Todos os posts de Moacir Rauber

Moacir Rauber acredita que tem "MUITAS RAZÕES PARA VIVER BEM!" porque "MELANCOLIA NÃO DÁ IBOPE". Também considera que a "DISCIPLINA É A LIBERDADE" que lhe permite fazer escolhas conscientes, levando-o a viver de forma a "QUE POSSA COMPARTILHAR TUDO COM OS PAIS E QUE TENHA ORGULHO DE CONTAR PARA OS FILHOS".

Como as pessoas se sentem com você?

Quando conversamos nós perguntamos, pedimos, ofertamos, prometemos, agradecemos e nos desculpamos, fazendo com que as coisas aconteçam. Assim, muito mais do que falar com chefes, supervisores, diretores, clientes ou colegas de trabalho, o profissional atual precisa saber estar para saber conversar; saber conversar para saber perguntar; saber perguntar para fazer fluir. Ao fazer fluir, provavelmente, se terá criado um ambiente positivo.

As pessoas se sentem bem com você?



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Viver dá trabalho?

Antes de viajar tínhamos que tomar uma vacina antitetânica, exigência legal do nosso destino. Lá fomos nós, a Andréia e eu, para tomarmos a vacina. Aproximamo-nos do balcão e a recepcionista, muito solicitamente, atendeu-nos. Explicamos a situação, ela pensou um pouco e nos informou:
– Vou fazer uma fichinha aqui e depois vocês vão para o segundo andar. Lá vocês dizem que é para a vacina e se faltar alguma informação voltem aqui…

O trabalho dela consistia em atender e fazer uma triagem para onde encaminhar as pessoas. Exibia um sorriso natural que demonstrava a pessoa de bem que estava por trás daquele rosto. Já não era mais jovem, entretanto tinha uma vitalidade invejável. Estávamos felizes por termos sido atendidos tão bem. Juntamos nossos documentos e começamos a nos mover em direção ao elevador, quando ouvimos uma voz:
– Ei, ei, só um momentinho. Se vocês precisarem de algo você não precisa vir não (disse apontando para mim). O senhor fica lá sentadinho quietinho na sua cadeirinha. Pode vir somente ela tá. O senhor fica lá!

Nós ficamos um pouco atordoados com as palavras, mas tudo bem. Ela somente estava sendo gentil. Ainda pudemos ouvir ela dizer para a atendente ao seu lado:
– Coitadinho, deve dar muito trabalho…

A Andréia e eu rimos muito, porque nós sabemos que em prédios, calçadas e outros pisos planos um usuário de cadeira de rodas pode ser muito mais rápido do que um andante convencional. E mais. Cuidar da saúde, fazer esportes e caminhar, ou rodar, é viver.


E viver não dá trabalho!

Dia do profissional de Secretariado

No dia do profissional de Secretariado destaco uma das suas competências essenciais: 
a RESILIÊNCIA. 
O texto foi extraído do livro Perguntar não ofende… Uma abordagem de coaching para o profissional de Secretariado. 

Parabéns a todos os profissionais de Secretariado e Boa leitura!!!

Resiliência, uma competência essencial para o profissional de Secretariado

Rauber, Moacir & Rauber, Andréia
Perguntar não ofende… Uma abordagem de coaching para o profissional de Secretariado. Toledo, PR : Mundo Hispânico, 2013. 

O ambiente organizacional é altamente competitivo, resultando em situações de grande pressão sobre os colaboradores. Para os profissionais de Secretariado a situação não é diferente, podendo ser até mais contundente como citado anteriormente. Para suportar tamanha pressão a resiliência é uma competência essencial. Usamos a reportagem “Uma questão de fibra” da revista Você SA, edição 166 – abr 2012, que aponta a resiliência como a principal competência a ser exibida pelos profissionais da primeira metade do século 21 para fundamentar a nossa visão. Lendo o artigo, fizemos diferentes associações com a competência, incluindo o profissional de Secretariado. Começamos lembrando que nossos avós e bisavós eram exemplos de resiliência, reforçados por uma firmeza emocional que beirava a obstinação. Naquele tempo, considerando as condições de vida da época, tratava-se de uma competência comum à grande maioria da população. Por outro lado, nos dias atuais, podemos dizer que muitos de nós somos menos resilientes, comparando as nossas condições de vida e a inconstância emocional vigente. Assim, acreditamos que perdemos parte dessa competência, o que a tornou tão valorizada. Porém, destacamos que não há como ser um profissional de Secretariado sem ser altamente resiliente.

