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QUAL É A IMPRESSÃO QUE FICA?

Qual é a impressão que fica?

Estávamos no campinho de futebol da escolinha como sempre. Domingo de manhã depois da missa era a hora do futebol. A molecada entre 10 e 15 anos estava toda ali. Alguns pés descalços. Outros com uma conga sem meia. A bola de couro bem velha estava no meio do campo e começávamos a escolher os times. De repente, encosta um carro ao lado do campinho. A porta do caroneiro se abre. Como numa cena de filme se consegue ver um pé e uma perna saindo. Mas não era algo comum. No pé havia uma chuteira. A perna estava protegida por um meião de futebol. Era o sonho de consumo de 100% dos meninos que viam a cena. Na sequência saiu do carro o filho do novo vizinho. Estava completamente fardado. Calção e camiseta oficial do seu time e uma bola nova debaixo do braço. Tivemos a impressão de que chegava um craque no nosso campo. Ele se aproximou e todos o queriam para o seu time. Por sorte, não caiu no meu, porque quando a bola rolou a habilidade demonstrada pelo suposto crauqe não existia. Era um perna-de-pau. Esse momento me faz lembrar o ditado, “a primeira impressão é a que fica”. Será mesmo? Por isso a pergunta: qual é a impressão que fica?

Os estudos, principalmente da área de psicologia, mostram que numa fração de tempo muito pequena formamos um juízo sobre uma pessoa ou uma situação que, por vezes, será difícil de reverter. O nosso cérebro conectado aos sentidos usa informações subliminares para obeservar o que muitas vezes não se vê a olho nu e forma uma opinião. A intuição funciona, principalmente quando se tem um bom nível de conhecimento sobre o tema. Daniel Kahneman diz que quanto mais conhecimento se tem, mais a intuição acerta. Porém, o que fazer quando a primeira impressão que você tem sobre alguém não é boa? No âmbito pessoal, quase sempre, é mais fácil. Basta se afastar. No campo profissional, muitas vezes, você precisa continuar convivendo com alguém que a impressão que você teve não lhe agrada. Desse modo, em Comunicação Não-Violenta a sugestão é que a nossa observação seja consciente para registrar os fenômenos que acontecem de uma maneira que seria feito por uma lente ou por um gravador de voz. Ainda que o nosso cérebro tenha realizado o processo de criar um juízo de modo automático, a tomada de consciência permite diminuir a sua influência. Dessa forma, fazer uma pausa intencional diante de uma situação ou de uma pessoa, auxilia a que se minimizem os julgamentos e não se tirem conclusões tão rapidamente. Olhar a cena para descrevê-la de uma maneira que o outro a possa ver de igual modo é o desafio. Apenas observe. É fácil? Não. Faça uma pausa para observar sem julgar, para sentir com genuíno interesse por si e pelo outro, para identificar as necessidades de um e de outro e, com isso, interagir de forma autêntica com o outro. A primeira impressão, se não confirmada, será mudada pelos fatos.

No caso da minha infância, a chegada do novo jogador causou uma excelente primeira impressão, porém foi desfeita dez minutos depois. Por isso, caso você tenha a oportunidade de causar uma boa primeira impressão, aproveite-a. Lembre-se que será importante confirmá-la. Há que se lembrar de que a vida é um ato contínuo e não se resume a primeira impressão. No trabalho ela será corroborada, ou não, pelos resultados. Nas relações pessoais, a primeira impressão será confirmada, ou não, no dia a dia. Na vida, provavelmente, ela será resultqado da construção feita no caminho e a última impresssão não será mudada!

Moacir Rauber

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Falsidade Autêntica: é possível?

Falsidade Autêntica: é possível?

Por onde ele passava os cumprimentos eram efusivos, os elogios eram distribuídos a torto e a direito e o sorriso estava sempre presente. Ele era o rei da simpatia. Não esquecia as datas importantes de ninguém. No aniversário mandava um presente. No Natal, Ano Novo e Páscoa sempre enviava uma mensagem. A rede de relacionamentos dele era muito bem administrada. De tão atencioso que era, dava-nos a impressão de que não podia ser verdadeiro. Enfim, o que será que era autêntico por trás do comportamento do “Senhor Simpatia”?

