Gerir pessoas, uma questão de evolução

Moacir Rauber
Quando se olha para o passado muitas vezes não se acredita naquilo que era normal no cotidiano das pessoas e das organizações. Saber que em 1802 os jovens até 16 anos não podiam trabalhar mais do que 16 horas por dia; que em 1819 a idade mínima para iniciar a vida de trabalho era de 9 anos; ou que somente a partir de 1870 o descanso semanal somente começou a vigorar, pode parecer perverso. Assim como se pode estranhar as diferentes correntes na área de gestão de pessoas que historicamente se pode identificar, como a gestão científica, as relações humanas ou o racionalismo sistêmico preponderantes em diferentes épocas. Entretanto, muitas organizações ainda carregam um pouco de cada uma dessas fases em suas rotinas de gestão.

Hoje fala-se e prescreve-se o achatamento da estrutura organizacional com a diminuição dos níveis hierárquicos, assim como dá-se ênfase a avaliação dos resultados e não tanto das atividades. Também procura-se converter antigos departamentos em equipes, estimulando o menor controle e a assunção de responsabilidades individuais visando um resultado comum. Esse resultado comum adviria do entendimento do indivíduo do todo organizacional a partir de uma visão holística, sistêmica ou complexa, como queiram. Desperta-se para a importância da gestão do conhecimento, embora ainda não se tenha consenso sobre o que se entende por conhecimento organizacional para que se possam criar estratégias para geri-lo a contento. Chegará o dia, porém, em que se olhará para o passado e se estranhará: por que é que não pensaram tão somente em gerir pessoas?

Um ditado popular diz, eduquem as crianças e não se precisará punir os adultos. A mensagem dessa máxima se pode transferir para a realidade organizacional ao se adotar o modelo de gestão de pessoas. Prepare, qualifique, eduque e preocupe-se com as pessoas e não se precisará re-trabalhar, punir ou demitir colaboradores. Essa realidade já começa a despontar como uma tendência, considerando-se o resultado das pesquisas que comparam as maiores empresas e as melhores para se trabalhar. Nos últimos cinco anos, segundo a revista Exame, as melhores empresas para se trabalhar também tem tido, majoritariamente, um melhor retorno financeiro. Destaca-se também nessas empresas um salário médio maior, maior produtividade, maior escolaridade e rotatividade de pessoal menor, além da sensação de justiça e satisfação profissional terem grande destaque na avaliação dos colaboradores. Esse fato se dá porque nessas empresas existe a preocupação para que o indívuo entenda o todo organizacional, mas também percebe-se que essas organizações começam a entender o todo individual. Isso é possível a partir do alinhamento entre os objetivos organizacionais e individuais, resultado da gestão realizada por pessoas que entendem pessoas e por gestores que sabem como é ser gerido.
Já não lhe parece estranho que as organizações ainda estejam gerindo processos e não pessoas?

As tirinhas do Dilbert – reunião para marcar reuniões

Moacir Rauber
O incompetente chefe do dilbert vai até a sua secretária e diz:
– Carol, marque uma reunião com a área de tecnologia para decidir como vamos tomar decisões sobre novas tecnologias.
A secretária, que também não estava entendendo nada faz uma sugestão:
– Não quer marcar uma reunião para decidir como marcar uma reunião para decidir coisas? Talvez seja interessante reunir algumas pessoas para discutir isso.

E o chefe pondera:
– Talvez…

Por isso que as pessoas, muitas vezes, detestam reuniões. Reúne-se para decidir sobre o que se vai decidir, revelando gestores desorganizados, sem uma pauta que marque um início, um meio e um fim. Fim de tempo e de objetivo.

E na sua organização, como vão as reuniões? Sabe-se sobre o que se está decidindo?