Por gerações e gerações, as pessoas foram criadas de uma forma em que se tornavam naturalmente resilientes. Basta analisar como viveram nossos avós e bisavós. A grande maioria deles eram moradores do campo sem grandes recursos financeiros ou tecnológicos como dispomos hoje. Para eles, ter fibra era uma questão de honra, de rijeza e de caráter. A gestão das emoções era uma prerrogativa para se adentrar no mundo dos adultos. Saber o que se queria e o preço a ser pago para que se pudesse alcançar fazia parte da educação dos jovens daquelas gerações. Saber que havia um tempo de preparação e de espera era parte do jogo e todos estavam aptos para aguentar. A resiliência fazia parte da formação dos indivíduos que nasciam, cresciam, tinham o compromisso social de formar família e a ela sustentar. Não dispunham de telefone, internet, celulares ou outros meios sofisticados de comunicação. Tinham em mente a clareza daquilo que queriam. Faziam os planos, os projetos e se lançavam para aventuras além mar, lembrando dos milhões de pessoas que cruzaram o Atlântico em busca de uma vida melhor para os seus descendentes. Viagens de meses rumo a um destino incerto. A grande maioria sabia que jamais voltaria a ver aqueles que deixaram para trás, entre eles pais, tios, primos e amigos. Aqui no Brasil, podemos citar como exemplo os colonizadores que se embrenhavam pelos sertões sem contar com nenhum apoio tecnológico ou de infraestrutura. Planejavam com os recursos que tinham, partiam e faziam aquilo que deveria ser feito em busca dos objetivos traçados. Muitos certamente não alcançaram o que se propuseram, mas fibra jamais lhes faltava. Eram naturalmente resilientes. Nesse cenário podemos facilmente identificar os nove fatores que compõem a resiliência na escala da FGV (Fundação Getúlio Vargas), presentes na reportagem da Você SA, que são 1) autoeficácia, 2) competência social, 3) empatia, 4) flexibilidade mental, 5) tenacidade, 6) solução de problemas, 7) proatividade, 8) temperança e 9) otimismo. Algo similar ocorre no ambiente em que atua o profissional de Secretariado. Muitas vezes sem os recursos necessários e sem a autoridade formal requerida são levados a trabalhar em situações em que somente podem contar com a sua capacidade de organização e execução para fazer com que as ações continuem a fluir. Muitas vezes, sofrem uma pressão desproporcional às suas responsabilidades. Desse modo, também esses profissionais devem ser naturalmente resilientes.

Ao falar de autoeficácia, os desbravadores detinham grande capacidade de organização, planejamento e execução. Sem o uso de GPS ou guias Quatro Rodas percorriam milhares de quilômetros em estradas de terra batida em busca do sonho. Eram altamente proativos e solucionavam problemas que sequer poderiam imaginar que enfrentariam, não tendo a menor possibilidade de recorrer a psicoterapeutas para solucionar eventuais crises existenciais. Era fazer ou fazer. Isso também é comum no ambiente do profissional de Secretariado. Apesar de hoje podermos contar com recursos tecnológicos que nos auxiliam a encontrar as soluções adequadas que não existiam em tempos passados, muitas vezes nós, os profissionais da área, não dispomos da autonomia necessária. Com isso, a pressão psicológica pode ser grande, porque os resultados são esperados. Assim, a agilidade requerida exige que a autoeficácia se revele nas diferentes situações. Lembrando o caso descrito na Seção 2.1: poderia a Secretária Executiva daquela organização esperar as duas semanas em que o diretor saiu de férias para tomar uma decisão? Não, a autoeficácia era uma competência daquela profissional que fez uso dela na situação exposta. A resiliência estava presente.

A competência social também era natural àqueles desbravadores. Quando saíam rumo a terras inexploradas, criava-se uma rede de apoio e interdependência entre aqueles que buscavam novos horizontes. Não bastava que um alcançasse a terra prometida, era fundamental que todos que partiram lá chegassem, porque a derrocada de um poderia significar a de todos. Assim, em um núcleo que dispunha de poucos recursos, todos tinham que contribuir e receber ajuda de forma integrada. Exibir essas competências era necessário por uma simples questão de sobrevivência. A situação se repete no ambiente de trabalho do profissional de Secretariado. A necessidade de exibir a competência social dentro da organização, permitindo que o profissional entenda o todo organizacional, passa pela capacidade de desenvolver as competências de escuta ativa. Como demonstrado no exemplo da Seção 2.1, a capacidade de articulação da Secretária Executiva fez com que todos os diretores entendessem o que estava em jogo. Tanto ela quanto eles sabiam da interdependência existente, levando-os a tomar uma decisão para o bem da organização. Destacamos ainda que, hoje, além das competências nas quais somos excelentes, podemos e devemos desenvolver as competências que julgamos não deter no nível exigido, e podemos obtê-las por meio de cursos e programas de formação. Tudo está ao nosso alcance. Não há desculpas para não desenvolvê-las.

