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O chefe pode estar ao lado

O grupo de estudantes tomava sorvete logo após o término da prova, aproveitando o calor no início de verão europeu. Eram alunos de graduação e também de mestrado que cumpriam a mesma disciplina. Pessoas de países tão diferentes como Rússia, Irã, Alemanha e Brasil. A faixa etária, aparentemente, variava entre os vinte e os trinta e cinco anos. Eles conversavam animadamente sobre as questões abordadas na prova, os prováveis acertos e erros. 

Um dos colegas começou a fazer algumas perguntas pontuais sobre fonética e transcrição fonética. Logo veio uma resposta de um dos colegas:
– Afff… Detesto fonética. Nem sei se serve para alguma coisa útil… falou com desdém. Não porque realmente detestasse a matéria, mas talvez porque o assunto não lhe havia despertado grande interesse.

Na sequência vem outra pergunta. Agora outro colega responde:
– Hum… Interessante. Fiz alguns experimentos e transcrições no primeiro semestre da graduação. Gostei muito… e falou mais um pouco sobre trabalhos já feitos com a clareza de quem gosta do assunto.
Mais uma ou outra pergunta até que um dos ouvintes indagou:
– Isso é uma entrevista de emprego?
– Hum… É… respondeu o colega que fazia as perguntas. Preciso recrutar alguém para participar do projeto de transcrição fonética do alemão… continuou explicando. Depois disse o nome de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo que patrocinaria o projeto.

O primeiro que havia respondido logo se deu conta da besteira que fizera. Disse em tom de brincadeira:
PQP… não, não… adoro fonética… mas ele sabia que já era tarde.
O rapaz que respondeu de forma interessada e falou com desenvoltura sobre o tema foi o escolhido para o projeto. O primeiro era um mestrando e o segundo, um graduando.

Fica a pergunta: até que ponto sabemos o que sabem os nossos colegas? Encontramo-nos cada vez mais com pessoas de zonas tão diferentes do planeta que não há como saber o conhecimento prévio de cada um. É ainda mais difícil saber quem é quem pela aparência, pela idade ou pelo curso que está fazendo. Há pessoas com um visual bem descolado, mas que estão coladas na grana que um negócio inovador lhes rende. Há outras pessoas estudantes no ensino regular, mas são doutores na prática da mesma atividade. Eles apenas buscam o reconhecimento formal da área. Também há aqueles que parecem tão jovens, mas são incrivelmente experientes naquilo que fazem. Em muitas áreas não é só a universidade que dita quem tem conhecimento ou não. As pessoas é que determinam o quanto querem aprender sobre aquilo que se interessam. O conhecimento está disponível!

Certamente que as universidades têm melhores hipóteses para reunir talentos e permitir que a troca de experiências aconteça num ambiente de crescimento mútuo. Nele são encontrados Professores Doutores que precisam ser Aprendizes, assim como Aprendizes Doutores que poderiam ser os Professores. Não há limites. Nesse ambiente, o aluno certamente é um aprendiz, mas poderia ser um mestre, um doutor ou mesmo aquele que paga os mestres e os doutores. 

Fica a dica: o seu futuro chefe pode estar ao seu lado!
Seja autêntico, não seja burro!

Honestidade: indicador de produtividade

O rolamento da roda traseira da minha cadeira de rodas começou a fazer um ruído estranho. Terei que procurar um lugar para consertar isso… pensei. Havia visto uma bicicletaria a uns quatrocentos metros daqui de onde estou na cidade de Tübingen na Alemanha. Explicar a situação em português seria fácil, agora em alemão não vai ser bem assim. Por isso, havia procurado a palavra “rolamento” na internet e treinei uma ou outra frase de interação. Pelo menos o essencial eu saberia. Fui até lá. Expliquei. O rapaz olhou e disse:
– Não posso fazer porque esse é um rolamento especial desse tipo de cadeira de rodas. O que eu posso fazer é indicar uma loja especializada aqui na cidade… e assim o fez. Foi isso que entendi com o meu parco alemão.

