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PARA ONDE AINDA FALTA OLHAR?

Fonte: BING IA

Para onde ainda falta olhar?

O evento terminava e a sensação de insegurança frente ao mercado de trabalho, às tendências comportamentais e de negócios era grande. Falava-se do mundo singular, disruptivo e exponencial potencializado pelas tecnologias numa interação homem máquina sem precedentes na história da humanidade. Homens e máquinas, juntos, mais inteligentes. As dúvidas de muitos se referiam a qual caminho seguir. Ao final, um dos participantes expôs a sua indagação, quase indignação:

– Para onde ainda falta olhar? Já não sei mais para onde ir…

Ao escutá-lo tive a impressão de que ele representava a perplexidade de muitos ao tocar num tema para o qual não há uma só resposta. Estamos num momento que exige de nós cada vez mais a capacidade de estar abertos a aprendizagem, sabendo que todos ensinamos com aquilo que fazemos ou deixamos de fazer. Por isso é fundamental que estejamos dispostos a olhar para todas as direções com a Curiosidade de uma criança; com a Coragem de um guerreiro; e com a Confiança de um sábio para se Intra-gerenciar. O que fazer? Desenvolver as competências técnicas e de comportamento.

Acredito que desenvolver as competências técnicas é a parte mais fácil, porque basta observar o ambiente em que se circula e seguir o movimento. Por isso, olhe para frente e observe quem está na liderança de sua área. Quais são as tendências? O que eles estão fazendo de bom que você ainda não faz? Aprenda, ajuste e gerencie melhor. Olhe para os lados, perceba o que está acontecendo a sua volta. O que você pode aprender de quem está ao seu lado? O que você ensina para aqueles que estão a sua volta? Compartilhe, aproprie-se e cresça. Olhe para baixo e veja se há alguém por ali. Não deve haver ninguém embaixo de você, porque gerenciar é andar com os outros e não sobre os outros. Olhe para cima e entenda que a nossa atividade está inserida num contexto maior. Gerenciar também é ampliar a visão. Por fim, olhe para trás para saber se ficou alguém por lá. O que aconteceu? Analise os motivos e saiba que a vida organizacional não é uma competição, ainda que sejamos competitivos ao entregar o nosso melhor.

As competências citadas são externas e a isso chamamos gerenciar. Porém, para intra-gerenciar para onde ainda falta olhar? É preciso olhar para dentro de si tendo a Curiosidade como combustível; a Coragem como motor; e a Confiança como atitude.

E quais são as competências para se intra-gerenciar? Ao olhar para dentro de si é possível encontrar as respostas para as nossas inseguranças, assim como as competências para saber a direção do caminho. Isso requer um mergulho dentro de si para se despir de medos que embotam a curiosidade; de preconceitos que acovardam a coragem; de julgamentos que anulam a confiança. Só assim para se despir do desamor e se vestir de amor, levando-nos a despir-nos da tristeza e a vestir-nos de alegria; a despir-nos de ressentimentos para vestir-nos de paz; a despir-nos da impaciência para vestir-nos de paciência; a despir-nos da animosidade para vestir-nos de amabilidade; a despir-nos da deslealdade para vestir-nos de lealdade; a despir-nos da volubilidade para vestir-nos do domínio próprio. Enfim, apresentar tais competências permite que se externalize o mergulho interior e se intra-gerenciar para, finalmente, gerenciar.

Não se trata de utopia. O desafio é introjetar para depois projetar, porque somente se põe para fora aquilo que se tem dentro. Com a competência de intra-gerenciar as demais competências surgem naturalmente, inclusive para saber para onde olhar. Ao dedicar-se a intra-gerenciar elimina-se a incongruência de atuar no ambiente externo sem carregar tais competências no ambiente interno. Portanto, uma pessoa convencional olha para frente, para os lados, para cima, para baixo e para trás para ir em frente. Aquele que se Intra-gerencia olha para dentro com curiosidade para libertar o Ser Humano extraordinário com a coragem e a confiança para seguir na melhor direção.