A empatia, competência entendida como a habilidade de compreender o outro a partir dos seus modelos mentais, também era encontrada nas situações vividas naqueles tempos pelos nossos antepassados. Essa competência, que envolvia respeito e abertura no convívio entre as pessoas do grupo, era obrigatória. Identificamos aqui também a flexibilidade mental, que abarca a tolerância e a criatividade. Como não seriam tolerantes os integrantes de um grupo que saía em uma viagem de 60 ou 90 dias com destino a uma terra desconhecida no interior do país lá pelos idos de 1940 ou 1950? Não havia a mínima possibilidade de desenvolver a flexibilidade mental em cursos de yôga ou outra técnica oriental como temos disponível nos dias de hoje. Havia a necessidade da convivência pacífica em um ambiente limitado e muitas vezes hostil. As mesmas competências são exigidas do profissional de Secretariado, que deve saber compreender que os diretores têm diferentes modelos mentais, levando-os a reagir nas situações organizacionais segundo eles próprios e não como nós reagiríamos. Para isso, o profissional deve também desenvolver a tolerância e a criatividade buscando conhecimentos, habilidades e competências onde necessário for. O recurso apresentado na seção anterior, descrito nos passos de reação frente a um feedback negativo, pode ser uma alternativa. Existem outras. Há que ser resiliente para isso.

No cenário dos desbravadores, a flexibilidade cruzava-se diretamente com a tenacidade, que é a capacidade de conviver em situações consideradas adversas. Trata-se de um quesito em que não há como questionar o que aquelas pessoas suportaram, porque eles ficavam dias, semanas, meses, anos e muitas vezes uma vida sem notícias das pessoas queridas. Sim, os nossos bisavós eram tenazes e também criativos para solucionar problemas, outra das habilidades integrantes da competência chamada de resiliência. Eles viviam em um ambiente estranho e adverso em que as condições mudavam constantemente. Eles se desenrascavam das dificuldades com aquilo que dispunham, pois eram autossuficientes na solução dos seus problemas. Aquelas gerações eram tenazes, assim como devem ser os profissionais de Secretariado que vivem em um ambiente semelhante. Normalmente, atendem a um diretor, a um coordenador, a uma área ou a um departamento, mas sempre estão em contato com pessoas diferentes do ambiente interno e externo. E nem sempre as relações são cordiais ou amistosas, muitas vezes resultado de problemas de relacionamento do superior hierárquico. Flexibilidade, sem ser volúvel, é uma necessidade para o profissional de Secretariado. E isso significa ser resiliente.

Nessa sequência, a proatividade era intrínseca às pessoas daqueles tempos, pois se não a tivessem sequer se atreveriam a sair de suas casas. Não havia um processo de coaching com o qual pudessem contar para melhorar as suas competências. O coaching deles era a própria vida, isso tudo associado à temperança e ao otimismo. Temperança para não perder o equilíbrio emocional frente às adversidades diárias de um ambiente novo. Otimismo não precisava ser descrito para aqueles aventureiros, eles simplesmente acreditavam naquilo a que se propunham. Da mesma forma, os profissionais de Secretariado precisam apresentar e desenvolver constantemente o seu arsenal de competências que são traduzidas em temperança e otimismo. Nós, como profissionais de Secretariado, devemos exibir a temperança para não perder o equilíbrio emocional frente às mais difíceis situações. Deveríamos seguir o passo a passo apresentado na seção anterior para sabermos como reagir frente a um feedback negativo que pode despertar em nós emoções negativas. Não há como impedir o surgimento das emoções, porém podemos aprender o que fazer com elas e dar o devido encaminhamento a partir de uma visão positiva e otimista ao participar de um projeto no qual se acredita.