Voltei até em casa e procurei a localização da loja, Hum, mil metros. Posso ir rodando. O rolamento pode pifar de vez, mas vou arriscar…cogitei. Foi o que fiz. Andei pelas calçadas bem cuidadas da cidade de Tübingen com as facilidades que um cadeirante pode imaginar. Ruas limpas. Passeios bem cuidados. Sem meios-fios. Semáforos bem sinalizados. Seria uma “caminhada” prazerosa! Mas tinha um rolamento no caminho. Depois de ter rodado mais ou menos seiscentos metros, senti um tranco mais forte na roda em que o rolamento chiava. A roda travou. Putz, falta cair a roda… Forcei um pouco. Soltou. Parece que voltara ao normal que o estado do rolamento permitia. Segui meu caminho. Agora já se escutava a chiadeira do rolamento a metros de distância. Mais uma ou duas travadas. Finalmente cheguei até a loja. Anunciei-me. O atendente chamou o mecânico. Acompanhei-o até o oficina. O ruído já denunciava o que eu precisava.

Expliquei-lhe dentro das limitações do meu alemão. Transferi-me para uma cadeira de rodas que a loja tinha disponível. O mecânico pôs-se a trabalhar. Dali a pouco retornou e disse que havia mais rolamentos com problemas. Disse-lhe:
– A cadeira já tem sete anos. Caso você queira olhar todos eles seria bom…
– Sim, eu farei. Mas isso pode custar um pouco mais do que aquilo que você pensava inicialmente.
– Não tem problema.

Mais de duas horas se passaram. Finalmente ele havia trocado sete grupos de rolamentos da cadeira. O relógio na parede indicava 18h15min. O caixa estava fechado. Perguntei:
– Como faço para pagar?
– Não se preocupe. Nós enviamos a conta para você. Você poderia colocar aqui o seu endereço?
– Poderei pagar no banco?
– Você também pode voltar aqui.

Conversamos mais um pouco. Logicamente que ele falou dos 7×1 da Alemanha no Brasil. Rimos. Ele fechou a oficina e saímos pela porta dos fundos.

Agora com a tranquilidade que os rolamentos novos na cadeira me permitiam aproveitei o passeio de retorno. Passei por um parque, tomei um sorvete e pensei. Pensei muito. Admirei-me. 

Fiquei encantado, Os mecânicos trabalharam por mais de duas horas na minha cadeira. Trocaram sete grupos de rolamentos. Apresentaram-me a conta. Não pediram e não pegaram nenhum documento. Não assinei nenhuma nota promissória. Não dei nenhuma garantia. Eles nunca me haviam visto na vida antes. Sabiam que era estrangeiro. Não há nada que lhes garanta que eu vá pagar, a não ser a crença de que se eu fui até eles e pedi para fazer o serviço é porque eu vou pagar. 

Continuava a pensar, Não deve lhes passar pela cabeça a hipótese de alguém se dirigir até eles com a intenção de não pagar pelas peças e pelo serviço solicitado. Algum brasileiro pensaria diferente? Claro que não…

Depois disso ainda pensei sobre a diferença de produtividade nesses países com relação ao Brasil. Veja bem. Eles não gastaram nem tempo nem energia com a possibilidade do não pagamento. Custos que no Brasil nós temos. Eles não gastaram nenhuma taxa de consulta ao SERASA ou ao SCPC. Custos que no Brasil nós temos. Eles simplesmente direcionaram a energia para aquilo que deveria ser: a atividade em si. Honestidade é um grande indicador de produtividade.

Simples ser produtivo, não é?
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tag/dia-da-mentira/

Acredito ainda que a honestidade possa ser um indicador de felicidade, de harmonia e de tantas outras aspirações humanas.

Estrelas e Anônimos: onde está a responsabilidade social e ambiental?

É muito simples fazer um discurso, criar uma propaganda ou produzir um documentário acusando as organizações e todos os outros de estarem produzindo injustiças sociais e ambientais, sem contudo reconhecer que o próprio papel pode ser tão ou mais deletério para a sociedade. 

Continua-se a exigir pouco dos indivíduos da sociedade sobre a sua quota de responsabilidade na situação social e ambiental atual. Exige-se menos ainda dos proeminentes da sociedade, sejam eles cantores, atores, atletas ou empresários de destaque, proporcionalmente ao impacto que causam. Também se cobra pouca ação de quem faz estudos críticos de gestão que apenas apontam a irresponsabilidade social e ambiental alheia. 

