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O QUE DE PIOR PODE ACONTECER COM UM VINHO DE QUALIDADE?

O que de pior pode acontecer para um vinho de qualidade?

O diálogo transcorria com as amenidades de uma conversa que desconversa e prepara para uma conversa que revela. “Como você está?” a pergunta que quase sempre tem como resposta, “estou bem” num automatismo que oculta a realidade interna de quem responde. Nesse momento a emoção não aparece, assim como não se revelam os sentimentos. A conversa segue e aparecem as reclamações. Algumas perguntas mais e as respostas já não são tão evasivas. A pessoa está descontente no trabalho porque não recebeu a promoção que esperava; está revoltada com o casamento, porque o outro nunca está contente; e a pessoa entende que os amigos e a família não o valorizam. Parece que o vinho está um pouco azedo ao concluir:

– Tudo dá errado. Não entendo… se eu nunca roubei ninguém…

Eis um ponto de inflexão. Você acredita que porque nunca roubou ninguém merece ser promovido na empresa, aplaudido na rua e reconhecido em casa? A expressão traz à tona pontos fundamentais da nossa vida organizacional, social e familiar em que o nosso melhor e o nosso pior estão lado a lado. Há uma tensão forte e frágil entre o melhor e o pior que pode nos levar de um lado a outro sem que nos apercebamos. São Jerônimo dizia que a “corrupção do teu melhor é o teu pior”, por isso, quando alguém se contenta em simplesmente não roubar ninguém, provavelmente, está próximo do seu pior. Reforçando o pensamento de que as duas versões estão muito próximas, a pergunta é instigante: “o que de pior pode acontecer a uma garrafa de vinho de alta qualidade?” (Pe. Checo). As respostas variavam entre quebrar e azedar. Porém, caso a garrafa se quebre a integridade permanece intacta e o vinho morre como mártir. E, azedar não acontece com um vinho de alta qualidade, porque o tempo o deixa melhor. Assim, o pior que poderia acontecer seria o fato de que pusessem água nele, porque isso representaria a corrupção da sua melhor versão, transformando-o num vinho aguado. Talvez o fato de “não roubar” seja a versão aguada do meu interlocutor que sabe que pode muito mais. Desse modo, para não cair na tentação de se satisfazer em não roubar ninguém surge outra pergunta: o que você sabe que fez bem e, quando quer, faz bem? Responder a essa questão de maneira autêntica vai expor as nossas fragilidades e vulnerabilidades, porém vai nos mostrar que podemos mais na organização, na família e na sociedade. Cada um de nós vai estar sujeito as intempéries de um dia com as variações de clima e temperatura, porém aquele que estiver bem “envasado” com os seus valores, tendo como base a espiritualidade, terá a sua integridade preservada. Essa é a escolha individual. Passadas as intempéries a nossa essência se revela no uso das ferramentas vindas do conhecimento usadas com a sabedoria presente na espiritualidade. Nesse momento, a sua melhor versão aparece e você será promovido na empresa, terá a realização no casamento e será valorizado pelos teus.

O meu amigo, provavelmente, havia sido sequestrado por um dos seus sabotadores, fazendo-se de vítima (Inteligência Positiva). Ele, assim como qualquer um de nós, está exposto as intempéries de um dia que mudam o humor, mas que cabe a cada um de nós não permitir que elas afetem a nossa essência. Nosso papel é preservar a integridade e não corromper o nosso melhor vivendo a plenitude das nossas competências. Não coloque água na sua garrafa. Por isso, é importante manter os sabotadores internos em perspectiva, mas ressaltar os poderes do sábio. A Comunicação Não-Violenta auxilia a desenvolver a capacidade de observar sem julgar; de sentir com interesse pelo outro; de identificar as necessidades próprias e as do outro; para expressar-se com a consciência de que eu AFETO o mundo e com AFETO o mundo é melhor. Por fim, a espiritualidade é um caminho para manter o seu vinho!

A vida é boa quando você está feliz; mas a vida é muito melhor quando os outros estão felizes por sua causa”.