Podemos fazer uma comparação entre aquelas gerações de desbravadores e os profissionais de Secretariado: resiliência não é uma opção, é uma necessidade. Isso se entendermos resiliência no ambiente organizacional como a capacidade que os indivíduos têm de suportar a pressão em situações de grande estresse, mantendo e retomando o equilíbrio emocional.
Rauber, Moacir
Rauber, Andréia S.

Vai demorar um pouco… O senhor se importa em esperar?

Entrei no salão para cortar o cabelo acompanhado de minha esposa. Era a primeira vez que cortaria o cabelo desde que fora morar naquela cidade. Havia escolhido um salão e fui até ele. Ao abrir a porta, as pessoas voltaram a cabeça para dar aquela olhada, como naturalmente se faz. Porém, a olhada ficou um pouco mais demorada, porque a presença de um homem, e ainda usuário de cadeira de rodas, naquele ambiente, provavelmente, não era algo muito comum. Tudo bem, tudo bem… pensei comigo mesmo para me acalmar. São quase trinta anos usando a cadeira de rodas e ainda fico um pouco temeroso ao entrar em ambientes desconhecidos, embora isso também seja comum para quase todos. Minha esposa estava atrás de mim. Eu olhei para quem se aproximou para me atender e perguntei:
– Alguém tem disponibilidade para cortar o cabelo?
A atendente olhou-me e disse que sim. Era ela também a própria cabeleireira que cortaria o meu cabelo. Assim perguntou:
– Como você quer cortar?
– Olha, pode ser com a máquina número 3, por favor?
– Em toda a cabeça? Disse ela olhando para a minha esposa. Logo pensei, Será que ela vai começar a falar com ela em vez de falar comigo?
– Sim, respondi. Pode passar a máquina em tudo.
Ela assentiu e pediu para que eu me posicionasse frente a um espelho. Ainda fiz uma brincadeira de que mereceria um desconto, uma vez que eu trouxera a minha cadeira. Ela sorriu e respondeu que se eu quisesse sentar na cadeira do salão ela daria um jeito. Ficamos nessa brincadeira enquanto ela foi buscar a máquina. Aproximou-se e colocou o lençol a minha volta e começou a cortar o cabelo. Via e observava os seus movimentos manuseando a máquina. Pude perceber que era alguém que ainda não estava completamente à vontade com ela. Deve ser nova aqui… Pensei isso porque durante os últimos seis ou sete anos eu mesmo cortei os meus cabelos com uma máquina que tinha em casa. A minha esposa fazia os arremates do corte. Gostava do ritual. Continuei a observar e parecia-me que a máquina era demasiadamente silenciosa. Escutei com mais atenção e percebi que se tratava de pouca potência. Dava-me a impressão de que a máquina pararia a qualquer momento… E não é que parou mesmo? Olhando pelo espelho vi uma expressão que misturava medo e pânico no rosto da cabeleireira. Ela olhou para a máquina e bateu-lhe suavemente. Silêncio. Ligou e desligou o botão. Nada. Olhou a sua volta buscando socorro em suas amigas. O silêncio foi constrangedor. A tagarelice tão comum em salões desapareceu por completo. Por fim, ela olhou para mim pelo espelho e disse:
– Acabou a bateria. Vou ter que carregar a máquina. Vai demorar um pouco… O senhor se importa em esperar? A voz quase sumindo, porque ela estava completamente constrangida.
Logicamente que eu esperaria, porque tampouco poderia sair com a cabelo cortado somente em metade do cocoruto. Ainda mais vendo o desespero da mulher, sair seria a última ação que tomaria. Disse-lhe com suavidade e também certa descontração que não havia problema, que eu estava sem pressa. Aparentemente ela se tranquilizou, colocou a máquina para carregar a bateria e ficou a minha volta. Estava nervosa. Atordoada. Para piorar ainda mais a situação uma colega passou por perto e disse:
– Ainda bem que a dona não está aqui agora, porque você seria demitida hoje…
O apoio que ela esperara das amigas, da sua equipe, foi uma ameaça. Nada de amparo. Nenhuma máquina sobressalente, alternativa ou alguma história para tirar a tensão do ambiente. Apenas o silêncio e a clara sensação de que a haviam relegado a sua própria sorte. Depois de um tempo, o zumbido das conversas paralelas voltou para aliviar a situação. Passaram-se mais ou menos cinco minutos e ela pegou a máquina novamente. Recomeçou a cortar o cabelo. O ruído estava mais alto, com mais potência. O sorriso estava de volta ao seu rosto, porém durou poucos segundos. A máquina parou mais uma vez. O silêncio constrangedor. Os olhares acusadores. A solidão em meio a tantas pessoas conhecidas e, talvez, até amigas. E a cena se repetiu mais três vezes até que, enfim, ela conseguiu terminar o corte.
Disse-lhe:
– Fica tranquila, não tem problema não. Eu estava com tempo mesmo. Quanto lhe devo?
Ela não teve tempo para responder porque foi interrompida por uma outra cabeleireira que, provavelmente, tinha mais tempo de casa:
– Não, o senhor não deve nada. Nós é que lhe pedimos desculpas e agradecemos muito a sua compreensão.
Ao meu lado, a cabeleireira se encurvou num movimento corporal claro de autoproteção. Ainda sorriu timidamente e também se desculpou por não ter a máquina com a bateria carregada. Finalizei dizendo:
– Bom, vocês têm mais um cliente garantido. E vou torcer para que na próxima vez acabe a bateria novamente, assim não precisarei pagar.
Saímos rindo. Por outro lado, fiquei pensando, Caramba, quantas vezes nós não estamos preparados nem para aquilo que nos propusemos a fazer, o que dizer de estar preparado para uma nova oportunidade? E o trabalho em equipe onde ficou?