Normalmente destacam-se as falhas dos outros, das organizações e sociedade. Porém, os proeminentes e estudiosos esquecem-se de que a grande maioria das críticas são realizadas por pessoas à volta de uma mesa de mogno, tomando whisky 18 anos, jantando iguarias, fumando charutos, viajando em primeira classe e participando de congressos em todo o mundo com recursos públicos, além de terem garantidas as suas regalias de forma vitalícia. 

Quando se fala em hipocrisia na responsabilidade social e ambiental, particularmente acredito que a raiz dela está no indivíduo e não nas organizações, porque não existem organizações sem indivíduos. As organizações são apenas um reflexo daquilo que somos individualmente.
Veja o artigo inteiro:

ESTRELAS E ANÔNIMOS: ONDE ESTÁ A RESPONSABILIDADE SOCIAL? QUAL É A SUA PEGADA SOCIAL?
Pretende-se analisar duas situações e abordagens distintas sobre responsabilidade social de pessoas e organizações. Num primeiro momento comenta-se sobre o documentário Inside Job produzido por Charles Ferguson e narrado por Matt Damon. No segundo momento descreve-se o trabalho de um empresário para doar uma ambulância para uma comunidade no Congo-África. Na sequência exploram-se alguns conceitos de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e busca-se enquadrar os exemplos aos modelos teóricos apresentados por pesquisadores. Na conclusão fica a indagação: onde está a responsabilidade social numa e noutra situação? O que é ser responsável socialmente? Está-se a dar mais ou a receber mais da sociedade? Qual é a Pegada Social individual ou corporativa?
1.       INSIDE JOB
Quem tiver a oportunidade deve assistir ao documentário Inside Job, disponível em http://vimeo.com/39018226, em que os produtores são assertivos nas suas abordagens, fazem entrevistas contundentes e se aprofundam na análise do tema em questão: a perversidade do sistema financeiro e do mercado de ações. Pode ser considerada uma situação constrangedora o que acontece no mercado de ações, em que a especulação é uma atividade aceita, assim como o que aconteceu ao sistema financeiro em 2008, que ruiu levando consigo a economia de milhares de pessoas. Considere-se que não faltaram alertas de economistas e analistas independentes para que se tomassem medidas que poderiam ter evitado o fato ocorrido, mas nada foi feito por aqueles que poderiam fazê-lo. Desse modo, o documentário Inside Job faz uma crítica agressiva àquilo que ocorreu, posicionando-se como um juiz de pessoas más integrantes do sistema financeiro e do mercado de ações que prejudicaram a sociedade em benefício próprio. Durante o documentário percebe-se esse posicionamento analítico e crítico para que eventos como esse não se repitam, expressando a preocupação de pessoas socialmente responsáveis. São críticas pertinentes, mas refletem um trabalho relativamente fácil ao anallisar um evento depois de que ele tenha ocorrido. Além disso, ao analisar mais detalhadamente quem produziu a crítica e mesmo quem narrou o documentário pode-se fazer outra reflexão. Quem é Charles Ferguson, o produtor? Quem é Matt Damon, o narrador?
Nos dias de hoje, Ferguson é o proprietário da Representational Pictures, especializada do filão de documentários críticos que tem sido um mercado altamente lucrativo. Antes disso ele foi consultor da Casa Branca nos anos 1980, período em que construiu sua rede de contatos de pessoas que circulam nas altas esferas do poder. Depois disso, em 1994, Ferguson fundou a empresa Vermeer Techonologies que criou o FrontPage, vendida dois anos depois para a Microsoft por 133 milhões de dólares. Certamente esse dinheiro teve origem do mercado de ações e também do mercado financeiro. Aqui pode-se fazer uma observação um pouco cáustica. No momento em que Charles Ferguson apropriou-se da sua parte desse dinheiro não deve ter-lhe ocorrido nenhuma crítica a WallStreet ou ao mercado financeiro. Da mesma forma, quando a Sony Pictures patrocinou parte do documentário, Charles Ferguson não percebeu nenhum choque de interesses que o impedissem de aceitar o dinheiro. Entretanto, não se tem notícia de que Charles Ferguson tenha recusado dinheiro com origem tão duvidosa (Wikipedia Inside Job Film, 2010).