(Papa Francisco)

Moacir Rauber

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NATAL: faça uma viagem para um reino nada nada distante

Natal é uma data especial em que muitas pessoas aproveitam para tirar férias e viajar. Isso é maravilhoso! Porém, gostaria de destacar de que além de viajar para fora, esse é um período apropriado para fazer uma viagem para dentro e reconhecer o lugar mais incrível do mundo: o Seu Eu. Recentemente lancei o livro chamado O Reino de Logo Ali ao Lado que nos dá a impressão de que se dirige o olhar para o exterior. É só a impressão. No reino ao lado nem sempre algo ou alguém é aquilo que parece ser. Por isso, ninguém confia em ninguém. Para cada um dos habitantes do reino o outro é que é mau, invejoso, ganancioso, avarento, cruel, vingativo e desumano. Naquele reino alguém pode se apresentar de uma maneira e ser exatamente o oposto. É uma fábula que poderia acontecer ao lado, ou não…

A fábula se desenvolve no Reino de Logo Ali ao Lado onde sete habitantes com características e personalidades muito diferentes resolvem se isolar num casarão para se proteger dos demais habitantes. O problema sempre são os outros, não é? As más companhias dos meus filhos são os filhos dos outros, entretanto nos esquecemos de que as más companhias dos filhos dos outros podem ser os meus filhos. Os incompetentes são os meus colaboradores e me esqueço de que eles apenas refletem as minhas próprias competências ou a falta delas. Esquece-se de que ninguém se realiza no isolamento, portanto é importante se reconhecer como frágil e vulnerável para que se possa identificar nossa força. Inicialmente, aqueles habitantes se isolaram para se proteger, porém descobrem que não conseguem se realizar sem os outros. No seu isolamento, os habitantes do casarão procuram criar um ambiente seguro dentro de um reino caótico fazendo dele a sua fortaleza. Nele ninguém mais entra. A segurança e a abundância do casarão chamam a atenção dos demais habitantes do reino que lutam para entrar. Eles querem entrar no casarão, porém os habitantes não querem deixar que isso aconteça porque não confiam em ninguém. Até que um dia o casarão é invadido. O pior pode acontecer! Ou não… O enredo leva o leitor a uma viagem para O Reino de Logo Ali ao Lado que termina… Bom, você quer saber quem habita no Casarão? Leia a fábula O Reino de Logo Ali ao Lado (disponível em https://amzn.to/2r4nFH4 – amazon.com.br) e você vai se surpreender.

Enfim, neste período de Natal também é importante viajar para dentro de si mesmo para encontrar o melhor de cada um. Entendo que a saída é viajar para dentro de si mesmo para que cada um redescubra o valor da sua própria história. Reconhecer as próprias fragilidades e vulnerabilidades é que nos prepara para explorarmos as nossas fortalezas. Posso identificar em mim as fraquezas oriundas de comportamentos negativos como, nem sempre ser bom, a inveja, a ganância desmedida, a avareza, um nível de dureza, um desejo de vingança e até uma dose de desumanidade. É perfeitamente normal. Destaque-se que ao identificar tais fraquezas humanas é que posso exercer o meu livre arbítrio. Ao reconhecer as minhas fragilidades é que posso escolher ser bom. Posso manifestar meu desapego. Posso exibir uma ambição saudável. Posso optar pela generosidade. Posso preferir a flexibilidade. Posso desejar o bem ao próximo. E, finalmente, posso ser verdadeiramente humano, o que nos aproxima do DIVINO.

Para finalizar, pergunto: existe momento mais apropriado do que o período Natalino para fazer esta viagem? Conheça O Reino de Logo Ali ao Lado  (disponível em https://amzn.to/2r4nFH4) que não está nada nada distante.

FELIZ NATAL!

Moacir Rauber

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Ocultar-se na multidão: como?