Diante da situação, a imagem da mulher vai rapidamente desaparecer de minhas memórias, mas a lembrança do estabelecimento, a percepção da incapacidade de ação e a sensação da ausência de cooperação que demonstraram a clara falta de entendimento daquilo que representa trabalhar em equipe vão me acompanhar por muito tempo.

Por isso a pergunta: quem realmente sabe trabalhar em equipe?

Quais as perguntas que você faz?

Uma conversa pode ser iniciada dando uma opinião. Ao emiti-la, lembre-se que na sua frente pode estar alguém que tem uma opinião divergente da sua. Lembre-se também que a sua verdade nem sempre é a verdade dos demais. Uma conversa também pode ser entabulada comentando um fato. Seja habilidoso para escolher algo que possa ser do interesse do seu interlocutor, despertando-o para o aprofundamento da conversa. Da mesma forma, uma conversa pode ser iniciada com uma pergunta. Destacamos que o objetivo de uma pergunta deve ser o de contribuir com a situação em que estamos envolvidos, demonstrando genuíno interesse nos objetivos da conversa.

Cada indivíduo tem como inteligentes as suas opiniões e não sente nenhum prazer em vê-las denegridas. Por isso, numa conversa, a contestação pode ser o caminho para o descaminho. A pergunta deve ser feita para transformar a conversa em um quadro em que todos possam contribuir. Por isso, ao fazermos uma pergunta, também devemos lembrar dos limites da intimidade que gozamos com quem conversamos.

Quais os tipos de perguntas que você faz? Construtivas? Genuínas?

Saiba mais…


Você nasceu assim 2?

Somos feitos de histórias. Quem é usuário de cadeira de rodas pode ter algumas a mais. Já contei aqui uma história em que fui abordado num supermercado para receber a pergunta se eu havia caído ou nascido assim. Não sou o único. Conversava com o técnico da equipe de basquete, amigo meu e que tem um irmão usuário de cadeira de rodas, que me contava ser o irmão dele também questionado sobre a sua condição pelas pessoas. Disse-me:
– Volta e meia quando estou na rua com meu irmão alguém se aproxima de mim e pergunta, “como foi que aconteceu?” ou “o que aconteceu com ele?” ou ainda “ele nasceu assim?” Isso, às vezes me incomoda, mas sei que não é por mal. Eu sempre digo, “vai lá, fala com ele. Ele sabe falar…” Alguns ficam um pouco envergonhados e vão embora. Outros vão lá e perguntam mesmo…

Essa é uma situação muito comum. Muitas vezes entro numa loja para comprar uma camisa ou uma calça acompanhado de minha esposa. Faço a primeira interação com o atendente mostrando o meu interesse e a minha procura. Por incrível que pareça o atendente, logo depois, esquece que estou presente e passa a interagir com a minha esposa. Muitas vezes pegam uma peça de roupa, mostram para a minha esposa e perguntam, Será que ele vai gostar desta?E eu paradão ali do lado. Ou melhor, sentadão. Não sei porque não falam diretamente comigo. Às vezes, tenho a impressão de que por ser um usuário de cadeira de rodas as pessoas pensam que eu não tenha capacidade cognitiva o suficiente para me comunicar. Enfim, deixa pra lá…

Voltando ao caso do meu amigo, quando ele é confrontado com a pergunta, … mas você nasceu assim? ele para, olha para o seu interlocutor e com um ar sério e compenetrado, característico, responde:
– Não, não, eu não nasci assim. Eu nasci assim… (faz um gesto com as mãos mostrando mais ou menos o tamanho de um bebê) … desse tamaninho. Era bem pequeno. Já imaginou se eu tivesse nascido assim, grandão? E ainda com uma cadeira de rodas?