E Matt Damon, quem não o conhece? Um ator hollywoodiano anualmente presente na grande maioria das salas de cinema de todo o mundo, tendo recebido em média 10 milhões de dólares por filme realizado na última década. Dentro das salas de cinema, certamente, tem pessoas que poderiam viver várias vidas sem jamais ganhar o que Matt Damon ganha para fazer um filme. No documentário ele é o narrador e Charles Ferguson comenta numa entrevista televisiva que “ele fez um grande desconto no seu cachê…”, passando a imagem de que ao fazê-lo tenha prestado um relevante serviço para a humanidade num gesto de responsabilidade social (Charlie Rose Interviews Charles Ferguson).  O documentário levou o Oscar em 2011.
2.       UM EXECUTIVO
A entrevista foi feita com o proprietário de uma empresa que desenvolve soluções para a diminuição da poluição gerada pela indústria química, mineira, cimenteira, cerâmica e de fundição. Atende o mercado português, alguns países na Europa, na América e também na África. Trabalha diariamente mais do que as horas de um trabalhador padrão. Há dez anos instalou os seus equipamentos numa indústria de uma cidade do Congo na África Central. No período em que esteve na região pode ver a realidade das famílias dos trabalhadores da indústria, assim como da comunidade em geral. A precariedade dos serviços públicos com relação a saúde chamou-lhe a atenção. Constatou a mortandade de mulheres da região no momento do parto por falta de transporte, porque muitas vezes não chegavam a tempo ao hospital. Nos dias de hoje ele não faz vendas para aquela região, mas a sensação de obrigação de fazer algo a mais “pelas gentes” sempre se manteve. Pensou então que poderia enviar ao hospital daquela comunidade uma ambulância para ajudar no atendimento dos mais carentes. Começou a a articular, visitando os principais organismos humanitários para que avaliassem a hipótese de enviar uma ambulância para aquela comunidade. Não foi atendido, porque todas elas têm suas próprias necessidades e terminavam por pedir-lhe colaboração. Entretano, o executivo tinha em mente uma comunidade específica com pessoas que ele sabia serem reais. Acompanhou o desmanche do Hospital São Marcos de Braga, onde ele arrecadou um contentor de materiais que não mais seriam usados nas novas instalações e enviou-as para o Congo. Eram cadeiras de rodas usadas que seriam descartadas que no Congo tinham serventia. Essa constatação deu-lhe ainda mais motivação para enviar a ambulância. Aproximou-se de algumas corporações de bombeiros e encontrou uma ambulância que já tinha mais de quinze anos de vida, não podendo mais ser usada em território português. Deslocou-se até o local para avaliou-a e acreditou que estava em boas condições de uso. Providenciou uma reforma externa, com pinturas e adesivamento com as inscrições em francês. Fez uma reforma interna, com a revisão de todos os equipamentos que integravam a ambulância. Adquiriu pneus novos e finalmente a ambulância está pronta. Mas ainda faltam os documentos de envio e também os recursos para o transporte que beiram os cinco mil euros. A ambulância deverá ser despachada por navio. Também há a necessidade de enviar um bombeiro especializado para dar formação para que as pessoas do local saibam usar a ambulância e os equipamentos que nela estão. A formação deve tratar de aspectos simples, como quando ligar as luzes de alerta, e complexos, ao ensinar como usar um aparelho desfribrilador. São questões que geram custos. O executivo comentava, Agora eu gostaria de fazer algumas atividades com a ambulância. Levá-la até a escola dos meus filhos, por exemplo, explicar o que isso representa e pedir que cada aluno dê uma pequena doação. Gostaria que eles sentissem o valor de contribuir para que os outros também tenham uma vida melhor… e continuou falando de suas ideias de responsabilidade social. Finalmente, perguntei-lhe, o que você ganha com isso?, sabendo que ele já havia investido muitas horas e também recursos financeiros no projeto e que não fazia questão de que seja publicamente reconhecido por isso. Ele respondeu-me, Se um dia eu souber que a ambulância transportou uma pessoa até o hospital já terá valido a pena.
3.       A PRÁTICA E A TEORIA
