Não mate o burro…

O caipira tinha lá o seu burro que usava para fazer as tarefas do sítio, principalmente as mais pesadas. O burro nunca reclamava. Às vezes empacava, mas isso era o de menos. O que incomodava o caipira era que o burro comia, a seu ver, demais. Todo dia precisava de várias porções de farelo de milho, além de muito pasto. Um dia ele foi até a venda do povoado tomar a sua pinguinha e aproveitou para reclamar das despesas que o burro dava.  Ao seu lado, um desconhecido ouviu a conversa. Assim que teve a oportunidade comentou:
– Você sabia que eu tenho um jeito de ensinar um burro a viver sem comer?


O caipira fica todo interessado, mas desconfiado, responde:
– Credito não. Só vendo. Como pode isso?

O sujeito então explica:
– É verdade sim. Você pode ensinar o seu burro a não comer também.
– Como é que faço isso, sô?
– Você faz assim. Amanhã você dá a comida normal para o seu burro. No dia seguinte você dá um pouco menos. E assim você vai diminuindo até ele se acostumar a não comer mais nada. Bem fácil.

O caipira ainda meio desconfiado fala:
– Sei não…

O sujeito então mostra para o caipira um belo burro em frente a venda e diz:
– Tá vendo? Aquele burro bonito é meu. Já faz tempo que ele não come.

O caipira todo entusiasmado vai para casa. No dia seguinte começa a aplicar a nova técnica e diminui a ração do seu burro. Cada dia ele dá um pouco menos de comida para o seu burro. Por outro lado, o trabalho continua o mesmo. Assim segue o novo ritmo, dia após dia. O caipira fica contente porque a técnica está dando certo. O burro já quase não come mais nada. Um belo dia, porém, ao se levantar e ir até o curral ele vê o seu burro morto. Ficou desolado. Pensou consigo mesmo:
– Oh, burro, ocê morre logo agora que te ensinei a num comê nada…

 Pois é. Não há burro que possa viver sem comer. É obrigatório que ele se alimente todos os dias, dia após dia durante toda a sua vida. Com o nosso burro interior o processo é semelhante. Não o deixe morrer de inanição. Estimule-o todos os dias abrindo a sua mente. Amplie o seu conhecimento e as suas competências dia após dia. Quem já se acostumou a viver sem aprender nada de novo por muito tempo, provavelmente, já matou o seu burro intelectual há muito tempo, só ainda não percebeu.


Alimente o seu burro. Estimule-o. Diminua-o, mas não o mate, pois se você matá-lo ele se tornará onipresente.