Intra-gerenciar faz sentido para você?

Moacir Rauber

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POR QUE É TÃO BOM ESTAR COM AS CRIANÇAS?

Por que é bom estar com as crianças?

Estava no restaurante do hotel para tomar café. Pego um suco, algumas frutas, um iogurte e também um pão de queijo. Ao lado, havia um menino de aproximadamente oito anos que me esperou para depois se aproximar do prato. Ao estender a sua mão para apanhar um, ele me olhou e perguntou:

– Você gosta de pão de queijo?

Fiquei surpreso com a naturalidade e a espontaneidade do menino. Logo respondi divertido com a situação:

– Sim, eu gosto muito! E você, gosta de pão de queijo?

O menino me escutava atentamente com um sorriso no rosto de quem estava por desfrutar de um grande prazer antecipando o deleite que aquela guloseima traria. Afastei-me e voltei para a minha mesa com uma sensação de alegria no coração e de algumas reflexões na cabeça. Perguntei-me: por que é tão bom estar com as crianças? Não sei bem, mas creio que é porque eles nos permitem resgatar a criança que habita em cada um de nós, conectando-nos com a nossa essência que está carregada de atenção, curiosidade, abertura, encantamento e justiça (Pedro Opeka).

Uma criança presta atenção naturalmente nas conversas que mantém. Isso estava claro em como o menino interagiu comigo naquele curto espaço de tempo. Ele não estava pensando nas possíveis mensagens que entrariam em seu celular. O menino estava 100% presente na conversa comigo. Você consegue ficar presente nas suas conversas?

Uma criança tem uma curiosidade instintiva para explorar o mundo e suas possiblidades. Em sua cabeça estavam as sensações do paladar que viriam com o degustar do pão de queijo, além da curiosidade natural na conversação com um adulto. Problemas? Não, ele somente via a possibilidade de exploração de algo novo. A curiosidade era o seu motor. O que move você?

Uma criança tem a abertura genuína de se conectar com o outro. A sua abordagem revelava essa abertura, porque ele não se importava de eu ser um cadeirante ou não. Olhava com curiosidade para a cadeira, mas via a pessoa que estava nela sem julgar. Você observa sem fazer juízos de valor?

Uma criança traz no olhar o encantamento das descobertas que se sucedem no dia a dia. Um pão de queijo, uma conversa com outra pessoa e as maravilhas que o mundo proporciona a cada nova experiência. Com o que você ficou maravilhado no ano que termina?

Uma criança tem de forma inata o senso de justiça. Esperou a sua vez e cumprimentou com naturalidade. Certamente que isso tem a ver com a família na qual está crescendo esse menino, que reforçou o lado bom que trazemos na nossa concepção. O mundo pode não ser justo, mas você pode ser!

Enfim, na minha mesa do café da manhã com a minha esposa indagávamos: por que perdemos essa alma de criança? Em que momento da vida nos distanciamos daquilo que é essencial? Qual a razão que nos leva a ser adultos, muitas vezes, pomposos e pretensioso ocultos por detrás de papéis sociais? Como, por vezes, somos arrogantes e soberbos congelados por dentro? Não sei a resposta, mas sei que naquele dia, o contato com aquele menino resgatou a minha alma de criança. Respondi a ele com a naturalidade e a espontaneidade de uma criança.

Ria da situação com a minha esposa. Alguns minutos mais tarde vejo que o menino e a sua família se levantaram para sair. O menino fez o caminho próximo da nossa mesa e na passagem por nós disse “Tchau e Feliz Natal!” Igualmente desejamos um Feliz Natal para ele e a sua família. Seguia completamente surpreso com o resgate da minha naturalidade; plenamente consciente da existência do menino em mim; totalmente maravilhado com a vida e as suas possibilidades. Por fim, observar as crianças e como elas estão maravilhadas com o mundo pode nos dar a dimensão de uma vida plena nesse Natal, que é marcado pela chegada de um Menino que mudou a história da humanidade ao dizer, “Ame ao próximo como a si mesmo” (Mt, 22, 39). Esteja perto desse menino!