Certamente que as pessoas não o fazem por mal, mas também há situações que não são do seu interesse. Sabemos que a curiosidade é a fonte da sabedoria, mas ela também matou o gato.

Você é um gênio, mas…


O rapaz era um gênio na sua área, mas era também genioso com os colegas. Para ele, pouco importava se a pessoa com quem falava era da sua equipe, de outra área ou mesmo alguém hierarquicamente superior, sempre tinha algo a dizer. Quando a questão se voltava para a área técnica de sua atuação, muitas vezes, tinha razão. Mas nem tudo é tecnologia, mesmo numa organização que trabalha com tecnologia. Assim, o seu comportamento trazia prejuízos relacionais, por vezes, maiores do que os benefícios obtidos com a sua grande capacidade.

Na área de gestão de pessoas o comportamento do jovem gênio era analisado. Após várias tentativas do responsável dos recursos humanos de conversar com o gênio sobre o seu comportamento, o assunto chegou à direção. O diretor o chamou para conversar. A autoconfiança do jovem gênio era tamanha que acreditava que seria mais uma vez promovido. Chegando na sala do diretor, imediatamente acomodou-se confortavelmente em uma poltrona. A conversa começou e o diretor, um pouco constrangido, disse:
– Você realmente é um gênio naquilo que faz…
O rapaz estufou o peito e, mais do que rapidamente, respondeu:
– Muito obrigado!
A resposta não expressava gratidão pelo elogio, mas a segurança de quem simplesmente recebia aquilo que merecia. Era o mínimo… devia ter pensado ele.
O diretor, que não esperava que ele dissesse algo naquela curta pausa, emendou:
– … mas você está demitido.
Ser um gênio somente não basta. O conhecimento técnico por trás de cada uma das funções ou cargos que o gênio irá desempenhar é o mínimo dele exigido. É por isso que as grandes corporações têm contratado as melhores cabeças reveladas em universidades ou pelo próprio mercado para compor as suas equipes. Equipes, eis a questão. Porém, muitos dos gênios contratados não têm a mínima noção daquilo que significa trabalhar em equipe. Não foram instruídos e nem capacitados para entender as pessoas e por isso não conseguem fazer uma equipe, que conta com os melhores talentos, render aquilo que deveria render. Não conseguem fazer com que o todo da equipe seja maior do que a soma das partes. Eis o grande desafio.

Você é um gênio? Então faça com que cada pessoa exiba o seu potencial na totalidade, transformado-o em talento a serviço da sua equipe. Mostre com isso que o resultado da sua equipe é maior do que a soma dos indivíduos que a compõe nas suas distintas partes. Caso contrário, você até pode ser um gênio, mas será demitido ou não terá ninguém que queira trabalhar com você. Lembre-se de que sem os outros não há equipe, não há organização e não há necessidade nem de gênio nem de genialidade.

Qual é a sua história?


Sempre que leio uma autobiografia de um grande executivo ou de alguém famoso encontro a linda história de uma pessoa quase perfeita. As dificuldades, a superação e o sucesso alcançado. Momentos marcantes que foram determinados pela fibra, pelo empreendedorismo e pela resiliência daquele que conta a sua própria história, sempre pautados por um comportamento ético e impecável. Isso é o que as pessoas escrevem. Isso é o que elas contam. Porém, sabe-se que nem sempre é assim.