Sempre que precisar…

Ontem aconteceu um momento muito especial nesta minha ainda curta carreira de palestrante: um evento para pessoas que trabalham com pessoas com as quais não queremos mais viver. Como assim? É, tive a oportunidade de fazer uma palestra para pessoas que trabalham em unidades prisionais. Estiveram presentes agentes penitenciários, vigilantes, psicólogos, advogados, assistentes sociais, professores, voluntários e também a diretora de uma unidade prisional. Como falar de motivação e superação para quem trabalha com infratores?
Na verdade o simples exercício de atividade profissional em ambiente prisional é um exemplo real de aplicação de todos os conceitos e exemplos que se poderiam usar para descrever motivação e superação. Trabalhar num ambiente em que circulam aqueles que nós não queremos conosco requer muitas das competências esperadas para os profissionais do século 21. Há que se ser resiliente, porque a pressão é contínua. Há que se ter iniciativa, porque o inesperado é uma constante. Há que se saber trabalhar em equipe e ter desempenho, porque a própria vida pode estar em jogo. Certamente que existem problemas de relacionamento, de ambiente, de condições de trabalho, entre outras dificuldades inerentes à qualquer organização que se proponha a existir. Abordaria isso também, mas a principal ideia seria a de resgatar a importância do trabalho daqueles que trabalham em unidades prisionais, apesar da não valorização por nós, restante da sociedade.
Antes de iniciar o evento me perguntava: será que eles sabem da importância do próprio trabalho? Será que eles se dão conta da beleza do trabalho de evitar que crimes sejam cometidos? Talvez soubessem, mas me propus a realimentá-los com isso. Fiz questão de destacar a importância do trabalho e do propósito grandioso ao se dedicar a trabalhar com um público tão difícil. Cada apenado que não está nas ruas, potencialmente, deixa de cometer crimes. Você eu vivemos melhor por isso. Cada apenado que cumpre a sua pena e é ressocializado é um benefício para você e para mim. Essas são informações que não são divulgadas e não aparecem nas estatísticas. Ao considerar somente as estatísticas brasileiras divulgadas nós estamos entre os países mais violentos do mundo, com aproximadamente 26,5 homicídios por cada grupo de 100 mil habitantes; as estatísticas também mostram que de cada 100 apenados que cumpriram suas penas 70 retornam ao crime; e os noticiários mostram, constantemente, casos de corrupção no sistema penitenciário. Como esses dados são revelados, muitas vezes, parece que a culpa toda é do sistema prisional. Sabemos que não é. Eles trabalham com o resultado das nossas falhas como sociedade. O sistema prisional não é a causa. Ainda mais. As estatísticas e as notícias são dadas como se aquilo que ocorre no ambiente prisional fosse algo diferente da realidade em outros ambientes, o que também não é verdade. Assim como no ambiente político e profissional de qualquer área os trabalhadores do sistema prisional são um extrato da sociedade. Nem melhores, nem piores, apenas num ambiente diferente do qual nós queremos distância. Reforçando, o que as estatísticas não mostram e os noticiários não imaginam nem comentam são os crimes que deixam de ser cometidos porque infratores estão detidos e estão sob os cuidados de todos aqueles que trabalham no sistema prisional. Sobre isso pouco se fala.
Assim, o que me propus a fazer foi resgatar a importância do trabalho de quem trabalha no sistema prisional e, principalmente, agradecer. Agradeci por mim e por outras pessoas que concordam com esse ponto de vista. Esse foi o foco, porque dificilmente se vê alguém indo a uma penitenciária para parabenizar as pessoas que ali trabalham e cumprem o seu papel. Agradecer pelo trabalho que já fazem, apesar da nossa (sociedade) ausência. Gratidão por cada crime que não foi cometido porque ele estão lá, dia após dia, dedicando-se e colocando a própria vida em risco pela nossa (sociedade) omissão. Assim, a única coisa a ser feita por mim era dizer, Muito obrigado!
E foi uma noite incrível. Apesar de no início eu estar um pouco tenso pela responsabilidade de falar com um grupo tão especial, ao final do evento o ambiente estava completamente descontraído. Fotos. Conversa com um e com outro. Trocas de impressões e experiências. Um aprendizado real, pelo menos para mim. 
Na hora da despedida, por último, falei com a diretora, que disse:
Muito obrigado, Moacir, ficamos muitos felizes com a tua vinda. Sempre que precisar estamos à disposição…
No final da frase ela deu um sorriso meio maroto. Não me dei conta e respondi, sinceramente:
Não precisa agradecer. Se eu precisar…
Interrompi a fala. Logo o silêncio foi preenchido pela diretora, que com um grande sorriso, disse:

Espero que não precise.

Casa ou viagens?

Outro dia ouvi uma história interessante sobre sonhos, desejos e foco.
Uma mulher tinha um desejo muito forte de comprar ou construir a sua casa. Durante toda a sua vida havia morado de aluguel. Já não aguentava mais. Sempre que passava por uma casa que representava aquilo que imaginava para si mesma ficava admirando, Um dia ainda terei uma casa assim! Às vezes parava nas lojas de material de construção, perguntava os preços de diversos itens. Todos os dias trabalhava pensando nisso, embora jamais houvesse feito nada de concreto para esse fim.
Por outro lado, ela nutria um sonho desde a sua infância: conhecer o mundo. Viajar por todos os lugares. Cidades pequenas e grandes com museus, igrejas milenares e monumentos dos impérios de antigos povos. Paisagens naturais e exóticas como cachoeiras, savanas, estepes, cerrado ou florestas. Tudo lhe enchia a imaginação com as mais belas aventuras. Qualquer possibilidade de pegar a estrada a entusiasmava.

Por fim, quando ela juntou o desejo da casa própria e o sonho de conhecer o mundo ela encontrou o foco: comprou um motorhome!

Como surge a concorrência?