Nome e sobrenome nas relações de trabalho

Moacir Rauber
O mercado de trabalho tem cobrado das pessoas a manutenção e a atualização constante da rede de contatos, com vistas a uma boa colocação profissional, além de fomentar um melhor desempenho e oportunidades de crescimento profissional. Entretanto há que se tomar cuidado, porque nem sempre quem está na rede é “peixe”, como diria o deputado Romário. Entenda-se “peixe” como uma pessoa do seu círculo de conhecidos nos quais você deposita confiança havendo reciprocidade de sentimentos.
Em termos conceituais, rede de contatos origina-se da palavra inglesa “networking”, tão ou mais comum que o uso da expressão em português. “Networking” é a junção das palavras “net”, no sentido de rede, e “working”, gerúndio de trabalhar, que quer dizer trabalhando. Tem-se assim uma rede de contatos trabalhando para você, garantindo a sua permanência no mercado de trabalho, bem como a possibilidade de mudança e ascensão profissional. Essa rede de contatos pode ser fomentada em reuniões internas e externas, feiras setoriais, eventos ou outras formas de interação social onde as pessoas se conhecem, trocam cartões e informações, criando a sua rede de contatos. Estas se formam muito mais por afinidades de interesses do que por afinidades pessoais. Consegue-se, assim, um grupo de pessoas com experiências complementares em áreas similares, podendo cada um desenvolver os seus pontos fracos e ajudar os outros a desenvolverem os seus. Teoricamente é uma fórmula quase perfeita para ser seguida a risca.
Contudo, há situações em que a rede simplesmente se rompe e aqueles que eram seus contatos desaparecem. No contexto atual, quase todos os profissionais acabam incorporando como sobrenome o nome da empresa na qual trabalham. Normalmente as pessoas se apresentam ou são apresentadas como Fulano da empresa X ou Cicrano da empresa Y. Enquanto essa realidade perdura a rede de contatos funciona perfeitamente. Portas se abrem, convites são recebidos e presentes são comuns no aniversário, no Natal e no Ano Novo. Entretanto, quando ocorre o desligamento de uma pessoa de determinada empresa e ela passa a se apresentar como Fulano, ex da empresa X ou Cicrano, ex da empresa Y, a realidade é outra. Portas se fecham, telefonemas não são atendidos ou respondidos e os contatos da grandiosa rede simplesmente somem. Recentemente ative-me a esse detalhe ao ouvir comentários sobre essa dura realidade num evento do qual participei numa conceituada empresa. Estava junto a alguns diretores quando um deles descreveu determinada situação, Trabalhei a maior parte do meu tempo em empresas multinacionais. Houve, porém, uma situação que foi marcante para mim. Havia me desligado de uma das empresas por discordar diretamente da sua política e estava momentaneamente sem trabalho. Tardou um pouco mais daquilo que acreditava para inserir-me novamente no mercado de trabalho. As contas começavam a apertar. Como último recurso fui procurar uma pessoa que considerava meu amigo, uma vez que frequentávamos um a casa do outro. Telefonei e a secretária atendeu. Apresentei-me e ela pediu para que eu aguardasse. Retornou a ligação dizendo que o meu amigo não estava. Aguardei mais alguns instantes e liguei novamente, com a diferença de apresentar-me com o nome de outra pessoa de uma importante empresa. A secretária passou imediatamente a ligação para o meu “amigo”. Disse-lhe quem estava falando e agradeci-lhe a “colaboração” no momento delicado em que me encontrava, informando-lhe também que estava em frente a sua empresa e havia visto a sua chegada. Esse diretor termina o relato dizendo, A minha rede de contatos havia me deixado na mão!. Outro diretor complementa afirmando que as pessoas e organizações são muito mais fiéis ao CNPJ do que ao CPF. Enfim, a ligação entre os sobrenomes é muito mais relevante do que o nome.
Por isso o cuidado para que a rede de contatos também envolva o nome e que quem esteja na sua rede seja “peixe”. E a sua rede de contatos como vai? Eles têm sobrenome ou apenas nome?

Gestor e gerido: como você está gerindo

Moacir Rauber

Como dito em texto anterior sobre o tema gestor e gerido nós temos diferentes motivações, dependendo da situação na qual nos encontramos. Ora estamos gestores, ora estamos geridos e as motivações também se alternam.
Para isso basta lembrar como nos comportamos quando estamos professores e quando estamos alunos. Mesmo aqueles mais calejados professores quando voltam para a condição de alunos mudam o comportamento, porque as motivações são distintas.
Observando essa condição faz-se a seguinte pergunta:
Você gostaria de ser gerido como gere?

Sim, tem algo que não faço sozinho!