FELIZ NATAL EM 2023!

Moacir Rauber

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Inspirado: Romina Perluzky

Tomar sorvete e levar susto de carro

Tomar sorvete e levar susto de carro

Nasci e me criei na roça, com muito orgulho. Ser agricultor me dava prazer, mas não impedia de sempre ouvir umas piadas dos amigos que moravam na cidade. Diziam eles que os agricultores somente iam à cidade para chupar picolé e levar susto de carro. Essa teoria se explica. Até o final da década de setenta a maioria dos colonos não tinha energia elétrica e as pessoas tampouco possuíam carros. Mesmo aqueles que dispunham de tais luxos tinham em sua rotina poucos encontros com pessoas que não fossem do círculo familiar e não consumiam muitos dos produtos comuns para quem morava numa cidade. Muitos agricultores iam uma ou no máximo duas vezes ao mês para cidade e nessas idas encontravam mais novidades que os curiosos olhos podiam acompanhar. Com isso, a cabeça girava para todos os lados para poder admirar uma casa linda, um edifício enorme, pessoas bem-vestidas e carros, muitos carros. Eram carros novos, velhos, bonitos e feios, uma imensidão de variedades. Assim, muitas vezes ao cruzar a rua os olhos se dirigiam para o lado contrário ao fluxo de veículos, que resultava em frequentes quase atropelos e muitos sustos. Ao finalizar o dia de aventura na cidade, antes de retornar para casa, invariavelmente se comprava um sorvete ou um picolé, afinal, esse era um prazer de que não se podia usufruir na roça.

Esse sujeito que se admira com as novidades, com diferentes costumes, impressionando-se, espantando-se e apaixonando-se pela vida continua muito vivo em mim, apesar de já de ter deixado a roça há um bom tempo e circulado por muitos lugares exóticos deste nosso pequeno grande mundo. Lembrei-me desse período da minha vida com muita força recentemente. Numa saída de casa passeando com minha cadeira de rodas pelas redondezas, fiquei zanzando e admirando a beleza dos jardins e das ruas, além de observar as pessoas caminhando pelas calçadas, muitas delas ensimesmadas. Tantas coisas acontecendo que não conseguia prestar atenção em tudo. A cabeça continuava girando, ansiando por ver coisas que não havia visto ou situações não presenciadas, resultado daquela curiosidade nunca completamente saciada oriunda lá da minha infância e adolescência agrícola. Às vezes eu ia bem devagarzinho, outras acelerava minha cadeira de rodas. Numa dessas aceleradas, com os olhos buscando algum detalhe antes não percebido, as pequenas rodas dianteiras da cadeira se toparam com uma saliência na calçada. Foi um impacto e um tombo. A cadeira parou, mas eu deslizei para frente, estatelando-me no chão. Antes que eu a pudesse segurar ela correu para trás, distanciando-se uns cinco metros de mim. Lá estava eu esparramado na calçada sem alcançar a minha cadeira. Nisso vem uma mulher completamente distraída, mexendo em seu celular e chupando um picolé. Ela aproximou de mim a minha cadeira e me ofereceu um picolé.

A curiosidade pode nos causar impactos que nos assustam, mas ela nos amplia a expectativa de vida. A curiosidade nos traz conhecimento, o conhecimento nos dá alternativas, as alternativas nos fazem aprender a usar o conhecimento que se transforma em experiência. Por fim, viver é experimentar e para experimentar é essencial ser curioso. Se não se pode viver muito mais do que 80 ou 90 anos é possível experienciar mais. É preciso estar disponível para se assustar. Qual foi o susto que você levou a partir da sua curiosidade? O que você aprendeu? Nada? Então pelo menos se sente e chupe um picolé ou tome um sorvete.