Como surge a concorrência?
Veja como são as coisas. Muitos gestores e empreendedores morrem de medo da concorrência, entretanto, muitas vezes, não respondem a uma pergunta: como ela surge? A concorrência surge pela necessidade de atendimento de diferentes mercados, pela criatividade dos empreendedores, pela substituição de produtos e serviços por alternativas às vezes sequer pensadas, pela replicação de modelos que dão certo e pelas oportunidades geradas nos modelos que não dão certo. Muitas boas ideias terminam por gerar mais concorrência do que resultados. Depende de como são geridas. Explicando um pouco mais. A concorrência pode surgir pelo mau atendimento aos consumidores que compram uma boa ideia presente num produto ou serviço. O mau atendimento pode estar na divulgação, na venda e na pós-venda.

Estive na cidade de Marechal Cândido Rondon, Oeste do Paraná, e vi como pode nascer um concorrente a partir do mau atendimento nos serviços de pós-venda. Tenho acompanhado com muito interesse o surgimento do impressionante mercado das impressoras 3D. Elas se propõem a imprimir de tudo, como pequenas peças personalizadas, objetos domésticos de uso diário, brinquedos, comidas com formatos exóticos, protótipos perfeitos antes da produção em massa, enfim, permitem imprimir criações customizadas de qualquer ideia. Caso seja possível imaginar deve ser possível imprimir. Essa é a ideia. E o mercado potencial é tão grande que existem especialistas de mercado que definem as impressoras 3D como fábricas individuais e que não está longe o dia em que cada pessoa terá uma dessas pequenas fábricas em casa. Os países desenvolvidos saíram na frente nesse mercado. Estados Unidos e Inglaterra produzem impressoras 3D de alta qualidade. Porém nem tudo é perfeito. Uma empresa em Marechal Cândido Rondon importou uma impressora 3D para fins de produzir protótipos industriais de peças caras antes de fazer o molde final. O equipamento chegou. A ansiedade era grande. Começaram os testes. A ideia era boa, mas o equipamento nem tanto. Muitas dúvidas de uso. Tentativas de contato com a empresa produtora foram em vão. Ocorreu a quebra de uma peça. Várias novas tentativas de contato para a sua reposição. Nada feito. Nem contato, nem solução. O atendimento pós-venda se mostrou inexistente. Isso gerou a busca por soluções internamente. Assim, produziram uma peça para substituir aquela quebrada. Esmiuçaram a máquina. Dissecaram todas as partes. Entenderam todo o processo. Qual foi o resultado? Se era possível produzir uma peça seria possível produzir a impressora inteira… Foi assim que os antes clientes e importadores das máquinas de impressão 3D criaram um nova empresa de produção de máquinas de impressão 3D (http://impressora3dcloner.com.br/). Aproveitaram todas as boas ideias presentes no produto importado, aperfeiçoaram e eliminaram as falhas encontradas. Por fim, lançaram um novo produto com características similares, porém muito superior e mais barato, além de oferecer um serviço pós-venda preocupado com o consumidor. Eis aí um exemplo real de como surgem os concorrentes pelo mau atendimento dos clientes.

Muitas empresas ainda pensam naquilo que têm a oferecer para os potenciais clientes sem se preocupar com aquilo que eles realmente querem ou precisam. Onde a sua organização se enquadra?
E mais, como a sua organização tem atendido os clientes? As estratégias de divulgação estão dimensionadas ao público pretendido? Os canais de venda e a forma de atendimento são adequadas aos seus clientes? O serviço de pós-venda funciona para o cliente?

Quais os cuidados que a sua organização tem para não criar os seus concorrentes pelo mau atendimento?

Quais as comparações que você faz?

