir a tempo. E se fizermos um paralelo com o sistema político brasileiro? No meu ponto de vista, ele está permeado de políticos que fazem cortesia com o chapéu alheio de forma consciente, porém inescrupulosa. Como assim?

Os políticos administram bens, propriedades e recursos que não lhes pertencem, porém basta escutar os discursos de qualquer um ou ver as placas comemorativas encontradas nos prédios públicos, nas pontes, nas rodovias ou em qualquer outro patrimônio público para constatar essa triste verdade. Nos discursos eles afirmam, Eu fiz essa obra para vocês…, dando-nos a impressão de que tiraram dinheiro do próprio bolso para executá-la. Nas placas colocadas nas obras inauguradas na gestão de qualquer político a auto-exaltação chega a ser vergonhosa. Os políticos fazem cortesia com o chapéu alheio com a consciência inescrupulosa de quem não se constrange em ser aclamado sem merecimento.

É importante constatar algumas diferenças fundamentais entre a gafe da minha amiga e a ação dos políticos. A minha amiga doou a cadeira de rodas sem a consciência de que não era sua, enquanto os políticos fazem parecer que é deles aquilo que é dos outros. A minha amiga quis fazer uma verdadeira boa ação, enquanto os políticos, quando o fazem, fazem apenas a sua obrigação. A minha amiga quis ajudar alguém sem esperar nada em troca, enquanto os políticos somente fazem para serem aclamados. Enfim, fazer uma cortesia parte do pressuposto de que se tem a real intenção de se fazer algo bom com aquilo que é de sua propriedade ou que está sob a sua guarda. Exatamente como a minha amiga fez. Com relação aos políticos? Espero que um dia tenhamos políticos que façam a gestão dos recursos públicos sem que isso nos pareça uma cortesia.

Moacir Rauber

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Fonte: http://aguiarsan.blogspot.com/2015/09/cortesias-com-chapeu-alheio.html