Moacir Jorge Rauber
Muitas vezes quando não conhecemos algo, temos todas as certezas do mundo sobre aquilo.
Numa sexta-feira qualquer estive num churrasco promovido por alguns amigos. Nele estavam as pessoas de sempre, mais um senhor de uns setenta anos que não conhecia. Cumprimentei-o na chegada e percebi que durante boa parte da janta eu estava sendo observado. Terminada a refeição ele se aproximou de mim e disse, “Deve ser muito difícil a sua situação, não é?”. Apesar da interrogação no final da sua abordagem não respondi nada, mas mantive um sorriso armado até os dentes. Como não obteve resposta ele continuou em sua ladainha de misérias que deveria ser a minha vida, porque nada eu poderia fazer sozinho, entre tantas outras desgraças. Deixei-o falar por mais alguns instantes até que me dispus a interagir, já quase desarmado. Expliquei-lhe que, apesar das dificuldades impostas pela limitação física da condição de cadeirante o mundo tem melhorado consideravelmente nos últimos tempos, oferecendo mais comodidades a cada ano que passa. Disse-lhe também que levo uma vida absolutamente independente, citando um período em que vivi completamente sozinho por quase dois anos. Por fim, mostrei-lhe que inclusive posso e saio sozinho conduzindo o meu carro sempre e quando me convém. Arrematei a nossa conversa dizendo, “Tem apenas uma coisa que não faço sozinho, algo que talvez o senhor não faça mais, para a qual prefiro uma companheira!”. Nesse momento ele arregalou os olhos, aguardou um pouco até assimilar as entrelinhas e soltou uma sonora gargalhada. Ele ficara feliz, porque afinal o conhecimento jogou-lhe luz sobre uma situação sobre a qual ele tinha todas as certezas, apesar de não conhecê-la.
Por isso, a ignorância nos gera certezas, as certezas nos conduzem a arrogância e a arrogância nos conduz as limitações de visão e percepção de oportunidades. Por outro lado, o conhecimento nos gera dúvidas, as dúvidas nos geram alternativas, as alternativas nos ampliam as perspectivas que nos proporcionam novas oportunidades e maior conhecimento.

Gestor e gerido: motivações diferentes em situações distintas

Moacir Rauber
Cada indivíduo está exposto a diferentes situações dentro da organização. Dependendo do nível hierárquico, de questões técnicas e de outras inúmeras situações todas as pessoas podem se encontrar na situação de gestor ou senão de gerido. Esta é uma variável que tem sido pouco explorada e pouco considerada em pesquisas, cursos, eventos e palestras motivacionais. Ora sou gestor, ora sou gerido. Melhor ainda, ora estou gestor, ora estou gerido. Mesmo o diretor presidente de determinada organização pode se encontrar na condição de gerido, ainda que contra sua vontade, pois há momentos em que ficará na dependência de situações fora de seu controle para a tomada de decisão, tornando-se gerido. Desse modo, se as motivações são singulares e os indivíduos são únicos, ao se falar de gestor e de gerido, acrescenta-se uma variável a mais nesse cenário. A motivação torna-se, assim, uma questão muito mais complexa num panorama global de valorização das pessoas e suas competências.
Esse cenário não isenta a ninguém da responsabilidade de entendimento do todo organizacional. Pelo contrário, obriga tanto aos gestores como aos geridos a entender e compreender que aquilo que motiva a um pode não motivar ao outro. Com esse entendimento pode-se, mais facilmente, encontrar os pontos que permitam alinhar os objetivos individuais aos organizacionais; compor os propósitos do grupo aos da organização e dos indivíduos; e ajustar as finalidades das áreas aos da organização e das pessoas.
Para poder conduzir o processo desse alinhamento entre os objetivos dos indivíduos e da organização, permeando as diferentes áreas ou departamentos, faz-se necessário entender o propósito final das diferentes partes envolvidas naquela composição. Todas as partes devem entender que os propósitos devem ser únicos, desmembrando-se em finalidades departamentais e pessoais também exclusivos. Só assim pode-se ter uma organização singular, composta por indivíduos únicos, trabalhando em busca de um objetivo organizacional comum e individual exclusivo.
E você, está gestor ou está gerido? Na vida empresarial muitas vezes estou gestor, mas em casa, sem sombras de dúvidas, estou gerido…

Olhando para o passado, inovando no presente e garantindo o futuro

Moacir Jorge Rauber
Ao ler a notícia de que num hotel na Dinamarca as pessoas podem pedalar, gerar energia e ganhar dinheiro, lembrei-me das bicicletas tão comuns nos anos 1950, 1960 e 1970. Naqueles tempos quase todo rapaz possuía a sua bicicleta com um pequeno dínamo movimentado pela pressão do pneu que gerava energia para alimentar o próprio farol. Gerava-se luz e tinha-se autonomia por meio de um processo auto-sustentável. Pode-se afirmar, portanto, que a inovação propagada para a notícia do hotel dinamarquês não é completamente verdadeira, uma vez que a inovação ocorreu na forma de explorar conhecimentos já existentes.
Esse fato pode servir de base para outras situações nas quais ao se olhar para o passado pode-se encontrar situações que nos permitam inovar no presente e garantir o futuro.

