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Até quando vamos ensinar sobre compaixão?

Recentemente, fiz um curso sobre meditação e liderança que foi espetacular. Foram destacadas as habilidades de um bom líder, entre elas a sua capacidade de ser resiliente, de atuar empaticamente, de praticar a bondade e de exercer a compaixão nas suas ações de liderança. Foram usados exemplos de líderes e farta fundamentação teórica sobre liderança com base na neurociência, na psicologia positiva e em muitos estudos científicos que exploram as questões comportamentais. Destaque foi dado para o desafio de as pessoas estarem presentes no local onde elas se propõem a estar e para isso a meditação é indispensável. Tudo faz sentido. Pode-se observar que em muitas escolas de negócios essas habilidades são ensinadas para que virem competências que o aprendiz exiba no seu dia a dia de relacionamentos, uma vez que somos seres sociais e interdependentes. Foram inúmeros os momentos de reflexão e de conexão com os outros participantes que me esgotaram física e emocionalmente. Ao final do segundo dia, retornei e deitei na cama. Liguei a TV que estava sintonizada num desses canais que apresentam a vida selvagem. O programa explorava a organização de uma alcateia de lobos e o processo de aprendizagem a que os filhotes são submetidos. Incrível? Os lobos não têm escola. Os lobos não têm aulas sobre os conceitos de resiliência, de empatia, de interdependência ou da importância de se viver o momento presente. Os lobos tampouco ensinam sobre compaixão e bondade, porém o mais incrível é que eles aprendem. Como?

Os lobos aprendem por meio do exemplo dos pais e dos mais velhos do seu grupo familiar e social. Eles também são animais sociais. E como eles aprendem sem escola? Simplesmente porque os adultos vivem as competências que os filhotes aprendem. Um lobo pai não precisa ensinar ao seu filhote um conceito descrito num artigo científico sobre resiliência ou sobre empatia. Ele será resiliente e saberá ser empático com os demais elementos do grupo no seu dia a dia, porque se ele assim não o fizer colocará a todos em risco. E é isso que o filhote vai aprender. O lobo pai não precisa pegar um texto explicativo sobre o reflexo das suas ações na vida de todos os integrantes da alcateia para que o filhote entenda o conceito de interdependência, porque todas as suas ações no momento de uma caçada demonstram o conceito na prática. E é isso que o filhote vai aprender. Um lobo pai não precisa explicar para o seu filhote que é importante estar plenamente presente onde ele se propõe a estar, porque se ele não o fizer poderá não ter outra chance. E é isso que o filhote vai aprender. Os lobos, e os outros animais, simplesmente são o que eles são e estão onde eles estão. E a compaixão e a bondade? Basta observar como eles se relacionam com os filhotes e com os seus semelhantes para se perceber na prática a compaixão por meio de ações atenciosas e a bondade no comportamento íntegro.

E nós, seres humanos, autodenominados como os mais evoluídos do nosso planeta, o que fazemos? Ensinamos conceitos de resiliência, de empatia e de interdependência, mas não vivemos o conceito. Refletimos sobre o grande desafio de não ficarmos presos nem no passado e nem no futuro, mas quase sempre estamos ausentes do presente. E quando ensinamos sobre compaixão e bondade como uma qualidade de liderança não é a incredulidade que acomete a maioria? O que podemos aprender como os outros animais ou reaprender com os nossos antepassados? Que ensinar um conceito é muito diferente do que viver um conceito.

Desse modo, …

…desejo que num futuro não tão distante não se precise mais ensinar nos bancos escolares os conceitos de resiliência, de empatia, de interdependência e, muito menos, da importância da compaixão e da bondade. Por quê? Porque as pessoas simplesmente viverão vivendo os conceitos. Para isso, precisamos nos “animalizar” um pouco.

Moacir Rauber

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