Moacir Rauber

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Inspirado: Anthony de Mello, S. J.

Se não for sobre o outro, por que perguntar? A comunicação precisa de sensibilidade…

O evento havia sido excelente. Os objetivos da semana pedagógica haviam sido cumpridos e eu tive o privilégio de estar no encerramento. Logo após, fomos almoçar num restaurante local. Durante as conversas, descubro que a pessoa sentada ao meu lado era de Guaíra, cidade no Oeste do Paraná próxima da minha cidade natal. Não, ela não era da cidade. Ela disse que havia vivido na cidade com o marido por um tempo. Logo lembrei-me da situação de Guaíra que na década de 1980 sofreu com o fechamento da barragem de Itaipu. A cidade perdeu o seu principal atrativo turístico, as Sete Quedas, fazendo com que muitos habitantes saíssem da região. Foi então que resolvi fazer uma pergunta “inteligente” para ela:

– Isso foi antes ou depois das Sete Quedas ficarem debaixo de água? Referindo-me ao fato de ela ter vivido na cidade.

Silêncio mortal. Ela me olhou incrédula e perplexa. No mesmo instante eu senti a pele do meu rosto pegar fogo. Fiquei incrédulo e perplexo. Uma pergunta completamente descabida que era difícil de acreditar que havia sido feita por alguém que acabara de falar sobre competências de relacionamento, de desempenho e de conduta na comunicação. Por que a pergunta fora tão estúpida? Porque para que a minha nova amiga pudesse ter estado com o marido em Guaíra antes do fechamento da barragem de Itaipu (1982) ela teria que ter, hoje, quase sessenta anos. Ela não era mais uma menina, mas também não tinha a idade implícita na minha pergunta. Por isso a expressão de incredulidade e perplexidade dela, assim como a minha incredulidade e perplexidade com a falta de sensibilidade na pergunta. Nada mais a ser feito. A palavra dita e a flecha lançada não têm volta.

O que pode ser avaliado na interação citada? As perguntas são um elemento chave para manter os canais de comunicação abertos, entretanto elas devem ser feitas com genuína curiosidade, autenticidade e interesse na pessoa a quem a pergunta se dirige. Não foi o caso. A pergunta por mim realizada revela que não havia genuína curiosidade sobre a pessoa a quem eu fazia a pergunta. Entendo que estavam presentes na pergunta o interesse em demonstrar que eu conhecia a cidade, ao vincular nela um fato marcante da região. Dessa forma, tampouco foi uma pergunta autêntica, porque o interesse não estava centrado na pessoa a quem a pergunta foi feita. Naquela situação, revelo-me ainda como um mau ouvinte, porque quando fiz a pergunta tinha em mente que ela “era” de Guaíra e não me recordava que ela dissera que apenas vivera na cidade por um determinado tempo. Por tudo isso, fiz uma pergunta tola e insensível que poderia ter prejudicado a comunicação entre nós.

Tudo isso na minha mente, mas eu continuava frente a frente com a expressão de incredulidade e de perplexidade da minha amiga. Ela com os olhos arregalados. Eu com a face cada vez mais vermelha. Até que ela deu uma gargalhada espontânea que fez com que eu me sentisse menos mal. Depois a situação foi compartilhada com os demais membros da mesa, virando motivo de risadas entre todos. O bom humor da minha amiga salvou-me da minha falta de sensibilidade. Entretanto, mais uma vez, para mim ficou a lição: a pergunta deve ser feita com genuína curiosidade, autenticidade e interesse sobre o outro e não para exibir um pretenso conhecimento de quem a faz.

Se não for sobre o outro, por que perguntar?

Sim, eu quis enfiar a cabeça num buraco…

 

Moacir Rauber

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