Para Matten (2006) a RSC é um acrônimo que dificilmente pode ser evitado pelos gestores e pelas coporações nos dias de hoje. Entretanto, dificuldades são encontradas nas questões sobre aquilo que pode ser caracterizado como RSC. Segundo Votaw (1972), RSC nem tem o mesmo significado para todos, pois para alguns ela  transmite a noção de responsabilidade legal e para outros significa um comportamento de responsabilidade baseada num senso ético. Para outros ainda, o signficado transmitido pela ideia de RSC é de responsabilidade para com os outros num modo causal, enquanto outros a interpretam como uma contribuição ou gesto de caridade. Tem grupos que entendem a RSC como uma maneira de ser socialmente consciente, enquanto muitos que encampam a ideia mais fervorosamente a entendem como um sinônimo de legitimação do sentido de pertencimento. Por fim, segundo Votaw (1972), também há aqueles para quem a RSC é um dever dos homens de negócio, que institui um padrão de comportamento mais elevado, muito mais do que dos cidadãos em geral. Para Garriga e Melé (2004), que citam Carroll (1994), o panorama atual da RSC continua nebuloso, pois entendem que é um campo eclético com fronteiras não delimitadas, variadas associações e perspectivas de formação divergentes. Segundo os autores, trata-se de um campo sem foco pontual, multidisciplinar, interdiciplinar e com uma literatura diversificada.
Na tentativa de agrupar os diferentes corpos teóricos Garriga e Melé (2004) propõem quatro abordagens teóricas sobre RSC. As (i) teorias instrumentais têm foco na busca de objetivos econômicos por meio das atividades sociais, com a maximização do valor para os acionistas. Nessa abordagem, a RSC deve ser usada como uma forma de alcançar uma vantagem competitiva por meio de investimentos sociais em contexto competitivo, estratégias baseadas na visão dos recursos naturais e nas capacidades dinâmicas da empresa. As (ii) teorias políticas têm foco no uso reponsável do poder econômico na arena política. Para isso, trabalha-se com o marketing das causas, constitucionalismo corporativo, a teoria do contrato social integrativo e a ideia do cidadão corporativo. Nessa abordagem, as atividades altruístas devem ser reconhecidas e usadas como instrumentos de marketing, em que a responsabilidade social dos negócios advém do montante de poder que se tem. Também deve-se entender que há um contrato social entre os negócios e a sociedade em que a empresa é entendida como um cidadão com certo envolvimento na comunidade. As (iii) teorias integrativas têm o foco na integração das demandas sociais. Trabalha-se com a noção de gestão dos problemas, responsabilidade pública, gestão dos stakeholderse da performance social corporativa. Nessa abordagem preocupa-se com o processo corporativo como resposta às questões sociais e políticas que podem impactar à empresa, tomando-se a lei e a existência de políticas públicas como uma referência de performance social na busca por equilíbrio entre os interesses dos stakeholders e da corporação. Por fim, procura-se legitimidade social e dos processos para dar respostas apropriadas às questões. E as (iv) teorias éticas têm foco na coisa certa a ser feita para se ter uma sociedade melhor. Trabalha-se numa perspectiva de uma teoria normativa dos stakeholders, com o reconhecimento dos direitos universais e a preocupação com o desenvolvimento sustentável. Também deve ser considerado os direitos humanos, direitos laborais e respeito ao meio ambiente, além de uma preocupação com o desenvolvimento presente e de futuras gerações.
São agrupamentos teóricos que também não exibem um limite muito claro entre um e outro quando avaliadas as práticas organizacionais ou individuais de RSC.
O tema da RSC ganhou relevância a partir do livro de Howard R. Bowen de 1953, que abordava a responsabilidade social nos negócios, segundo Matten (2006). Este autor também afirma que Archie Carroll é a maior autoridade mundial quando o tema RSC, propondo conceitos e um modelo com quatro aspectos interrelacionados. Segundo Matten (2006), uma definição de Carroll prevê que a RSC deve abranger as expectativas econômicas, legais, éticas e filantrópicas dirigidas pela sociedade às organizações num determinado ponto no tempo. Na definição se encontram os quatro aspectos considerados relevantes na RSC segundo Carroll, que estão expressos na Figura 1.