Muitas vezes, pode-se analisar melhor as coisas quando se pode compará-las, porque então se consegue identificar certas características únicas. Comparar é uma maneira de ver as coisas isoladamente. Assim, para se obter a clareza que se necessita para identificar um problema, depende-se do contraste para ampliar os aspectos de diferenciação que podem influenciar na tarefa de persuasão e na capacidade de mover os outros. Pode-se ver mais facilmente um ponto preto num fundo branco. Mas tem uma pergunta importante a ser feita: compará-las a que?
O enquadramento Menos é Mais
Num experimento realizado com uma tenda de venda de geleias foram exploradas duas situações. Na primeira, os vendedores ofereciam vinte diferentes tipos de sabores de geleia. Na segunda, os vendedores ofereciam apenas seis tipos. Depois de trabalhar durante uma semana com cada situação eles obtiveram dados reveladores. Mais clientes pararam na tenda que oferecia vinte sabores de geleia, porém apenas 3% compraram. Na segunda tenda, com a oferta de apenas seis sabores, 30% fizeram compras. Em muitas circunstâncias acrescentar algo pode diminuir o valor.
Por isso, num mundo saturado de informações, opções e alternativas a clareza na oferta dos produtos e serviços é tão importante. Enquadrar as opções das pessoas de uma maneira que restrinja as alternativas pode ajudá-las a clarificar a escolha. Em resumo: menos pode ser mais!

Como está a sua oferta?

No próximo post a comparação baseada na experiência.
Extraído de Pink, Daniel (2013). To sell is human. Chapter 6.

Você tem descoberto bons problemas?

Num experimento sobre criatividade, Csikszentmihalyi e Getzels confirmaram que os descobridores de problemas são mais criativos do que os resolvedores de problemas. Para isso estudaram um grupo de artistas para quem foi proposto uma tarefa. O grupo se dividiu entre aqueles que logo se propuseram a cumprir a tarefa e aqueles que a questionaram. Desse modo, um grupo procurava resolver um problema, enquanto o outro grupo tentava encontrar um problema. Os cientistas acompanharam os estudantes por mais dezoito anos e descobriram que aqueles que inicialmente se preocupavam mais em descobrir problemas eram significativamente mais bem sucedidos do que aqueles que partiam imediatamente para a resolução dos problemas.

Por isso, a qualidade do problema proposto é um precursor da qualidade da solução alcançada, concluíram os cientistas. Enfim, a descoberta e a criação de problemas, muito mais do que qualquer conhecimento superior ou habilidades técnicas ou artesanais, são as que muitas vezes determinam a criatividade da pessoa em sua área. Os descobridores de problemas são aquelas pessoas que mais avanços produzem, uma vez que têm diferentes fontes de informações, experimentam abordagens variadas e estão dispostos a mudar de direção durante o projeto, mesmo que, às vezes, demoram mais para cumprir o trabalho do que os seus colegas.

Os cientistas citam como exemplo a vontade de uma pessoa em comprar um aspirador de pó. Caso estivéssemos 20 anos atrás o sujeito iria até a loja e se informaria com o vendedor quais as melhores características e qual o modelo mais indicado para você. Hoje, o comprador, antes de ir para a loja, já pesquisou na internet todas as particularidades e especificações técnicas, além de comparar os preços dos diferentes distribuidores. Pode simplesmente comprar sem sair de casa. Não precisa do vendedor. Entretanto, quem trabalha com vendas ou na tarefa de mover pessoas, a questão pode ser ainda outra. Quem disse que ele precisa de um aspirador? E se o comprador estipulou o problema errado? Ao invés de comprar um aspirador talvez o real problema esteja na vedação das janelas? Ou ainda nos carpetes muito velhos que estão na sala? Talvez ele não deveria comprar um aspirador, mas contratar o serviço de uma cooperativa que presta esse serviço próximo da sua área de uma forma mais rápida, eficiente e barata? Se eu sei o meu problema é mais fácil resolvê-lo. Talvez eu precise de alguém que me ajude a encontrá-lo.
Duas habilidades importantes no passado e hoje. Enquanto no passado era importante ter a informação, hoje é importante saber classificar a informação entre tanta disponível, retendo o que é mais relevante. No passado era importante saber dar as respostas, enquanto hoje é importante saber fazer as perguntas, descobrindo possibilidades para trazer a tona questões latentes e encontrar problemas inesperados. É determinante saber que para se ter uma boa solução é obrigatório que se tenha a questão certa. Saber definir o problema é prioridade. 

Você tem descoberto bons problemas? Se sim, além de ser um bom descobridor você também poderá ser um ótimo resolvedor de problemas. 

Extraído de Pink, Daniel (2013). To sell is human. Chapter 6.

Qual é o seu problema?