Muitos dos grandes exemplos de autobiografias que foram sucessos editoriais lutam para manter oculta alguma biografia não autorizada na qual parte de uma história não contada viria à tona. Por que é assim? Porque os grandes nomes que despertam o interesse para que pessoas comuns como nós comprem a sua história não são tolos a ponto de revelar as suas fraquezas na sua trajetória. Muitas vezes, fazem-nos sentir pequenos.Não me refiro a admitir a presença do medo ou as dúvidas em momentos de tomada de decisão. Refiro-me às falhas de caráter, como as pequenas e grandes trapaças que muitos ocultam no seu caminho para o sucesso. Poderia ser o simples fato de abrir a correspondência do colega que lhe revelou uma oportunidade que não era sua. Poderia ser a ideia copiada de uma conversa despretensiosa com alguém conhecido ou desconhecido num evento. Refiro-me também às pessoas que não foram e jamais serão reconhecidas como importantes nesse caminho. Poderia ser o porteiro que facilitou o primeiro encontro com alguém que o encaminhou para a pessoa que lhe abriu portas. Poderia ser a secretária que, por algum motivo, deu-lhe uma brecha na agenda do chefe. Poderia ser o cancelamento da apresentação de alguém que teve um imprevisto. Enfim, são muitas as situações que já não estão mais na memória daqueles que contam a sua história de sucesso. Refiro-me à pura sorte da qual muitos deles foram beneficiários, assim como de outros elementos fora de seu controle que os afetaram positivamente. Muitas vezes não há como explicar e os autores não explicam, ocultam. Habituaram-se ao sucesso e já não têm nenhuma importância no momento de relembrar o caminho do anonimato ao estrelato. Eles têm a receita para o sucesso. Alguns o fazem por má fé. Outros o fazem por pura ignorância ao acreditar que eles são o resultado único e exclusivo da sua força de vontade e da sua dedicação. Por isso, cuidado ao ler autobiografias de pessoas famosas. Não se sinta diminuído. Sinta-se grande, porque você, assim como os famosos, na hora de dormir vai dormir consigo mesmo e não com a imagem que  passa.

O que quero dizer com isso? Quero dizer que toda a história vale a pena ser contada, desde que tenha valido a pena ser vivida. Famosa a pessoa ou não, conhecida a história ou não, não tem muita importância, porque quem determina o real valor dela é você. É você que vai conviver com as suas verdades e as suas mentiras. É você que saberá se o seu dia foi bem vivido ou não. Pode-se mentir num livro autobiográfico, dourando a pílula, omitindo questões delicadas ou até assumindo para si glórias que na realidade eram de outros. Tudo isso dificilmente será contestado num livro autobiográfico. Entretanto, ao mentir o livro passa do gênero de biografia para a ficção, que no meu olhar é onde a grande maioria das autobiografias deveriam ser enquadradas. E os famosos mentirosos precisam conviver com isso. Haja terapia, álcool e drogas para suportar a pressão da ficção assumida como realidade. Mas e nós, simples mortais, como vamos contar a nossa história? A nossa história será contada? Nós não podemos fazê-la virar ficção, porque simplesmente é a nossa vida. Se ela for contada ou não também é relativo, entretanto você saberá como ela foi vivida. Isso importa. Porque quando você encostar a cabeça no travesseiro você sabe o que foi real ou ilusão no seu dia. Você sabe quais os medos teve a coragem de desafiar e superar. Você sabe quais as tentações que teve a força de caráter necessária para suplantar, ou não… E o mais importante: você sabe quanta garra, determinação, resiliência, assertividade, alegria, humildade e gratidão foram investidos no seu dia para reconhecer que o esforço próprio é fundamental, porém a participação dos outros é indispensável.


Qual é a sua história?

Não somos máquinas…

Muito se fala sobre a separação entre o profissional e o pessoal como uma necessidade para se manter a sanidade. Não se devem levar problemas da empresa para casa, assim como não seria correto levar problemas de âmbito doméstico para a organização. No meu ponto de vista, trata-se de uma vã tentativa de transformar pessoas em máquinas. Considero quase impossível simplesmente desligar o botão da pessoa que está na empresa a partir do momento que ela deixa a organização, passando então a desempenhar somente o papel da pessoa que convive com a família e amigos. Da mesma forma, acredito ser improvável que alguém consiga entrar na organização deixando porta afora os sentimentos, as emoções e as questões relacionadas com aqueles com quem convive diariamente em outras esferas. Nós não somos máquinas, não há um botão ligar e desligar em nosso cérebro e em nossas emoções.