Figura 1: Carroll (1991) Modelo de quatro partes de responsabilidade social (Fonte: Matten, 2006).

Na base pirâmide está a responsabilidade econômica de uma organização, que é algo exigido pela sociedade e que sustenta as demais partes da responsabilidade social, segundo os autores. A responsabilidade legal é a segunda camada da pirâmide e também é uma exigência da sociedade, uma vez que se espera que as corporações cumpram as regras do jogo. A responsabilidade ética aparece como sendo a terceira camada da pirâmide, uma vez que a sociedade espera que a corporação seja correta, justa e equitativa, ainda que a lei não o exija. E no topo da pirâmide aparece a responsabilidade social filantrópica que inclui todas as questões relativas a melhoria de qualidade de vida dos colaboradores, da comunidade local e contribuam para a construção de uma sociedade melhor.
A seguir pretende-se relacionar as ideias presentes nos grupos teóricos proposto por Matten (2006) e nos conceitos e no modelo proposto por Carroll de RSC para as duas situações expostas.
3.1.      As estrelas e a RSC
Ao analisar o documentário Inside Job percebe-se que ele foi produzido porque houve uma demanda da sociedade dirigida às organizações para que se tivesse uma resposta para os problemas oriundos do sistema finaceiro e do mercado de ações enfrentados pela sociedade, segundo Carroll citado por Matten (2006). O documentário está situado no tempo e foi produzido em consonância com aspectos legais, éticos, filantrópicos e também econômicos. Porém, ao analisá-lo sob a perspectiva dos interesses, revelados ou não, de quem o produziu pode-se depreender que relativamente ao grupo teórico o trabalho se situa no agrupamento das teorias instrumentais com foco na busca de objetivos econômicos resultante de demanda social, segundo Garriga e Melé (2004). Os objetivos econômicos podem ser encontrados na arrecadação de dinheiro para patrocinar a produção, assim como a arrecadação obtida com a exibição nas salas de cinema pelo mundo. Ainda os objetivos econômicos podem ser encontrados na exposição midiática alcançada pelo documentário, por meio das entrevistas, participações em eventos e premiações personificadas no produtor. Da mesma forma, o narrador que fez um desconto no seu cachê desfruta do retorno econômico da valorização de sua imagem pela associação com um trabalho de responsabilidade social. Conforme o modelo de Carroll, o documentário encontra-se na base da pirâmide como uma ação de responsabilidade social, com viés econômico na ótica de quem o produziu.
A situação se repete quando um grupo de famosos, sejam eles cantores ou atores, reúnem-se para fazer um espetáculo sem cobrar cachês e destinar o dinheiro arrecadado para fins humanitários, acreditando-se como ação de responsabilidade social. O que fizeram tais artistas? Qual o investimento econômico feito? Numa perspectiva econômica, caso cada um desses artistas destinasse vários anos daquilo que muitos deles ganham para fins de ações de responsabilidade social representaria muito menos do que aquilo que gastaram as pessoas que foram assistir ao espetáculo beneficente. Os recursos finaceiros destinados para as ações efetivas saíram dos bolsos daqueles que assistiram ao concerto, muitas vezes representando o equivalente a um, dois ou dez dias de trabalho. A falta desses recursos no orçamento final dessas pessoas representa muito mais para a sua sobrevivência do que representaria vários anos sem receber por concertos na vida de artistas de topo. Desse modo, qual foi a responsabilidade social de Charles Ferguson ou Matt Damon?
3.2.      O anônimo e a RSC