Os eventos de autoconhecimento têm sido cada vez mais comuns, porque as pessoas estão buscando conhecer-se. Por vezes, cria-se um alvoroço em torno do tema, autoconhecimento, como sendo a solução para todos os problemas. Até me incomoda, porque ao observar aqueles que ministram os cursos, parece ser tão simples o caminho para o autoconhecimento. De vez em quando, tenho a impressão de que eles têm o conhecimento e as estratégias para fazer com que o universo trabalhe a seu favor. Inclusive, exibem a calma de quem confia em si, nas escolhas feitas e que o resultado será positivo. Provavelmente é assim mesmo, porém como chegar lá se me parece tudo tão difícil? Mesmo assim, lá estava eu para o curso. Não conhecia ninguém, mas cumprimentava as pessoas, afinal, o foco do curso era na comunicação para construir um mundo melhor. O local isolado em que nos encontrávamos e os acordos de confiança estabelecidos para o convívio permitiam que cada um revelasse as suas dores e os seus mais íntimos sonhos. Olhar para dentro de si era o caminho para o autoconhecimento, porém, logo percebi que seria fácil percorrer uma trilha conhecida: fugir e ocultar-me na multidão. Como assim?

No primeiro dia, estabeleci um contato autêntico com uma pessoa ao realizarmos um trabalho juntos. Senti que poderia ser eu mesmo na sua presença. A pessoa conquistou a minha confiança ao exibir a sua vulnerabilidade. Uma sensação maravilhosa a de expor com franqueza todos os medos sem medo de ser julgado por isso. Algo difícil de fazer no nosso ambiente profissional ou familiar. Muitas vezes, não podemos exibir vulnerabilidade alguma sob risco de perdermos o nosso papel. Você pode imaginar um gestor inseguro com relação a uma decisão a ser tomada? A prática mais comum é a sua substituição. O que dizer de um pai que não sabe o que fazer para orientar os seus filhos? O respeito se dissipa tão logo os integrantes da família se apercebam disso. Porém, naquele lugar pude exprimir as minhas inseguranças e a pessoa do outro lado simplesmente me ouviu, sem emitir nenhum julgamento. O dia terminou, o dia seguinte chegou e reencontrei aquela pessoa. Fiquei um pouco tenso, porque ela sabia das minhas vulnerabilidades. Ela não exibiu nenhum traço de que estava me julgando, porém, eu sim. Não julguei a outra pessoa, julguei a mim. Fiquei envergonhado pela exposição das minhas fragilidades. Apesar do seu cumprimento afetuoso, eu fui frio. Afastei-me dela e comecei a procurar outras pessoas. Abraçava um. Ria com outro. Sentia-me fragilizado pela minha vulnerabilidade exposta. Passei a buscar relações que fossem superficiais a ponto de não precisar olhar para dentro de mim. Mais uma vez, a saída que eu procurava me levava para fora de mim. Nos dois dias seguintes não permiti que ninguém se aproximasse, usando a estratégia de aproximar-me de todos. Começava a me ocultar na multidão.

Num encontro fortuito não pude fugir e a pessoa para quem eu havia revelado as minhas vulnerabilidades me perguntou:

– Como você está?

Com aqueles olhos profundos fixos nos meus, senti que ela enxergava a minha alma. Mais uma vez o meu medo desapareceu. Tivemos uma conversa esclarecedora em que ela revelou não ter medo de expor a sua vulnerabilidade, porque era nesse reconhecimento que estava a sua força de ser humano. Disse-me ela que ao reconhecer as suas fragilidades, os seus sentimentos, as suas necessidades e os seus desejos ela se sente forte, porque sabe que do outro lado há alguém igual. “Reconhecer a minha vulnerabilidade é parte da minha humanidade e é parte da minha força”, finalizou. Pude reconectar-me com ela. Nos demais dias conectei-me profundamente com as pessoas que se aproximavam de mim. Sem medo e sem julgamentos entendi que a saída é para dentro.

As festas de Natal e de Final de Ano são um bom momento para se conectar com pessoas. Porém, também são um bom momento para se ocultar na multidão ao não precisar se comprometer com ninguém. Muitos abraços e muitos beijos para fugir das conexões verdadeiras. Manter contatos superficiais e passageiros com muitas pessoas permite a que qualquer um se oculte na multidão e isso é fácil. O desafio é olhar para dentro, comprometer-se consigo mesmo e com quem está próximo de forma autêntica e afetuosa. Você consegue? É preciso força de caráter para reconhecer-se frágil e vulnerável. São características humanas recebidas como dons divinos.

Moacir Rauber

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