O conhecimento que nos emburrece

Moacir Jorge Rauber
O acúmulo de conhecimento pela humanidade tem crescido exponencialmente, notadamente nos últimos séculos, alcançando as mais variadas áreas. Na saúde saiu-se de um mundo de feiticeiros que combatiam espíritos malignos para a penicilina, para a medicina preventiva, para as biociências que conseguiram decodificar o genoma humano. Nas comunicações deixamos um mundo em que as notícias e os fatos demoravam dias, semanas e meses para cruzar o mundo para a virtualidade que, instantaneamente, propaga as informações para todos os cantos do planeta. Nos transportes evoluímos da charrete aos veículos e aviões. Enfim, em todas as grandes áreas que englobam atividades comuns a evolução foi marcante nas últimas décadas, resultado do conhecimento acumulado pelo ser humano ao longo de sua trajetória planetária. Contrariamente, entretanto, o indivíduo que compõe a atual sociedade perde conhecimento numa velocidade nunca vista. Que fenômeno é esse?
Se por um lado a humanidade acumula conhecimento o ser humano individual de forma geral perde. Esse fenômeno ocorre porque o acúmulo de conhecimento se dá com bases tecnológicas em que este fica armazenado fora dos cérebros humanos. Enquanto no passado o conhecimento passava de geração para geração basicamente pela transmissão oral, atualmente o conhecimento é produzido e armazenado segundo convenções metodológicas nos diferentes produtos tecnológicos criados. Antes o conhecimento era dominado em sua totalidade pela pessoa que o transferia. Hoje o conhecimento é gerado por pessoas diferentes, em distintos lugares e é armazenado em tecnologias diversas, assumindo um caráter prático somente quando se junta para uma finalidade.
O resultado é um ser humano incompleto e fragmentado, que se não tiver ao seu alcance a tecnologia que o conecta ao conhecimento não mais sobrevive. As pessoas hoje são diferentes daquelas que formavam as gerações passadas, que eram auto-suficientes e sobreviviam sem dependência de apetrechos tecnológicos que não conseguiam produzir sozinhos. Assim, temos mais conhecimento na totalidade, mas temos emburrecido na individualidade.

Cuida bem do teu paizinho…

Tive o prazer de viver em Florianópolis por um bom período, desfrutando das belezas naturais, do convívio com muitos amigos e do registro de muitas situações cômicas. Minha esposa e eu vivíamos um momento bastante zen e frequentávamos a igreja regularmente. Num domingo, final de tarde, havíamos participado da missa do dia dos pais. Naquele dia entramos na igreja e procuramos um lugar no corredor central, que era mais largo. Ela sentou-se na ponta do banco e eu fiquei com minha cadeira na borda do banco ocupando uma parte de espaço do corredor, embora minha presença ali não atrapalhasse em nada o trânsito das demais pessoas. Ao final da cerimônia sempre acontece um alvoroço das pessoas querendo sair todas ao mesmo tempo. Nós ficamos em nossos lugares esperando que a movimentação maior passasse. Nisso, aproxima-se uma senhora bastante idosa, deslocando-se com muita dificuldade, amparada por uma pessoa mais jovem. Ao passar por mim ela toca no meu ombro e dirige-se para minha esposa dizendo, “Cuida bem do teu paizinho!” Entre um sorriso para ser simpático e os pensamentos indaguei-me mentalmente, “Mas como ela conhece o pai da minha esposa?” A senhora seguiu o seu caminho e eu recebi um aperto na mão e um suave cochichar em meu ouvido, “Oi, paizinho!” Foi então que eu, com minhas sinapses atrasadas, dei-me conta que o paizinho era eu… Na hora fiquei atordoado, mas esse fato continua sendo um motivo a mais para rir até os dias de hoje.
Nunca fale sobre aquilo que você não conhece e evite constrangimentos. Porque quem fala o que quer pode ouvir o que não quer!

Faltou latir

Moacir Jorge Rauber
Entre as idas e vindas nessa vida como cadeirante enfrentam-se situações as mais inusitadas. Algumas engraçadas, outras constrangedoras, mas todas elas fruto do desconhecimento sobre as capacidades e potencialidades de uma pessoa com deficiência. Uma das situações das quais eu mais ri aconteceu num lindo sábado de sol. Por volta das 9h da manhã minha esposa e eu pegamos o elevador no oitavo andar para sair, passear e aproveitar a beleza do dia, além da folga pouco comum. O elevador desceu dois andares e parou. Entrou uma senhora bem idosa, com sua bengala. Cumprimentou-nos e olhou-me demoradamente. Depois dirigiu-se a minha esposa e disse, “Um lindo dia para levá-lo para passear, não é?” Demorei um pouco para entender a frase. Esse “levá-lo” se referia a quem? Olhei para minha esposa e para a senhora e não vi ninguém mais. Nenhum gato ou cachorro. “Caramba, ela falou sobre mim! O cachorrinho sou eu…” Quase deu vontade de levantar as mãos como um cachorro o faria e fazer “au, au…”. Mas limitei-me a sorrir, sair do elevador e aproveitar o passeio para rir sobre a situação presenciada!
Por isso, antes de emitir uma opinião sobre uma realidade que não se conhece deve-se olhar e pensar mais uma vez!

Somos únicos. Somos múltiplos.