Clareza, para quem trabalha com pessoas, é a capacidade de ajudar os outros a avaliar a própria situação de maneiras novas e reveladoras, identificando problemas, possibilidades ou benefícios que elas sequer sabiam ter. Ter essa percepção é uma qualidade necessária na tarefa de mover pesssoas. Acrescente-se a isso a descoberta de Hershfield e uma equipe de pesquisadores de diferentes partes do mundo, de que nós nos entendemos como pessoas diferentes entre o dia de hoje e a data em nos que projetamos num futuro distante. Porque, se no futuro nós seremos pessoas diferentes em nossa própria mente, também os problemas serão outros. Ter isso claro também é fundamental.
Pessoas competentes em mover outras pessoas, em geral, são habilidosas em resolver problemas, conseguindo avaliar e prospectar necessidades, analisar previsões e entregar ótimas soluções. A habilidade para resolver problemas continua importante. Porém, nos dias de hoje em que a informação é abundante e democrática mais do que limitada e privilegiada, essa habilidade é relativamente menor. Ou seja, muito mais importante do saber a resposta eé saber fazer a pergunta. Se eu sei exatamente qual é o meu problema (se eu caso ou compro um bicicleta) eu tenho a possibilidade de encontrar as informações de que preciso para tomar a melhor decisão sem nenhuma assistência. Os serviços de terceiros são muito mais valiosos quando eu estou confuso, perdido ou completamente sem noção sobre o meu real problema. 

Portanto, a habilidade em mover pessoas muito mais do que resolver problemas nos remete a necessidade de “encontrar o problema”. Está claro para você qual é o seu problema? Se sim, a solução, provavelmente, existe e você poderá encontrá-la. Se não, o seu maior problema é não saber qual é o problema?
Pink, Daniel (2013). To sell is human. Chapter 6.

Como você está? Positivo ou negativo?

Muito tem se falado no pensamento positivo ou positividade como a força que movimenta as pessoas para que alcancem os seus objetivos. A simples menção dessas palavras associadas a ideia de motivação faz com que muitas pessoas torçam o nariz ou saiam correndo da sala. Não lhes tiro a razão, uma vez que isso tem sido usado de maneira indiscriminada e superficial por um número considerável de pessoas, mitas vezes despreparadas para abordar o tema. Metáforas e conceitos vazios proferido por pessoas levianas. Entretanto, há que se considerar o que muitas pesquisas mostram e a variante positiva está lá, presente, mostrando a sua força em diferentes domínios da vida, inclusive na arte de mover pessoas na direção por elas escolhida.

Daniel Pink (2013) mostra, por um lado, pesquisas em que as emoções encontradas em momentos positivos, como a valorização, a alegria, o  interesse, a gratidão e a inspiração abrem a mente das pessoas sobre as possibilidades, tornando-as mais receptivas e mais criativas. Por outro lado, as emoções negativas, como a raiva e a culpa, estreitam a nossa visão, tornando-nos reativos e defensivos. As reações advindas das emoções podem ser proporcionais àquilo que elas representam. Estou assustado, então eu fujo. Estou com raiva, então eu brigo. Estou satisfeito, então eu produzo.

Por esse motivo, o efeito de ampliação, de estímulo e de abertura das emoções positivas pelas pessoas, incluindo os líderes, tem consequências importantes no trabalho de mover pessoas e de produzir resultados. Isso porque as emoções também são contagiosas, transformando adversários em aliados e proporcionando benefícios para as partes envolvidas. Quando ambos saem satisfeitos de uma mesa de negociação as transações posteriores são mais prováveis.

Fredrickson e Marcial Losada, citados por Pink, conduziram um estudo sobre emoções positivas e negativas usando um modelo matemático para analisar o comportamento de uma equipe. Os resultados são reveladores, mostrando que os céticos com relação ao excesso de positividade também têm lá as suas razões. Os pesquisadores gravaram as emoções positivas e negativas de um grupo de participantes durante quatro semanas, calculando um índice de relação, comparando-o com os itens de bem-estar geral medidos. Eles descobriram que o ponto de viragem para que a positividade tenha efeitos positivos é 3 por 1. Ou seja, três emoções positivas, como gratidão, interesse ou contentamento, para um sentimento negativo, como raiva, culpa ou constrangimento, faz com que as pessoas passem a se sentir bem. Nessa proporção as pessoas florescem e fazem florescer o seu entorno de maneira positiva.