Festa de final de ano. Todos reunidos. Chega um e outro. Os abraços, cumprimentos e sorrisos do “Senhor Simpatia” seguem cumprindo o seu papel, quase sempre acompanhados de um elogio:

– Caramba, a melhor caipirinha do mundo é você quem faz! Diz o “Senhor Simpatia” para um conhecido seu.

Nesse momento, outro presente que ainda não havia sido percebido pelo “Senhor Simpatia” se manifestou, “Ei, você sempre falou que a minha era a melhor do mundo…”. Um leve constrangimento. O “Senhor Simpatia” puxou o recém visto para o lado, deu-lhe um aperto de mão mais caloroso, fez-lhe um afago e cochichou-lhe ao ouvido, “Falei isso para ele apenas para agradá-lo. A tua é a melhor!” E ele seguiu para abraçar uma amiga que chegava.

É muito bom ser recebido com um sorriso, um aperto de mão ou um abraço ou ainda todos eles juntos. É muito bom receber um telefonema, uma mensagem ou um presente em datas especiais. Embora, tão importante quanto recebê-los é que eles sejam autênticos. Ao observar e refletir sobre o comportamento do “Senhor Simpatia”, imaginei que se ele fala isso para um também poderia falar para o outro. Com um é a melhor caipirinha, com outro é o abraço mais caloroso, com mais outro é o sorriso mais lindo e assim pode ser com relação a qualquer elogio do seu repertório. Fica a dúvida: o que será autêntico no comportamento do “Senhor Simpatia”? Difícil saber, porque estamos ensinando muitas técnicas de como fazer para parecer algo que não se é e esquecemos do mais importante que é ser aquilo que se parece. Você quer parecer simpático ou você é simpático? Você quer passar a impressão de ser competente ou você é competente? A sua rede de relacionamentos é de pessoas com quem você se importa ou apenas de pessoas que importam para você? Para tudo existe uma técnica de como fazer para parecer ser, muitas vezes, o que não se é. Pode-se encontrar informações sobre as técnicas de como dar um abraço para que ele pareça verdadeiro sem que a pessoa queira dar um abraço verdadeiro. Existem as técnicas para dar um aperto de mão que passe a impressão de ser respeitoso, de parecer amistoso e de exibir força sem que haja respeito, amizade ou força. E não para por aí. Ao preparar alguém para se candidatar a uma vaga de emprego, nós ensinamos como o candidato deve se comportar na entrevista para falar aquilo que o entrevistador quer ouvir e não para exibir a real competência para a vaga.

Assim seguimos ensinando e aprendendo técnicas para se passar uma determinada impressão sem a real preocupação em ser aquilo que se aparenta ser. Com isso, vive-se um momento em que o único comportamento autêntico, de muitas pessoas, é a falsidade.

Particularmente, acredito que as técnicas que aprimoram o desempenho em qualquer área são importantes para que sejamos mais educados, e isso se aplica às relações sociais. Podemos e devemos usar todos os recursos comportamentais e tecnológicos para melhorarmos as nossas relações sociais e profissionais. Entretanto, penso também que as técnicas devem ser complementares ao sentimento, à emoção e à vontade de se relacionar, que devem autênticas. Transfere-se, desse modo, autenticidade à imagem que se passa por meio da técnica. Por isso, é bom parecer autêntico, mas é fundamental ser autêntico.

É possível melhorar isso no ambiente organizacional? Se é possível ser autenticamente falso, é muito mais fácil ser autenticamente verdadeiro. Basta que as pessoas sejam transparentes no processo de contratação, nas formas de comunicação, na atribuição dos papéis e das funções, nos processos de treinamento e desenvolvimento e até no momento do desligamento. Autenticidade com respeito permite que cada um seja autenticamente verdadeiro.

Moacir Rauber

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