Lembro-me da história de um casal que se havia proposto a não levar para dentro de casa nada que os pudesse importunar. Os problemas deveriam ficar da porta para fora! O sossego da casa era sagrado. Em função das suas qualificações, o marido ficou responsável por trabalhar fora e trazer o dinheiro para o sustento da casa. A esposa seria a responsável pela organização da casa e da educação dos filhos. Cada um com os seus problemas, que não seriam discutidos no ambiente familiar para se manter a harmonia e também para que pudessem desfrutar sempre o lado bom da companhia um do outro. O papel desempenhado por um ou outro poderia ser invertido, mas a situação descrita era essa. Assim, sempre que a esposa avistava o marido retornando do trabalho meio cabisbaixo, ela avançava até o portão para dizer:
– Aqui em casa nada de problemas do trabalho, meu querido. Aqui é o nosso canto do sossego… e recebia-o alegremente com um beijo.

Sim, pensava ele, é o nosso trato. Desse modo, não compartilhava com a esposa as suas preocupações e frustrações no trabalho. Nunca lhe fizera um comentário sequer sobre a situação da empresa. Em casa se mostrava o mais solícito e alegre possível para continuar a construir a felicidade conforme acordado com a esposa, mantendo a segurança e a tranquilidade do ambiente familiar. E a esposa fazia por merecer a tranquilidade. A casa sempre estava impecável, organizada e limpa. Os filhos recebiam uma excelente educação. Frequentavam a melhor escola da cidade e tinham várias atividades extracurriculares como dança, canto e esportes. E ela, a esposa, o fazia com todo o empenho e dedicação. O seu dia também estava repleto de atividades de manhã até à noite com os problemas inerentes à atividade doméstica, que não eram poucos. Ela também não lhe dizia das dificuldades enfrentadas com as crianças na escola ou as demandas da casa. E assim, eles criaram uma bolha de tranquilidade e segurança para a família. Mas isso tudo estava somente na bolha, não na cabeça do marido.

A cabeça do pobre homem era um turbilhão de problemas, angústias, medos e insegurança. Não compartilhava com ninguém, uma vez que a condução da empresa estava sob sua responsabilidade. Como poderia compartilhar? Como poderia falar com alguém? Às vezes chegava a pensar em falar com algum colega, mas se preocupava, Se eu falar, os outros vão me achar fraco, medroso…. E assim seguia ele a sua sina. Até que teve um dia em que os problemas da empresa o atropelaram. Não havia como ocultar mais nada. A situação ficou de tal modo insustentável que a falência foi inevitável. O que fazer agora? pensava ele. Frente aos colegas e fornecedores, já estava arruinado, mas dar essa notícia em casa? Como contar para a minha esposa? Quem vai pagar a escola dos filhos?, pensava enlouquecidamente sem encontrar uma resposta. De todas as formas ele teria que ir para casa. Naquele dia, ao chegar no portão da casa, a esposa percebeu que ele estava especialmente triste. Teve vontade de perguntar o que havia acontecido, mas, como as regras por eles criadas não lhe permitiam, não disse nada. O marido a beijou e entrou. Abraçou as crianças que brincavam no jardim dos fundos da casa. Foi para o quarto como todos os dias fazia. Vai tomar o seu banho… pensou ela, mas hoje ele está muito triste… Começou a caminhar em direção ao quarto para conversar com o marido, mas foi interrompida por um estampido. Nada mais havia a ser feito.

História real.

Talvez a questão não seja a de não levar problemas para casa ou para a empresa. Não vejo nada de errado em estar no ambiente familiar e, de de repente, lembrar-me de como seria possível resolver um problema na organização. É natural, é inteligente e é produtivo. Isso passa a ser um problema quando a pessoa vive a todo o momento resolvendo os problemas da organização sem mais dedicar tempo para a família, o lazer e a diversão. Por que digo isso? Porque, da mesma forma, não há nada de errado em estar no ambiente de trabalho e pensar numa questão familiar ou mesmo programar alguma diversão extra-trabalho. Também acredito que isso seja salutar. O problema, mais uma vez, passa a ser quando alguém passa a usar os recursos da organização para atender e resolver questões particulares. Recursos esses que podem ser o tempo, os materiais ou equipamentos pertecentes à organização para a qual trabalha. Provavelmente, o ponto principal para resolver essa questão e manter a sanidade seja o equilíbrio entre uma e outra.

Por isso digo que nós não somos máquinas. Orgulho-me de pensar em questões de trabalho num domingo, porque isso me faz ver que aquilo que faço é importante para outras pessoas. Da mesma forma, sinto-me tranquilo ao comentar com um colega de trabalho sobre questões que são de foro familiar, porque isso me faz lembrar que sou humano.

Não sou máquina. E você?