O executivo entrevistado, na sua busca por desenvolver uma atividade de responsabilidade social, investiu esforço, tempo e dinheiro para que algo fosse realizado. Da mesma forma, a ação de doação de uma ambulância atende uma demanda social assim entendida pelo executivo buscando sanar um problema pontual delimitado dentro de um tempo e espaço, conforme o conceito de Carroll citado por Matten (2006). Apesar de ter recebido em doação o veículo foram investidos recursos finaceiros particulares para a recuperação do veículo e para articulação entre as diferentes instituições que se envolveram no projeto, assim como poderia ser monetarizado o tempo gasto nas atividades. Desse modo, acredita-se que a ação de enviar uma ambulância para uma cidade na África possa ser descrita pelas teorias que estão representadas no grupo ético proposto por Garriga e Melé (2004), uma vez que o executivo fez aquilo que acreditava ser a coisa certa a ser feita para construir uma sociedade melhor. Ainda poder-se-ia pensar numa abordagem integrativa prevista pelos mesmo autores uma vez que tem foco no atendimento de demandas sociais. Acredita-se ser esta uma ação de responsabilidade social.
4.       CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise das duas situações, acredita-se que a RS, individual ou corporativa, é fundamental, ainda que tenha um viés econômico e legal antes mesmo de ter preocupações éticas e filantrópicas. Entretanto, acredita-se que o meio acadêmico, organizacional e o conjunto social deveriam avançar na problemática da RS introduzindo alguns questionamentos individuais e organizacionais: quais as ações de responsabilidade social que o indivíduo faz? Quanto o indivíduo dá e quanto recebe da sociedade que integra? Quais as ações de responsabilidade social que a organização faz? Quanto a organização dá e quanto recebe da sociedade que integra? Ao responder as perguntas se poderia chegar a indicadores que apontem quanto recursos cada indivíduo e cada organização está usando em comparação com aquilo que está contribuindo para o meio social no qual estão inseridos. Particularmente, acredita-se que se poderia pensar num indicador da Pegada Social dos indivíduos e das organizações para poder organizar e canalizar as ações de responsabilidade social de forma mais efetiva em benefício de toda a sociedade. Entende-se que sem avançar nessa direção, dificilmente se terá uma sociedade com indivíduos e organizações responsáveis socialmente. Enquanto não forem usados critérios científicos, quantitativos e qualitativos continuará a ser fácil levantar o dedo e apontar que este ou aquele indivíduo ou que esta ou aquela organização estão agindo em desacordo com os interesses da sociedade, inclui-se este trabalho. Continuará a ser simples produzir um documentário acusando organizações, executivos, acadêmicos e todos os outros de estar produzindo injustiça, sem contudo reconhecer que o próprio papel pode ser tão ou mais deletério para a sociedade. Continuará a exigir pouca responsabilidade de quem faz estudos críticos de gestão que apontam a irresponsabilidade social e ambiental alheia, porém, esquecendo-se de que a grande maioria dos estudos são realizados por pessoas à volta de uma mesa de mogno, tomando whisky 18 anos, jantando iguarias, fumando charutos, viajando em primeira classe e participando de congressos em todo o mundo com recursos públicos, além de ter um salário vitalício de dez mil euros. Quando se fala em hipocrisia na responsabilidade social, acredita-se que a raiz dela está no indivíduo e não nas organizações, porque não há organizações sem indivíduos. As organizações são apenas um reflexo daquilo que as pessoas são individualmente.
5.       BIBLIOGRAFIA
Charlie Rose Interviews Charles Ferguson,  acedido em 06 de junho de 2015.
Deal Book (2010). Peter Lattman interviews Charles Ferguson: The Filmmaker Who Does a ‘Job’ on Wall Street,  acedido em 06 de junho de 2015.
Garriga, E., & Melé, D. (2004). Corporate Social Responsibility Theories : Mapping the Territory Social Responsibility Corporate Theories : Mapping the Territory. Journal of Business Ethics, 53(1/2), 51–71.
Hennigfeld, J., Pohl, M., & Tolhurst, N. (2006). The ICCA Handbook on corporate social responsability. West Sussex: Wiley.
Matten, D. (2006). Corporate Social Responsibility? Background, Reasons and Basic Concepts. In Hennigfeld, J., Pohl, M., & Tolhurst, N., The ICCA Handbook on corporate social responsability. West Sussex: Wiley.
Vimeo. Inside Job < https://vimeo.com/39018226> Acedido dia 03 de junho de 2015.
Votaw, D. (1972) Genius Became Rare: A Comment on the Doctrine of Social Responsibility Pt 1, California Management Review 15(2), 25–31.