A positividade, entretanto, também tem um limite superior. Muita positividade pode ser improdutivo. Quando ultrapassar a proporção de onze emoções positivas para uma emoção negativa a positividade pode mais prejudicar do que ajudar. Precisa-se de equilíbrio sob o risco de que a vida se torne um festival de ignorância onde a autoilusão sufoca qualquer iniciativa de aperfeiçoamento. As emoções negativas nos dão um feedback real de nossa performance, informando-nos o que está funcionando, o que não tem funcionado e o que podemos fazer para melhorar. Há que se encontrar o ponto de equilíbrio.

Esse equilíbrio será saudável para calibrar a nossa capacidade de sonhar sem perder o contato com a realidade. A positividade é a força que nos empurra para o céu, enquanto uma dose de negatividade nos mantém com os pé no chão. A positividade nos faz aspirar algo, com isso produzindo mais e melhor. A negatividade nos permite a autocrítica, fazendo com isso que revisemos processos e comportamentos facultando melhorias. Combinar a positividade e a negatividade apropriadamente nos manterá à tona no mundo real. Esse equilíbrio nos proporcionará uma vida plena, mas não tola.


Como você está? 
Motivado ou crítico? 
Há equilíbrio entre a sua positividade e a sua negatividade?

Pink, Daniel (2013). To sell is human. Chapter 5.

Como você se explica quando as coisas não dão certo?

As conversas internas que nós mantemos em paralelo àquilo que falamos e enquanto escutamos são normais, naturais e acontecem, queiramos nós ou não. Não dependem da nossa vontade. Elas estão aí. Mas elas também servem para que nós nos expliquemos frente a um fato. É a conversa interna que serve para nos justificar perante o ocorrido, seja ele positivo ou negativo.

Entre os seres humanos existem diferenças consideráveis nos estilos de conversas internas que servem de explicação. Existem aqueles que adotam o estilo negativo de explicação dos eventos ocorridos para si mesmos. São pessoas que desistem mais facilmente e que, muitas vezes, se tornam impotentes mesmo em situações nas quais poderiam atuar, pois entendem as más situações como permanentes, generalizadas e pessoais. Essas pessoas, por vezes, acreditam que as condições negativas são ou serão duradouras, que as causas são universais mais do que específicas nessas circunstâncias e que elas são as culpadas. O estilo pessimista de explicação pode ser debilitante, diminuindo a performance, provocando a depressão e transformando reveses em desastres.

Se por um lado quem tem estilo de explicação pessimista sofre e se torna menos produtivo, isso quer dizer que quem tem estilo otimista é mais feliz e mais produtivo? Para esse fim os pesquisadores procuraram as respostas numa área onde desapontamento é uma constante, em que os seus componentes são confrontados diariamente com reações negativas: vendas.

Os pesquisadores acompanharam por dois anos aproximadamente cem vendedores de seguros. No primeiro contato pediram que respondessem ao questionário para identificar se eles adotavavam um estilo otimista ou pessimista de explicação. Depois mediram a performance dos vendedores no período citado. Os resultados foram inequívocos. Os vendedores que tinham um estilo de explicação otimista para os fatos venderam 37% mais do que os pessimistas. Os vendedores que se posicionavam entre os 10% mais otimistas venderam 88% a mais.

Em outras palavras, os vendedores que tinham um estilo otimista de explicação, que viam a rejeição como temporária em vez de permanente, específica em vez de universal, e ligadas a fatores externos em vez de pessoal, venderam mais e permaneceram em seus trabalhos por mais tempo. Otimismo, ao que parece, não é um sentimento vazio. É um catalisador que pode oferecer a persistência como suporte nos constantes desafios, estimulando a confiança de que podemos influenciar nosso entorno.

Assim, os otimistas estão equipados para manter o equilíbrio entre as forças que nos impulsionam e que nos seguram. Não se trata de um otimismo cego, mas de um otimismo flexível com os olhos abertos.

Como é o seu estilo de explicação para eventos negativos?

Pink, Daniel (2013). To sell is human. Chapter 5.

Somos únicos. Somos múltiplos.