Wikipedia Inside Job (film, 2010) acedido em 06 de junho de 2010.

Decisão e ação: sem milagres

Não há como motivar o outro. 
Cada um tem a autonomia para estar motivado ou não.  
Cada um pode escolher o valor que dá ao seu dia no momento em que acorda, na forma como se olha no espelho enquanto escova os dentes. 
Cada um é dono das suas decisões que o levam a realizar as pequenas atividades ordinárias que produzem resultados extraordinários. 
É assim que a motivação e a superação funcionam. 
A primeira é a decisão. 
A segunda é a ação. 
Não há milagre nisso.

Se eu não me aguento, porque é que os outros deveriam fazê-lo?

– Você não cansa de ficar sozinho? Você tá precisando de alguma coisa?
– Não, não. Tá tudo bem comigo. Estou bem mesmo… respondia.

Defrontei-me com essa situação inúmeras vezes nos últimos nove meses em que morei sozinho. Entendia a preocupação das pessoas conhecidas e amigas, mas eu realmente estava bem sozinho. Caso precisasse de algo não hesitaria em telefonar para um amigo ou em bater na porta do vizinho. Entretanto, viver sozinho nesse momento era uma opção.

Não tinha e não tenho problemas em morar sozinho. Naquele momento, tratava-se de um tempo para estar comigo mesmo e ainda assim estar de bem com a vida. Quando estou com as pessoas é porque escolho estar com elas e não porque não consigo ficar sozinho. Para mim, isso se aplica ao cônjuge, aos familiares e aos amigos, porque estar com os outros é uma escolha pelo prazer da companhia e não uma fuga de mim mesmo. 

Se  eu não me aguento, porque é que os outros deveriam fazê-lo?
https://celsofelipe.wordpress.com/2008/page/2/
Mas é muito bom dividir a vida com alguém!!!

Amor não é compromisso…

Com o passar dos anos entendi que o amor não é compromisso, é liberdade. É a liberdade de amar quem você quer amar. É a liberdade de partir e de voltar porque se quer voltar. É a liberdade de ficar em casa ou de sair com os amigos porque a identidade individual permanece. É a liberdade de dizer que ama quando se tem vontade de dizer. É a liberdade de conversar quando se quer conversar ou de dizer, “Agora não dá…”, quando simplesmente não dá. No amor não há lugar para jogos de conveniência. No amor há transparência, sinceridade, amizade, carinho e até sexo. Amor é a rotina do dia a dia. Amor é a falta da rotina numa viagem ou numa mudança de trabalho, de cidade ou de país. Amor é a liberdade de se morar numa cidade enquanto o outro mora noutra. Amor é a liberdade que a confiança em quem se ama nos dá ou a confiança que temos em quem se ama. Amor é a vontade de ver o outro feliz e ser feliz por isso. 
Por tudo isso acredito que amor deve ser compromisso com a LIBERDADE!
Fonte: http://aquelasmulheres.tumblr.com/

A vida é simples ou complexa?

Entendo que a vida é simples e, ao mesmo tempo, complexa. A vida é simples porque quando nós a deixamos fluir as situações se sucedem como deve ser. A vida também é complexa porque nos oferece inúmeras oportunidades nas mais diversas situações. Simples não é simplista. Complexo não é complicado. Nós é que muitas vezes temos uma visão simplista e complicada da vida. E esse nós refere-se a mim e a quem mais talvez se identifique com os medos, fugas, desistências e outras sabotagens que também tenham se feito ao longo da própria vida. Eu fiz muitas!

Na essência, pode-se ter uma vida plena ao entender a complexidade das oportunidades descomplicadas pela simplicidade de ver as coisas como elas realmente são: simples. 

Desistir…

Quem persiste chega lá! 
Porque persistir é sinônimo de luta, de conquista e de vitória. Não é assim que dizem?

E quem desiste? Acredito que saber desistir pode ser um ato de sabedoria. Saber desistir das coisas certas para fazer a coisa certa. Há que se ter sabedoria para isso…